Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

Previsibilidade deve ajudar a mudar o rumo da habitação

31/05/2023

Essa é de facto a realidade que temos atualmente no mercado e é fácil chegarmos a essa conclusão, olhando para os processos de avaliação de um imóvel.

Ora, quando se procura identificar o valor de uma casa, geralmente, faz-se de três formas: ou se faz com base no método comparativo - comparando os diferentes valores entre as casas que são vendidas, ou com base nos diversos níveis de rentabilidade que uma casa confere -, ou através do método construtivo ou seja quanto custaria fazer determinada casa. Acontece que os preços dos imóveis não podem distanciar-se com significado destes três aspetos.

Por um lado, o valor das casas não pode deixar de ter correlação com a relação entre o seu custo e o rendimento possível. Por outro lado, os valores das casas também não se podem distanciar com significado daquilo que são os custos associados à sua construção, nem a rentabilidade, nem a construção, deverão descer de preço em breve.

Ora, se um imóvel confere, em Lisboa, Porto ou outras cidades Portuguesas, uma rentabilidade que varia entre 3% e 5%, o valor dessa casa não irá distanciar-se abruptamente dessa relação. Por outro lado, quando falamos do método construtivo, temos de ter em conta que os materiais de construção estão cada vez mais caros e a mão-de-obra é um recurso mais escasso, portanto construir não é algo que previsivelmente vá perder valor. Portanto, não há nada que nos diga que construir uma casa vai ser mais barato daqui a um ano do que é agora. Assim, aliando estes três fatores à escassez de oferta no mercado, ficamos com um conjunto de aspetos que corroboram as previsões sobre o mercado português.

Além desta análise, Bruxelas destaca ainda a desigualdade de Portugal, a paragem da descida dos índices de pobreza - e classifica-a como uma “das mais sérias da União Europeia -,” e ainda, o peso que os custos de habitação representam para as famílias.

Apesar disso, começamos já a ver alguns avanços na aplicação de medidas concretas do programa Mais Habitação, como o pagamento de um apoio às famílias mais afetadas pelo aumento das rendas, durante os próximos cinco anos, que nos parecem passos positivos.

É fundamental continuar em frente, com mais construção, com mais investimento, com intervenção do Estado na disponibilização de terrenos, com incentivos fiscais, com o que se revelar necessário para aumentar a oferta imobiliária em segmentos de valor mais acessíveis.