E há mais: Portugal é também o país onde o turismo tem maior impacto no mercado habitacional. Dois indicadores que, juntos, desenham o retrato de um mercado desequilibrado e de uma pressão crescente sobre as famílias portuguesas.
O que estes números traduzem é claro: o preço das casas e o rendimento disponível dos portugueses seguem trajetórias opostas.
Nos últimos dez anos, o valor da habitação aumentou, em média, 10% mais rápido do que os salários. Num país onde o rendimento médio é dos mais baixos da União Europeia, mas o preço das casas está entre os mais altos, o resultado é inevitável, o rácio preço/rendimento coloca Portugal no topo da tabela europeia.
É certo que as médias escondem realidades distintas. Há zonas do país onde os preços são mais equilibrados e ajustados aos custos reais de construção. Mas o fosso entre o valor das casas e a capacidade financeira das famílias é profundo, sobretudo nas áreas metropolitanas. Basta sair alguns quilómetros do centro de Lisboa para ver o preço por metro quadrado cair para menos de um terço do praticado nas zonas mais valorizadas da cidade. Uma disparidade territorial que se traduz em desigualdade social e económica.
A questão habitacional não é apenas um tema de mercado, é um tema de coesão nacional. Num país em que 73% dos agregados familiares são proprietários, o esforço que as famílias enfrentam hoje para comprar ou arrendar é um dos mais elevados da Europa. A pressão sobre os orçamentos é intensa, sobretudo nas grandes áreas urbanas, e está a afastar trabalhadores dos centros dinâmicos. Este fenómeno tem custos reais: reduz a mobilidade laboral, trava a produtividade e fragiliza a coesão territorial.
Perante um diagnóstico tão evidente, a resposta tem de estar à altura. O país não precisa de medidas conjunturais, mas de uma estratégia estrutural.
Precisamos de reforçar a capacidade construtiva nacional, tornando o setor mais competitivo, eficiente e inovador.
Precisamos de modernizar os processos de licenciamento urbanístico, que continuam a atrasar projetos e a encarecer artificialmente o produto final.
E precisamos, sobretudo, de coordenar políticas públicas que envolvam Estado, autarquias e iniciativa privada, com foco em aumentar a oferta, estabilizar preços e devolver previsibilidade ao mercado.
A habitação é mais do que uma variável económica, é uma necessidade essencial e um direito social. A distância entre os rendimentos e os preços das casas não é inevitável; é o reflexo de decisões políticas e económicas que podem (e devem) ser revistas.
O momento é agora e a responsabilidade é de todos.