A Inteligência Artificial (IA) entrou definitivamente no mundo dos negócios e do imobiliário, não só para vender, mas também para repensar connosco o que é um produto, um investimento ou um espaço. Pela primeira vez, o algoritmo participa na invenção do conceito. Não como ferramenta, mas como coautor de uma nova forma de criar valor.
A IA passou, em poucos anos, de prioridade estratégica a imperativo operacional. Segundo a Cloudera, 96% das enterprises já integram IA nos seus processos, e mais de metade obtém ganhos mensuráveis de produtividade e eficiência. As organizações mais avançadas não a usam apenas para automatizar tarefas, mas para redesenhar fluxos de trabalho e criar ofertas.
A Goldman Sachs sublinha que a adoção da IA está a gerar ganhos de produtividade de 10% a 15% nos setores mais expostos, com destaque para tecnologia, finanças e manufatura. No entanto, penso que o impacto não se limita à eficiência: a IA redefine as cadeias de valor. Empresas capazes de extrair informação de todos os seus dados estão a desenvolver uma vantagem estrutural em velocidade, personalização e previsão.
Durante décadas, o imobiliário foi visto como uma indústria de transações: comprar, vender, arrendar, avaliar. A IA vem alterar esse paradigma ao introduzir uma dimensão criativa e preditiva. O dado transforma-se em insight; o cálculo, em imaginação. Hoje, é possível cruzar dados de mobilidade, sustentabilidade e comportamento humano para propor novas tipologias de habitação e trabalho, prever o impacto social de um projeto ou simular o desempenho energético de um edifício em tempo real.
Nos private markets, relatórios da Preqin e da Robin AI mostram que a IA acelera processos de fundraising, deal sourcing e due diligence, reduzindo meses a semanas. O setor imobiliário dependente de informação dispersa, beneficiando diretamente desta agilidade.
Considero que a tecnologia deixou de ser apenas instrumento de eficiência para se tornar uma parceira criativa. Um promotor pode gerar, em segundos, múltiplas versões de um edifício, espaços que evoluem e se organizam consoantes a
necessidade. O humano mantém o olhar ético e estético; a máquina oferece amplitude e síntese. Este diálogo é, na minha opinião, o verdadeiro motor da inovação.
A Fullstory resume bem: “AI-powered insights, human-centric results.” A IA mais valiosa é a que torna a experiência mais humana, quando liberta tempo, clarifica escolhas e amplia a criatividade.
Mas esta coautoria exige consciência e critério. O risco não está em deixar a IA pensar connosco, mas em deixá-la pensar por nós. Se a tecnologia for vista apenas como eficiência, teremos mais velocidade, mas não mais visão.
Como alerta a Goldman Sachs, a transição tecnológica poderá provocar ajustes, mas o impacto será positivo. A IA tende a criar mais funções do que destrói, substituindo tarefas, não pessoas. No imobiliário, isso traduz-se em novos perfis híbridos: analistas de dados urbanos, gestores de eficiência energética ou curadores da experiência do utilizador.
Na minha opinião, a verdadeira revolução não será o edifício vendido por um robô, mas o espaço concebido por uma inteligência coletiva. O algoritmo e o humano desenham juntos novas formas de viver, trabalhar e interagir. Nesse futuro, penso que a IA não será corretora nem gestora, mas coautora de um novo conceito de habitar e produzir.