Patrícia Barão
Patrícia Barão
vice-presidente da APEMIP

O mais recente sonho europeu

04/06/2025

Uma recente sondagem da Expatsi, com mais de 116.000 americanos, coloca Portugal no topo das preferências para aqueles que procuram um destino internacional definitivo.

Os motivos apontados são tão diversos quanto esclarecedores: aventura, crescimento pessoal e profissional, procura por liberdade e segurança e até economia financeira. Num país como os Estados Unidos, onde a polarização política e a violência armada se tornaram problemas persistentes e preocupantes, a tranquilidade e segurança de Portugal emergem como diferenciais competitivos fundamentais.

A este fascínio pela vida portuguesa junta-se ainda um fator decisivo para muitas famílias e profissionais: a combinação perfeita de um clima ameno, qualidade de vida reconhecida e vantagens fiscais atrativas. Este conjunto de atributos coloca Portugal numa posição singular no panorama internacional, especialmente num cenário pós-pandémico, que amplificou a valorização pela qualidade do dia-a-dia, pelo bem-estar físico e emocional e pela tranquilidade pessoal e social.

Contudo, é necessário refletir profundamente sobre as oportunidades e os desafios que este crescente interesse traz ao país. 

O investimento direto estrangeiro (IDE) tem-se traduzido em muitas oportunidades económicas, mas simultaneamente levanta questões prementes sobre a capacidade do nosso mercado imobiliário para responder adequadamente às necessidades de habitação dos portugueses. A crise do acesso habitacional é um tema que persiste na agenda pública e que exige soluções claras, estruturais e eficazes.

Neste cenário, é fundamental otimizar os benefícios do IDE de forma estratégica e sustentável. Melhorar as condições fiscais e regulatórias, para que tragam previsibilidade e eficiência, sobretudo em projetos de reabilitação e intervenção em imóveis devolutos, é uma necessidade. Tais iniciativas têm o potencial de transformar espaços subaproveitados em habitações acessíveis e de qualidade, contribuindo diretamente para aliviar as pressões habitacionais nos centros urbanos mais procurados.

Outro caminho essencial passa pela dinamização do mercado de arrendamento. Programas orientados ao conceito Build-to-Rent, com rendas ajustadas à realidade das famílias portuguesas, têm mostrado resultados promissores noutros mercados europeus, como em Espanha. Em Portugal, essa abordagem pode traduzir-se numa resposta imediata e eficaz à escassez habitacional, ao mesmo tempo que gera uma oferta sustentável e adaptada às diversas necessidades dos cidadãos.

Entramos em junho de 2025 com uma certeza: Portugal está, mais do que nunca, sob o olhar atento do mundo. A procura crescente por parte dos americanos é uma oportunidade para consolidar o nosso país enquanto destino turístico e ponto de investimento, mas principalmente como uma referência mundial em qualidade de vida e sustentabilidade urbana. Cabe-nos agora decidir como queremos aproveitar esta oportunidade.