Francisco Campilho
Francisco Campilho
Presidente da Comissão Executiva da VICTORIA Seguros

Um 2024 desafiante

14/02/2024

Numa conversa recente entre amigos do setor, um referiu que vivemos tempos desafiantes. Vinha isto a propósito dos desafios colocados em termos de responsabilidades pelo recentemente publicado Simplex urbanístico, assunto que o meu colega Carlos Suárez abordou de forma esclarecedora na sua última coluna publicada em janeiro. A tão desejada agilização do licenciamento, que passa por uma simplificação do processo, tem como contraponto uma responsabilização dos diversos intervenientes. A possível cobertura dessas responsabilidades através de um seguro, terá de partir de uma definição dos seus perímetros. Como em outras situações, temos edifícios legislativos que se começam a construir pelo telhado e sem fundações sólidas e testadas. As várias partes interessadas terão de encontrar, agora, as várias soluções que acompanhem a tão esperada desburocratização por parte do Estado.    

Outro desafio que já tem vindo a ser mencionado, tem a ver com a crescente dificuldade de recrutamento e retenção recursos humanos na economia de uma forma transversal, e no setor imobiliário em particular. Vem isto, novamente, a propósito no seguimento da publicação de estatísticas da emigração portuguesa que revelam os números de saídas para o estrangeiro de técnicos especializados nas mais diversas áreas, da informática à saúde, mas passando também pela engenharia civil. A falta de técnicos especializados, que o ritmo de formação nas escolas e faculdades não conseguem suprir, tem um forte impacto no setor não só, ao nível dos investimentos públicos, mas também, na área do imobiliário comercial ou habitacional. Estamos em concorrência com vários países da Europa, com diversos fatores de atratividade. Temos de encontrar uma reposta concertada, que não passa por um só vetor de medidas, por exemplo financeiras, que permita repor o nível de competitividade do nosso mercado. De qualquer forma, o impacto, tendo como (mais uma) pressão o aumento do custo de construção, parece ser inevitável.

A sustentabilidade é um outro vetor de desafios ao setor e que estará na ordem do dia em 2024. Terei oportunidade de refletir sobre algumas das dimensões deste tema no próximo mês. No entanto, não posso deixar de referir uma notícia recente sobre o projeto de condicionar a baixa de Lisboa à circulação apenas de residentes e automóveis elétricos (situação que já existe no terreno, mas não é controlada e por isso não é efetiva). A par de outras ideias de aumento de vias pedonais na mesma zona, não deixa de preocupar o futuro destas zonas centrais das grandes cidades. O comércio tradicional de rua não está a passar uma boa fase, com o fecho de muitas lojas tradicionais. Depois de anos nos quais que assistimos a uma recuperação da vitalidade da zona histórica, deverá ser acautelado o perigo de a transformar num parque artificial, sem vida local e perdendo, assim, a sua atratividade. Tem de se encontrar meios que facilitem o acesso generalizado, sob pena de o centro da cidade se mudar irremediavelmente para outro lado.  

Estes são apenas três dos temas com grande impacto no desenvolvimento do ano 2024 e aos quais continuarei a dar atenção. As soluções só podem ser melhores se todos conhecermos e refletirmos sobre os desafios que nos são colocados.