Escassez de produto disponível limita investimento em Portugal

22/09/2021
Escassez de produto disponível limita investimento em Portugal

Depois de ter tido "um dos melhores anos de sempre" em 2020, com um volume de investimento próximo dos 3.000 milhões de euros; para 2021 as expetativas da Cushman & Wakefield são mais conservadoras, antecipando que a atividade não ultrapasse os 2.000 milhões de euros. O que, a confirmar-se, representará uma quebra de 27% em termos homólogos anuais.

Os números constam no Portugal Marketbeat Outono 2021, apresentado numa sessão que contou com a participação de Paulo Sarmento, diretor de Investimento da consultora.

"Há duas realidades que concorrem para que 2021 não venha a encerrar com um volume excecional de investimento. Por um lado, temos vindo a observar um crescimento enorme da procura conduzida pelos grandes investidores internacionais por duas classes de ativos que praticamente não têm expressão em Portugal: logística e built-to-rent. E, por outro lado, mesmo noutros setores há dificuldade em encontrar ativos disponíveis para absorver os elevados volumes de capital que os investidores já angariaram", explicou o responsável.

Embora remetendo apenas para 2022 um nível de atividade em linha com o observado em 2019 e 2020, o responsável notou que mesmo assim 2021 deverá posicionar-se como o 4º melhor ano de sempre no que se refere ao investimento imobiliário comercial. Além disso, estas estimativas excluem a venda do portfólio Crow (ECS), que a Cushman & Wakefield estima que possa vir a atingir valores perto dos 900 milhões de euros, remetendo-a apenas para o próximo ano. "Se tivéssemos a operação Crow fechada ainda em 2021, teríamos novamente um ano excecional, equiparado ao de 2020 em termos de volume de investimento".

Nesta fase, e para 2022 estão já identificados 1.800 milhões de euros em negócios em diferentes fases de negociação, incluindo o projeto Crow, e aos quais poderão vir ainda a acrescer outros 900 milhões de euros em transações atualmente suspensas, mas que a consultora acredita que podem vir a ser retomadas e concluídas ao longo dos próximos meses. Isto, aliado ao aumento das transações off market sustenta a projeção da Cushman & Wakefield para que se possam novamente atingidos níveis de atividade próximos dos 3.000 milhões de euros no próximo ano.

Yields "não refletem os negócios que poderiam ser feitos"

Garantindo que o interesse dos investidores institucionais internacionais pelo mercado português se mantém, Paulo Sarmento nota ainda que os ativos em localizações prime, com contratos bons e inquilinos sólidos irão dominar a procura nos próximos tempos, por oposição a ativos mais periféricos e com um perfil de rendimento menos estabilizado. Posto isto, e perante a escassez de produto disponível no mercado, este responsável não tem dúvidas que nos próximos meses vamos, sim, continuar a assistir ao crescimento das transações off-market..

"Temos um enorme apetite dos investidores, mas há poucos ativos que estes querem comprar e pelo qual se batem muito", comentou o responsável, revelando ter vindo a acompanhar várias destas propostas de negócio nestes últimos tempos, mas que a maioria acaba por não singrar. Por isso, remata. "apesar das correções que temos vindo a registar, os níveis de yields atuais não refletem necessariamente os negócios que poderiam ser feitos" nesta fase; sendo que é no industrial & logística que estes especialistas identificam maior potencial de valorização nesta fase.