Este envelhecimento estrutural não é apenas um dado demográfico; é um desafio social, económico e urbano de primeira ordem. E, entre todos os temas, a habitação é talvez o mais urgente.
A casa, que deveria ser o espaço da segurança e da autonomia, transforma-se demasiadas vezes, com o passar dos anos, num lugar de solidão, risco e perda de qualidade de vida. A maioria dos seniores vive em imóveis antigos, muitas vezes sem elevador, com barreiras arquitetónicas, custos de manutenção elevados e espaços desajustados à nova fase da vida. O país envelheceu, mas o parque habitacional e as políticas públicas ficaram parados no tempo.
Enquanto isso, o mercado ignora um potencial óbvio. As soluções de habitação sénior continuam a ser residuais, num país onde o segmento cresce de forma inevitável. Modelos como o senior living, o co-housing sénior ou as residências assistidas já são realidades maduras em muitos países europeus. Aqui, faltam incentivos, regulação e visão estratégica para os transformar em opções reais e acessíveis.
Promover habitação ajustada à terceira idade não é apenas uma questão de conforto individual, é uma solução inteligente para todo o sistema habitacional. Muitos seniores, se tivessem alternativas mais ajustadas, seguras e acompanhadas, estariam disponíveis para libertar as casas que ocupam há décadas, muitas delas bem localizadas e com excelente acessibilidade. Essa mobilidade geracional poderia aliviar o bloqueio do mercado e aumentar a oferta para as famílias mais jovens.
Mas envelhecer com dignidade exige mais do que casas adaptadas. Exige cidades pensadas para todas as idades com ruas seguras, transportes acessíveis, serviços de proximidade e comunidades que integrem, em vez de isolar. A reabilitação urbana deve incluir esta dimensão geracional, criando bairros intergeracionais onde o convívio, o apoio e a mobilidade sejam o novo normal.
Se o Governo quer, de facto, resolver o problema da habitação, não pode continuar a esquecer um quarto da população.
As políticas de habitação têm de pensar em todas as fases da vida porque envelhecer é o destino de todos nós, se tudo correr pelo melhor. Criar soluções flexíveis, sustentáveis e humanas é investir na dignidade de quem envelhece hoje e na qualidade de vida de quem virá a envelhecer amanhã.