E o erro deve-se a um facto simples. Quase um ano depois, temos em Portugal menos casas, e mais caras, de forma generalizada e em todos os segmentos. Sabemos de antemão que não há soluções que tenham reflexos imediatos, mas no que concerne ao estímulo e interesse da generalidade dos operadores, estas foram as consequências óbvias. E qual foi a origem do erro? Foi pensar que se soluciona o problema da habitação em Portugal reduzindo o preço das casas. Porém, tornou-se óbvio que 73% das famílias portuguesas não estão interessadas em ficar mais pobres. Ou seja, é completamente previsível que essa proposta de empobrecimento não seja bem recebida na generalidade da nossa sociedade. Por outro lado, em fevereiro deste ano, como hoje, o que era indispensável de Norte a Sul do país era o incremento da oferta, principalmente para arrendamento de baixo valor ou de preços controlados. Assim, bastaria que, nessa mesma altura, o Governo tivesse anunciado uma estratégia para aumentar a oferta habitacional neste mercado, a preços significativamente mais baixos ou controlados. Isto teria permitido, seguramente, ter, em vez de polarização, a aceitação da maioria das pessoas.
Também se deve exigir ao Governo alguma capacidade de antecipação. Entre 2010 e 2020, edificaram-se menos 700 mil imóveis do que na década anterior, e nessa década, foram concedidos mais de 600 mil vistos de residência, o que resultou na absorção da oferta de arrendamento de baixo valor no mercado em todo o País, e sem qualquer incremento de oferta perante este crescimento. É preocupante quando vemos insistir e persistir o erro, porque a realidade é que ainda não temos notícias acerca da transição para habitação do património devoluto do Estado, sobre apoio a projetos de promoção com dimensão para arrendamentos a custos controlados, ou qualquer significativa redução fiscal para a construção de habitações novas.
Por outro lado, tivemos notícia de que Portugal já não é a escolha daqueles cuja motivação para investir no nosso país é um visto de residência; de que deixámos de ser um destino para quem tem a motivação de conseguir um bónus fiscal; ou, ainda, de que quem procura iniciativas de empreendedorismo na área do Alojamento Local terá de começar a pensar numa outra alternativa.
Por outro lado, chegou-nos a extraordinária notícia -e aparentemente muito difícil -, de que este ano o Governo vai cumprir a Lei relativamente ao coeficiente de atualização de rendas. Resta assim a esperança do chavão popular que nos lembra que “é a errar que se aprende”.