O movimento da reabilitação e regeneração urbana já não se restringe ao centro histórico da Invicta, mas alastra-se a toda a região do Grande Porto, e Gaia é parte dessa dinâmica. Prova disso é que, este ano, a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia volta a apoiar a Semana da Reabilitação Urbana do Porto, que decorre até 8 de novembro, em conjunto com as autarquias do Porto, Maia e Matosinhos, e acolhe o evento pela primeira vez nas Caves Ferreira, no Cais de Gaia.
António Miguel Castro, presidente do Conselho de Administração da empresa municipal Gaiurb e presidente da Direção da InovaGaia, explica em entrevista ao Público Imobiliário que “a nossa participação é importante pelo sinal que estamos a dar ao mercado”. Está convicto de que “se todos os municípios conseguirem estar agregados e mostrar que têm estratégias comuns de desenvolvimento, estamos a passar a mensagem de que também as empresas podem convergir e alcançar novos caminhos”.
O apoio alargado à Semana da Reabilitação Urbana do Porto “é importante para mostrar que a estratégia de reabilitação deste território não é só o Porto, mas também Gaia e outros municípios”. E recorda que “esta zona é uma das zonas de reabilitação urbana do país com mais investimento nos últimos dez anos”.
O evento é hoje “um ponto de encontro entre todo o ecossistema, um momento de reflexão, partilha e convergência, mas também de divergência, que pode abrir novas pontas e caminhos e dar a conhecer novas empresas. Juntam-se as empresas, a academia e o poder local para pensar e repensar um caminho de futuro e transformação, ao mesmo tempo que muitos olhos internacionais nos veem e sentem se vale ou não a pena investir nesta região”. Por isso, “para nós é motivo de muito orgulho estarmos inseridos nesta Semana da Reabilitação Urbana do Porto”.
Gaia quer ser competitiva e inovadora, com foco na qualidade de vida
A cidade de Vila Nova de Gaia está a trabalhar para se manter competitiva e para inovar, “ao mesmo tempo que se foca na qualidade de vida das pessoas”, uma estratégia que se “desdobra em vários eixos”, segundo António Miguel Castro.
Descreve um município que “tem tido um papel muito dinâmico como criador de oportunidades, capaz de promover a qualidade de vida das pessoas, mas também das empresas que aqui investem”. A cidade almeja “um papel de destaque nacional e internacional”, tirando também partido da sua localização geográfica estratégica, da sua cultura, património, turismo ou desenvolvimento económico, mas também da educação e da aposta na sustentabilidade ambiental.
Agilizar licenciamentos é fundamental para criar mais habitação
Consciente do problema da habitação do país, António Miguel Castro considera que este não se pode resolver apenas com o setor público ou com fundos europeus, e está convicto de que também o setor privado se tem de juntar para dar resposta. Admite que, do lado do público, é necessária uma “resposta mais rápida ao privado para poder criar mais habitação, pois temos construído muito menos habitação agora do que nas décadas anteriores. E se construímos ainda menos do que antes, com um preço mais caro, com menos recursos e menos mão de obra, as coisas não vão ficar mais fáceis”.
É por isso que a aposta da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia passa muito pela agilização do licenciamento, nomeadamente “usando a inovação quase como ferramenta incremental de melhoria”, mas também pela implantação seguimento da sua Estratégia Local de Habitação, “na qual temos um investimento de 143 milhões de euros”. Com mais de 1.200 frações para adquirir e mais 1.000 para reabilitar, “percebemos que somos apenas uma parte da equação que vai dar resposta e que precisamos de todos”.
Inclusive, nos últimos anos Gaia tem sido um dos concelhos do país com maior dinâmica de construção nova, nomeadamente de habitação, mas António Miguel Castro não sente diminuição do interesse pela reabilitação urbana, e sim “diferentes dinâmicas por zonas”. E porque há que continuar a aumentar a oferta, tem a certeza que “temos de licenciar rápido, é inevitável. Sabemos que a indecisão é um fator de desconfiança do mercado”.
Referindo-se ao Simplex do licenciamento, que entretanto já está no terreno, considera que “este Governo acabou por pegar num assunto que ninguém queria tentar resolver, ainda que seja quase impossível resolver de um dia para o outro”.
Seja como for, garante que, da parte da Câmara Municipal de Gaia, que já começou a digitalização do urbanismo há vários anos, “queremos fazer muito mais e aumentar a qualidade do serviço” no que diz respeito ao licenciamento. “O utilizador tem de ter uma boa experiência, e se o tempo é dinheiro, naquilo que nos compete, estamos a fazer um esforço para poder traduzir mais confiança para os investidores”. Até porque, recorda, “estamos na verdade a competir com várias cidades do mundo”.
