Patrícia Barão
Patrícia Barão
vice-presidente da APEMIP

Escalada dos preços reflete desequilíbrio estrutural na habitação

24/09/2025

No segundo trimestre de 2025, os preços das casas aumentaram 17,2% face ao período homólogo, acentuando a escalada já verificada nos últimos anos. Este crescimento foi mais expressivo nas habitações existentes (18,3%) do que nas novas (14,5%), sinalizando que a pressão da procura continua a recair sobretudo sobre o stock já disponível.

Entre abril e junho, transacionaram-se 42.889 habitações, mais 15,5% do que no mesmo período de 2024, atingindo um valor recorde de 10,3 mil milhões de euros. 

O setor das famílias representou a esmagadora maioria das aquisições (87,9%), ao passo que os compradores estrangeiros reduziram a sua presença em 14,5%, ficando pelos 4,9% do total. Este recuo atenua, ainda que de forma ligeira, a teoria que os estrangeiros são os causadores do aumento dos preços da habitação em Portugal.

No crédito à habitação, observa-se uma evolução ambivalente. A taxa de juro implícita baixou para 3,3% em agosto, aliviando, em parte, o esforço das famílias. Ainda assim, a prestação média manteve-se nos 394 euros, metade dos quais destinada ao pagamento de juros. Nos contratos mais recentes, a prestação já ascende a 651 euros, mais 5,5% do que há um ano. 

Mesmo com descidas marginais nas taxas, o peso do financiamento continua elevado, sobretudo para quem entra agora no mercado.

Do lado da oferta, os sinais permanecem preocupantes. O número de edifícios licenciados aumentou apenas 4,3% no segundo trimestre, uma desaceleração face aos 27,6% registados no início do ano. 

Mais inquietante ainda é a quebra de 15% no número de edifícios concluídos, revelando um desfasamento entre intenção e concretização. 

No segmento da habitação familiar, os fogos licenciados cresceram 17,9%, mas os concluídos recuaram 4,4%, invertendo a tendência positiva anterior. Estes números demonstram que, apesar da procura robusta, a capacidade de resposta em nova oferta habitacional continua limitada.

Paralelamente, os custos de construção mantêm-se em terreno ascendente. Em julho, aumentaram 4,8% face ao ano anterior, com particular incidência na mão de obra (8,9%), num mercado já marcado por carência de recursos humanos especializados. O valor mediano da avaliação bancária atingiu 1.945 euros por metro quadrado, mais 18,7% do que no mesmo mês de 2024, reforçando a perceção de que a valorização imobiliária não se explica apenas pela escassez, mas também pelo aumento estrutural dos custos de produção.

Os dados do INE espelham um mercado onde a procura se mantém dinâmica e a oferta, lenta e insuficiente, não acompanha o ritmo esperado. 

É este desequilíbrio que continua a alimentar a escalada de preços. As medidas recentes do Governo, orientadas para apoiar a aquisição por jovens e reforçar a habitação acessível, são passos relevantes, mas terão de ser acompanhadas por políticas estruturais que incidam sobre a fiscalidades, desbloqueiem o licenciamento, incentivem a construção e garantam maior previsibilidade ao setor. Só assim será possível atenuar uma pressão que, previsivelmente, continuará a condicionar famílias, promotores e investidores.