É inegável que enfrentamos um problema de acesso à habitação. Mas também temos recursos fundamentais: território disponível, know-how técnico, qualidade de vida, custos de construção mais baixos do que o centro da Europa e uma classe empresarial resiliente. O que nos falta? Ambição e visão estratégica.
Estamos a assistir a um middle class exodus, que ameaça desestabilizar as sociedades urbanas europeias. No entanto, Portugal pode ser o destino desse segmento intermédio urbano, europeu e estável, desde que saibamos criar soluções habitacionais adequadas.
Não se trata de "vender o país", mas de reposicioná-lo. Não como um paraíso fiscal ou um retiro turístico. Mas sim como um laboratório urbano e social, capaz de proporcionar um modelo habitacional inovador.
Basta de culpar os investidores, os promotores imobiliários ou os fundos. O que precisamos é de um novo modelo de Parcerias Público-Privadas (PPP) para a habitação, a que lhe chamamos de Habitação 3.0, com as seguintes características: terrenos públicos, gestão privada, contratos de longa duração, rendas indexadas a 25-30% dos rendimentos médios locais, retorno financeiro estável, mas moderado, que seja atraente para fundos de pensões e investidores institucionais, e a aplicação rigorosa dos critérios ESG (ambientais, sociais e de governação), com foco em eficiência energética, materiais circulares e impacto comunitário.
Para sustentar este modelo, Portugal pode contar com o apoio europeu, através de instrumentos como o InvestEU ou o Fundo Social Europeu+. Modelos semelhantes já estão a ser implementados com sucesso na Finlândia, Áustria e em algumas regiões de França. Portugal pode fazer melhor se se posicionar como pioneiro, e não como vítima.
E se, em vez de exportarmos apenas vinho, calçado e sol, Portugal exportasse modelos de habitação replicáveis, que funcionassem em qualquer parte do mundo?
O país tem arquitetos de excelência, engenheiros altamente qualificados, empresas de construção inovadoras e promotores com visão. O que nos falta é que o Estado se assuma como facilitador, e não como obstáculo. É fundamental que o Estado apoie com solo, agilidade regulatória e uma visão de longo prazo. E, mais importante ainda, deve vender esse know-how a nível global.
A habitação pode ser um novo pilar económico para Portugal. Não é utopia: é planeamento inteligente, em escala europeia. Precisamos de deixar para trás o discurso de escassez e abraçar uma postura propositiva. Podemos e devemos ser líderes de uma nova era da habitação: uma era em que a habitação é acessível, ambiciosa, ecológica e exportável.
O futuro da habitação não se resolve com remendos no alojamento local nem com congelamentos de rendas. Resolve-se com urbanismo estratégico, com uma visão europeia e com coragem política.
Se queremos atrair talento, reter jovens e dinamizar o setor imobiliário de forma sustentável, é chegada a hora de deixar de reagir e começar a liderar.