SOLUÇÃO CASA

Reabilitação Urbana, oportunidades para requalificar a cidade

29/06/2020
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Com a pirâmide populacional invertida a reabilitação urbana é o caminho correcto para requalificar o centro das nossas cidades. No caso da loja do Palácio Nacional da Ajuda, esta oportunidade permitiu dar vida nova a um espaço anteriormente não acessível ao público num edifício classificado com Monumento Nacional.

“O Real Paço de Nossa Senhora da Ajuda foi mandado erguer por D. José I (1714-1777) no alto da colina da Ajuda. Este edifício, construído em madeira para melhor resistir a abalos sísmicos, ficou conhecido por Paço de Madeira ou Real Barraca. Substituía o sumptuoso Paço da Ribeira que fora destruído no Terramoto que arrasou Lisboa em Novembro de 1755.

Em 1794, no reinado de D. Maria I (1734-1816), um incêndio destruiu por completo esta habitação real e grande parte do seu valioso recheio.
Coube a Manuel Caetano de Sousa, Arquitecto das Obras Públicas, a tarefa de projectar um novo palácio de pedra e cal, que foi traçado ainda de acordo com as tendências arquitectónicas do Barroco. Este projecto, iniciado em 1796 sob a regência do príncipe real D. João, foi suspenso decorridos cinco anos de construção, quando, em 1802, Francisco Xavier Fabri e José da Costa e Silva, arquitectos formados em Itália, foram encarregues de o adaptar à nova corrente neoclássica.” (Fonte Site DGPC).

O projeto da loja agora em obra é o resultado de um concurso lançado pela DGPC, que foi ganho pela Contacto Atlântico. Após ganhar o concurso o desenvolvimento do projecto de execução aconteceu em estrita colaboração com a equipe técnica da DGPC.

Os edifícios são entidades vivas e ao longo de cerca de 200 anos de vida o palácio foi sendo adaptado para responder às necessidades de operação, é as consecutivas campanhas de construção e projectos para finalizar a sua construção, sendo que a última das quais ainda hoje em curso, é da autoria do Arq. João Carlos Santos Sub Director Geral da DGPC.

O objectivo da intervenção do concurso da loja, foi de uma forma minimalista habilitar o espaço para o programa pretendido respeitando em tudo os valores patrimoniais a proteger.

Não tenho dúvidas que a reabilitação é o caminho correcto para as cidades da Europa, não tenho dúvidas de que vale a pela. Gostaria de ver estes projectos mais acarinhados pela administração uma vez que trazem vida para o centro das cidades onde estão localizados os equipamentos e serviços, reduzem a mobilidade pendular, consolidando o valor do centro.

Noutra perspectiva se nada se fizer os edifícios degradam-se, acabando por cair, e perdendo-se assim o Património Português.

Cada edifício reabilitado traz-me sempre uma enorme satisfação ora vejamos alguns dos nossos exemplos: O Clube Naval em Cascais, integrando-se harmoniosamente com o conjunto da cidadela de Cascais não deixando de ser em grande parte uma obra minimalista e actual; O pastelaria Alcôa na Rua Garret em Lisboa, deu nova vida e visibilidade aos azulejos do mestre Querubim Lapa; O Diário de Notícias, vai permitir a visita ao magnífico fresco “mapa Mundi” de Almada Negreiros; A loja da Massimo Dutti na Av. da Liberdade numa casa apalaçada datada de meados do séc XIX com todo o seu valor arquitetónico integrado transformada numa lojas singular ... e tantos outros.

Quando fazemos projecto de nova arquitetura de escritórios, habitação ou logística, criamos novos espaços, mas quando reabilitamos trazemos aos ombros o peso da história do nosso povo sendo sempre uma enorme responsabilidade.

Não quero terminar sem deixar de saudar todos aqueles que compreendem que é melhor reabilitar e permitir a reutilização dos edifícios, concedendo mudanças de uso, a abertura de vão no piso 0, para permitir a instalação de comércios, a execução de caves, garagens e zonas técnicas, para viabilizar a reabilitação do nosso património com novas funções. Tomando o compromisso de fazer renascer a Cidade.



Autor: André Caiado

É Doutorado em Arquitectura, fundador da Contacto Atlântico Arq. Lda. e especialista em edifícios energeticamente eficientes (green buildings).

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