Com efeito, só no primeiro semestre de 2025, o volume de novos empréstimos para aquisição de habitação disparou 39,3% face ao período homólogo. Paralelamente, a taxa de juro média recuou de 4,51% em junho de 2024, para 3,48% em junho de 2025. Estes sinais confirmam uma procura robusta, mas também um mercado sob forte pressão.
Ao nível da oferta, verificam-se aumentos de 26,3% e 16,6% do número de novos fogos licenciados e de licenças para reabilitação de edifícios habitacionais, respetivamente, até junho deste ano. Estes ritmos de expansão, embora positivos, permanecem aquém da intensidade da procura. Como consequência direta deste desfasamento, a avaliação bancária da habitação registou uma subida de 18,1% em junho de 2025, refletindo uma pressão crescente sobre o mercado imobiliário.
Perante este contexto, o recente anúncio do Governo de “um novo impulso” para a habitação, nomeadamente através de uma linha de crédito de mais de 1.300 milhões de euros com o Banco Europeu de Investimento para financiar a construção de habitação acessível, é uma boa notícia. Contudo, esta decisão administrativa necessita de ser acompanhada de uma estratégia prática que promova não só a reabilitação do edificado existente, assim como a construção nova com recurso a materiais sustentáveis.
Neste contexto, a industrialização da construção — em particular através de soluções como a construção modular ou off-site — surge como uma estratégia fulcral, oferecendo uma resposta estruturada aos desafios da escassez de oferta. Estas metodologias além de encurtarem prazos de execução das obras, permitem aumentar a previsibilidade dos custos, elevar padrões de qualidade e sustentabilidade, atenuando os efeitos da falta de mão de obra qualificada no setor.
Portugal tem de dar um passo em frente rumo a um novo paradigma, inspirando-se em modelos já adotados noutros países da Europa. Neste enquadramento, a industrialização da construção, através do recurso a técnicas e materiais que ofereçam vantagens ao nível dos custos e dos prazos, tem de consolidar-se como uma prioridade estratégica nacional, estruturando respostas aos desafios crónicos da habitação, tornando-a mais acessível.
É neste cenário que, no passado dia 19 de agosto, foi criado, sob a dependência direta do Ministro das Infraestruturas e Habitação, o Grupo de Trabalho para o Estudo da Criação de um Plano Nacional para os Materiais de Construção, no qual a AICCOPN tem a honra de participar. Este grupo representa uma oportunidade única para estruturar uma política integrada que fomente o planeamento, a valorização e a utilização eficiente dos materiais de construção. Entre as suas missões, destacam-se a análise das necessidades estratégicas do setor, a identificação de materiais críticos e a avaliação de soluções alternativas com menor impacto ambiental — medidas cruciais para viabilizar a industrialização e reforçar, de forma sustentada, a oferta habitacional em Portugal.
Os desafios são claros: uma procura em crescimento acelerado, imóveis em valorização contínua e uma oferta insuficiente para atender às atuais exigências do mercado. A resposta exige a conjugação de políticas públicas eficazes, investimento privado e inovação tecnológica. A industrialização da construção e a utilização de materiais alternativos devem ocupar um papel central nesta abordagem, sendo um impulso urgente para colocar rapidamente no mercado o número de habitações necessárias, ao mesmo tempo que se promove a sustentabilidade, a eficiência, a competitividade e a melhoria tangível da qualidade de vida das famílias.