Quem o diz é a consultora Savills, que revela ainda no seu relatório mais recente intitulado “Savills Spring 2020 European Office Outlook” que esta dinâmica de volta aos ativos core foi mais evidente nos mercados do Reino Unido, da França e da Alemanha. Só estes países representam 73% do total de transações, um valor 10% superior ao registado o ano passado.
Esta dinâmica do mercado, "como parte de uma mudança para o core, prevemos que a proporção de atividades além-fronteiras diminua em relação aos anos anteriores, principalmente da capital da Ásia-Pacífico, onde observamos níveis sem precedentes de investimentos nos últimos anos. Prevemos que isso vá afetar os mercados do sul da Europa e da Europa Central e Oriental (CEE), que são mais dependentes de capital transfronteiriço do que os da Europa Ocidental", explica Mike Barnes, Associate in the European research division da Savills.
E acrescenta ainda que "a fuga para os principais mercados é um tema em que esperamos progredir ao longo deste ano, à medida que os mercados se ajustam à incerteza. Dito isto, o peso das transações comerciais a que assistimos nos últimos anos significará que a sensibilidade dos investidores aos preços vai aumentar à medida que surgirem novas oportunidades de compra", assume Mike Barnes.
Ocupação dá sinais de abrandamento
Embora no início do ano tenha arrancado em boa forma, o mercado de escritórios europeu dá os primeiros sinais de abrandamento, especialmente, nos níveis de ocupação. Foram ocupados 2.1 milhões de metros quadrados só nos primeiros 3 meses do ano, um valor 21% inferior à média dos últimos 5 anos para este mesmo período. Este valor pode ser explicado pelos baixos níveis de ocupação registados em grandes cidades europeias, como é o caso de Paris, (- 37%), e de Madrid (-47%).
Mas note-se que o nível de ocupação neste período é "frequentemente influenciado pelas transações concluídas durante o quarto trimestre do ano anterior", além de que este ano a ocupação foi excecionalmente limitada por alguns bloqueios governamentais gerados pela pandemia.
Estes dois fatores vão igualmente ditar os resultados do segundo trimestre deste ano, antevê a consultora. "Espera-se que o segundo trimestre de 2020 sofra as consequências do impacto da pandemia de Covid-19 no setor de arrendamento de escritórios em toda a Europa, com muitas visitas adiadas e os especialistas incapazes de procederem a diligências técnicas nas propriedades", lê-se no comunicado.
Para os finais deste ano, espera-se que o crescimento médio do arrendamento de escritórios nas cidades europeias caia 0,6%, um valor inferior ao previsto no final de 2019: +3,8%.
Sobre estes dados, Rodrigo Canas, Associate Director do Departamento de Escritórios da Savills Portugal explica que "é natural que a situação vivida por todos tenha provocado uma quebra significativa na absorção de escritórios. O facto de ter existido um confinamento obrigatório praticamente em todo o Mundo, juntamente com a adaptação das empresas ao teletrabalho, diminuiu a necessidade imediata de escritórios por parte das empresas. Por essa razão, ainda que neste segundo semestre existam expectativas de recuperação, os níveis atingidos ficarão aquém dos anos de 2018 e 2019".
Apesar da incerteza no mercado, os indicadores no setor de escritórios não parecem dar sinais de mudança. "Em Portugal, não existem evidências de uma correção dos valores de arrendamento de escritórios, antes pelo contrário. As operações concretizadas durante este momento, algumas que já vinham em negociação do ano transato, não sofreram alterações a nível de pricing. Dada a escassez de escritórios de qualidade no nosso País, acreditamos que os preços se deverão manter estáveis, ainda que haja um abrandamento no crescimento dos níveis de rendas verificadas em anos anteriores", explica Rodrigo Canas.