Crescimento da economia acima de 1% anima perspetivas para o imobiliário

08/03/2023
Crescimento da economia acima de 1% anima perspetivas para o imobiliário

Com os economistas a prever uma subida média da economia em torno dos 1,6% para este ano, a par de um abrandamento da inflação, mantêm-se as boas perspetivas para o setor imobiliário.

No último Almoço-Conferência organizado pela VI e pela APPII, dedicado ao tema “Perspetivas económicas e impacto no imobiliário”, um breve inquérito realizado à sala através do Wooclap deu nota de que mais de metade dos profissionais prevê que o ano termine mais positivo do que começou. 45% afirma ter um sentimento misto, e só 4% acredita que as perspetivas serão mais negras do que no arranque do ano.

Orador convidado deste encontro, o professor e economista presidente do ISEG João Duque destacou que “à medida que o tempo passa, estou mais otimista, e prevejo um crescimento de cerca de 1% para a economia este ano, à boleia do turismo”, setor que tem registado uma boa performance, com janeiro a mostrar indicadores já acima de 2019. Espera, assim, “uma potencial recuperação face ao final de 2022”.

Parte do seu otimismo prende-se com as mudanças da política Covid da China, que deixou de fazer confinamentos e paragens generalizadas de produção, ou com a implementação e estabilização do plano de energias renováveis, que mitiga a crise energética decorrente da guerra na Ucrânia. Calcula que “a economia europeia pode desacelerar sem receção com a subida das taxas de juro”.

Também orador nesta conferência, o gestor António Ramalho destaca que “todas as previsões que se foram fazendo verificaram-se menos negativas do que se esperava, e a capacidade de adaptação é hoje melhor, mesmo ao nível dos resultados das empresas”.

Alerta, no entanto, que apesar do otimismo, a eventual paragem de uma série de investimentos devido à subida das taxas de juro poderá tornar-se num “bloqueio” à economia, e dá o exemplo do impasse na construção do novo aeroporto de Lisboa. Seja como for, atesta “o falhanço das políticas monetárias de taxas de juro negativas”.

Inflação pode rondar 2% a 3% no final do ano

E o especialista recorda que não se pode esquecer que a inflação resulta não só da subida de custos, mas também ajuste de preços e do aumento da procura: “vários setores resolveram aumentar as suas margens financeiras, como os bancos. Ainda vamos descobrir aumentos em vários mercados”, e acredita que a redução da procura e do consumo vão acabar por reduzir a inflação. António Ramalho prevê que, no final do ano, a inflação possa rondar os 2%.

João Duque concorda que a inflação vai descer, até porque a incerteza de expetativas gerada pela falta de produtos e problemas nas cadeias de abastecimento “deixou de existir, e deixa de haver falta de produtos”. Calcula que a inflação desça, para uma média de 5%, chegando eventualmente aos 3% no final do ano.

Taxas de juro: “Estamos a chegar a um patamar estável”

Quanto às taxas de juro, o gestor considera que vão continuar a subir, e que “estamos a chegar a um patamar estável de taxas de juro a 4% e inflação a 9%”, num momento em que “as taxas de juro são anunciadas pela primeira vez pelos bancos centrais”, e as antigas políticas monetárias “não vão voltar”. Consequentemente, acredita, o imobiliário “terá de restruturar o seu modelo”. Um mercado que deverá estabilizar “e até verificar alguma descida”, principalmente no próximo ano.

António Ramalho chama também a atenção para a importância de observar as taxas de longo prazo, que “definem o padrão” das taxas de juro, e que têm estado “renitentes”.

Banca continua disponível para o crédito

Na opinião de António Ramalho, “a banca nunca esteve tão bem”, registando maior resiliência que em momentos difíceis anteriores, e com níveis de crédito malparado baixos, mantendo assim a sua capacidade de dar crédito, e “sem histórico negativo recente”.

Mas não deixa de alertar para dois indicadores menos positivos, nomeadamente a grande descida dos depósitos de particulares no último mês, que mostra que as famílias estão a usar as suas poupanças, ou o aumento do desemprego, o que “pode levar a uma redução do consumo”.

Grandes desequilíbrios no mercado da habitação deverão manter-se

Questionado sobre os possíveis impactos do contexto económico no mercado imobiliário, João Duque distingue duas realidades, impulsionadas pelos clientes residentes e não residentes. “Teremos sempre a descoberta de novos mercados, como mais recentemente o americano, por exemplo. Mas temos muito mais dificuldades no mercado doméstico”, que enfrenta menor poder de compra e também mais restrições ao financiamento.

António Ramalho identifica “razões técnicas para descidas de preços”, porque a habitação domina a oferta do mercado imobiliário, e “é muito difícil equilibrar-se”. A grande procura tem pressionado os preços em alta, e recorda que a última década teve a construção de nova habitação praticamente parada. Mas, pela positiva, Portugal tem hoje menos encargos com a habitação ou menos incumprimento face aos restantes países europeus.

Seja como for, para o gestor “o imobiliário continua a ser muito interessante, e o valor do mercado tem sido muito consequente. Continua a ser um dos investimentos mais estruturados do mercado português”.

Pacote “Mais Habitação” não é bem visto

Questionados num outro inquérito sobre o novo programa “Mais Habitação”, apresentado pelo Governo, os presentes mostraram-se maioritariamente contra as novas medidas, (83%), e só 3% considera o pacote positivo.

João Duque considera que o levantamento sobre a situação da habitação no país não foi devidamente apresentado antes da apresentação das medidas para a resolver. “Não estávamos à espera de medidas tão radicais como em tempo de guerra, e não percebo a base das medidas propostas, numa área de grande sensibilidade, que é a do património. Seria necessário ouvir e falar com as várias entidades, este pode ser um jogo político muito caro”. Identifica algumas medidas positivas, mas espera que algumas medidas “não se venham a verificar”.

António Ramalho considera que seria preferível a intervenção em segmentos e setores específicos, por exemplo na aquisição de casa própria. Os jovens poderiam beneficiar de taxas de juro bonificadas, que acredita que ajudaria nesta situação.