Mobilidade é prioridade na transformação da cidade
A mobilidade é “um dos pilares do roteiro de descarbonização” que Gaia está a seguir e no qual está a trabalhar a longo prazo. Segundo António Miguel Castro, “mais do que a questão tecnológica, a mudança na mobilidade passa muito pela promoção da adoção de hábitos saudáveis, seja através da mobilidade suave ou da circulação pedonal. Podemos dizer que não há condições na maioria das cidades para que os seus cidadãos possam optar maioritariamente por estas opções, mas pelo menos em Gaia estamos a apostar muito nestas formas de mobilidade”.
Para a autarquia, a ampliação da linha amarela do Metro do Porto, de Santo Ovídio até ao Hospital e Vila D’Este é uma das mais importantes, já que “vai dar resposta a uma população muito abrangente, de mais de 30.000 pessoas”, assim como a da linha Rubi, um investimento de 450 milhões de euros que vai ligar a Casa da Música e Santo Ovídio, implicando a construção de uma nova ponte sobre o Douro.
Mas António Miguel Castro destaca também outras novidades, como o Metrobus entre Dom João II e a zona de vilar de Andorinho, uma nova rede de autocarros da AMP que também chegará a Gaia, ou ainda o plano do TGV, que promete ser “uma marca no território”, depois da qual “nada será como dantes”. Para o responsável, estes investimentos “vão criar as condições para que tenhamos de facto uma mobilidade mais inteligente. E, portanto, são investimentos significativos no nosso território”.
Outras prioridades ao nível da sustentabilidade passam pela gestão mais eficiente da água (nomeadamente a redução de perdas na rede), pela substituição da iluminação pública por tecnologia Led, ou pela reabilitação dos empreendimentos sociais tendo em vista a melhoria da sua eficiência energética. Mas também pela criação de mais espaços verdes públicos, como o Parque S. Paio, em Canidelo, ou o Parque da Lavandeira.
Há novas oportunidades para investir em Gaia: “temos ainda muita coisa a fazer”
António Miguel Castro identifica hoje um conjunto de projetos imobiliários de referência, nomeadamente pelo seu efeito estruturante e potenciador de crescimento, como o WOW – World of Wine, a zona da Quinta de Marques Gomes ou do Cais do Cavaco, áreas com potencial de “significativa expansão” e “com as devidas licenças de construção”, assim como a VL8, “onde temos um investimento de mais de 1.000 milhões de euros”.
Para si, estes são “investimentos significativos”, que se juntam a outros já consolidados e outros em construção. “São investimentos privados, mas que estão inevitavelmente associados ao investimento público”, como a VL8, onde “é inevitável relacionar a criação da nova linha de metro com a própria capacitação do território”.
Ainda assim, “estas são oportunidades já consolidadas, mas temos ainda muita coisa a fazer”, garante o responsável, que destaca as oportunidades que ainda existem na frente ribeirinha, “que se consegue consolidar ainda mais. O Cais do Cavaco, a Quinta de Marques Gomes e a própria Seca do Bacalhau não esgotam esse território, temos ainda muito potencial de expansão na frente de mar, e sabemos que temos de melhorar a questão da mobilidade”, exemplifica.
Também o potencial das zonas industriais se destaca, são áreas da cidade têm “capacidade de expansão significativa, e são sem sombra de dúvida uma área que o município quer continuar a capitalizar e tem ainda disponível, mas acima de tudo quer organizar tudo aquilo que já existe e que foi crescendo de forma quase desfragmentada”.
Esforço de promoção internacional é contínuo
Nos últimos anos, Vila Nova de Gaia tem reforçado a sua promoção internacional, nomeadamente como destino de investimento. “Partimos do princípio de que, se nós queríamos reescrever a economia do nosso município, precisávamos de redesenhar a nossa imagem”, recorda António Miguel Castro. “Toda a promoção internacional que o município tem conseguido fazer tem tido resultados positivos, e temos conseguido atrair países investidores como a França, Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos da América, entre outros. E sabemos que a comunicação é absolutamente fundamental” nesta promoção do destino.
É promovendo uma cidade “inovadora e sustentável, que oferece maior qualidade de vida para se viver, mas que também é uma cidade feliz, com confiança e reconhecimento” que se consegue “atrair mais investimento estrangeiro e promover a cidade como um destino de investimento”. E o responsável destaca a importância de uma marca forte mais abrangente, “que não pode ser exclusiva de Gaia, mas sim comum da região. Fizemos isso com o Greater Porto”, marca com a qual a região participa em várias feiras internacionais para dar a conhecer as suas oportunidades de investimento.
Resume que “estamos a tentar criar ferramentas para que no futuro, quem estiver à frente dos destinos do município tenha mais oportunidades de decisão. Este esforço de promoção, atualmente, é fazer saber que estamos cá, que temos ambição, mas sabendo também que temos um caminho pela frente… E que a forma como o percorremos também dependerá muito desta vontade colaborativa”.