Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

Casas adequadas ao envelhecimento

31/01/2024

São vários os desafios que a nossa sociedade enfrenta, para poder corresponder aos tais padrões de qualidade. 

No imobiliário talvez seja importante começar a refletir sobre a adequação das casas ao envelhecimento dos seus utilizadores. É um facto que quando há tanto por fazer para combater a pobreza energética e melhorar a eficiência das casas, este, numa primeira análise, pode parecer um aspeto secundário, no entanto não é.

E não é porque hoje temos milhares de idosos aprisionados em segundos, terceiros e quartos andares sem elevador. Não é porque hoje temos milhares de idosos que se deslocam numa cadeira de rodas que não passa em nenhuma das portas das suas casas. Não é porque hoje temos milhares de idosos sem uma casa de banho adequada à sua mobilidade.

Todas as dificuldades que têm emergido no âmbito da habitação, não podem escamotear esta realidade que a todos tem de interessar. 

Ainda mais, quando muitas das soluções podem também colaborar para minimizar a exclusão habitacional.

Os muito bem-vindos programas para melhorar a eficiência energética das casas, têm de ser compreensíveis e executáveis pelos cidadãos mais frágeis, não podem ser um “puzzle” de difícil compreensão. 

Igualmente serão necessários novos programas de apoio à adequação das casas a utilizadores de idade avançada. 

Os modelos de coabitação entre gerações oferecem uma oportunidade única para complementar carências, quer as dos jovens que não têm casa quer as dos idosos que estão sós. 

Novas soluções habitacionais como novas construções direcionadas a utilizadores de idade avançada, com serviços centrais, onde a sala de fisioterapia e a central de distribuição de medicamentos talvez seja mais interessante que o estacionamento para dois carros.

Também os bancos talvez possam começar a pensar em novos produtos de refinanciamento direcionados a idosos, onde poderiam ter lugar a troca de casa ou obras integrais.

O “padrão” onde com 30 ou 40 anos de idade é comprada uma casa, que
será paga ao longo de três décadas, para depois ser vivida uma reforma
tranquila, deve ser repensado. Com o avançar da idade, a necessidade de recapitalização deve ser pensada. As "despesas" serão muitas e a casa é o "instrumento" que proporciona frequentemente a liquidez necessária.

Não vale a pena fingir. Se tudo correr bem, este é um assunto que a todos irá interessar. Em Portugal, não há lares ou residências seniores ou casas de repouso para todos. A adaptação das casas ao envelhecimento populacional não é uma questão menor, é uma urgência. É uma questão de dignidade e de qualidade das nossas vidas.