"A logística é tradicionalmente mais fraca em Portugal, mas a verdade é que é hoje um setor particularmente interessante para investir", disse João Cristina, head of country da Merlin Properties, que está a desenvolver a Plataforma Logística Lisboa Norte. O responsável falava na 32ª Executive Breakfast Session, organizada pela APPII via Zoom, dedicada ao tema “What about logistics?”, a primeira vez que este setor justificou uma discussão dedicada neste fórum, sinal da sua maior atratividade.
Sérgio Saraiva, da Baía do Tejo, é testemunha disso mesmo: "É um setor que não sofreu muito, e tivemos até uma ligeira subida ao nível do número de clientes. A atividade não se ressentiu" com a pandemia. João Cristina identifica que "esta ‘desglobalização’ faz com que os operadores repensem as suas cadeias de distribuição". Por isso, a Merlin está "a olhar com muita atenção para este mercado logístico".
Leonardo Peres, diretor da M7 em Portugal, moderou esta discussão em conjunto com o vice-presidente da associação, Hugo Santos Ferreira, apontando que, devido ao crescimento do ecommerce, "a logística tem vindo a sofrer alterações, e as supply chains mais tradicionais têm vindo a ser impactadas pelo seu desenvolvimento tecnológico. O ecommerce veio rasgar a lógica de previsibilidade, e coloca uma pressão adicional nestas cadeias".
Laurent Jayr, Head of Development Spain & Portugal da Panattoni, que se dedica especialmente à operação de edifícios logísticos, atesta que "há cada vez mais apetite dos investidores no mercado em Portugal. São vários os critérios estruturais que nos fazem pensar que o país vive um ‘momento doce’ para o investimento logístico".
Alteração da perceção do risco
"Agora percebemos como não é fácil manter as prateleiras dos supermercados cheias", aponta Paulo Barradas, managing director – Investment & Origination da Norfin. Para a gestora, este é um setor "do qual gostamos muito" e que identifica como "interessante do ponto de vista da gestão".
Borja Oria, managing partner Inv. Bank. Arcano Partners, também salienta que "a perceção do investidor mudou de arriscado para estável. Fundos que tinham antes outros focos, olham agora para a logística. É um segmento onde a qualidade do ativo é especialmente importante, assim como a qualidade do inquilino. A robotização e as novas tecnologias empurram também os ativos para uma maior valorização, e assiste-se assim a uma maior compressão de yields".
Rendas terão de subir para suportar nova oferta mais qualificada
Neste debate, Volkert Reig Schmidt, managing director do grupo Novo Banco Real Estate, partilhou que o banco é "relativamente novo na exploração logística", mas identifica que "há muitos ativos com pouca qualidade, e ainda é difícil ganhar dinheiro com este setor em Portugal. É preciso encontrar produto certo, de boa qualidade, quando muitos ativos existentes não se adaptam à robotização, não têm pé direito alto, ou não cumprem os critérios urbanísticos".
Assumindo este como um mercado especialmente interessante para a empresa, Sérgio Xisto, administrador DST, destacou que "os edifícios são hoje menos rígidos, com alturas superiores a 30 metros, o que tem também outros custos, além de novas exigências de sustentabilidade".