Francisco Campilho
Francisco Campilho
Presidente da Comissão Executiva da VICTORIA Seguros

O desafio da água

30/10/2024

Estamos a assistir a verões muito quentes e entre as consequências das alterações climáticas, as ondas de calor cada vez mais graves e períodos de seca cada vez mais frequentes e que podem em alguns casos chegar ao estado de calamidade. Este Verão, várias regiões do nosso país, nomeadamente o Algarve, tiveram de implementar regras severas para reduzir o impacto da falta de água.

Já abordei neste espaço, em várias ocasiões, os desafios da sustentabilidade do setor da construção em termos da necessária redução da pegada de carbono. O setor da construção, frequentemente focado na eficiência energética e na redução das emissões de carbono, deverá agora dar prioridade, também, à conservação da água. Num contexto de alterações climáticas que conduzirão a que os recursos hídricos se tornarão cada vez mais escassos, o setor tem um papel a desempenhar na redução do consumo de água quer na obra, quer na posterior utilização dos edifícios. 

Num dos documentos que o grupo SMABTP dedica a estes temas, os clientes e parceiros são alertados para o facto de que os edifícios consomem enormes quantidades de água, muitas vezes de forma ineficiente, e que para reverter essa tendência é crucial adotar equipamentos que economizem água, como torneiras de baixo fluxo que podem reduzir o consumo de forma significativa. Além disso, a recolha de águas pluviais e a reciclagem de águas “cinzentas”, provenientes de lavatórios e chuveiros, são soluções subutilizadas, mas que têm um grande potencial para reduzir o desperdício de água. No entanto, a economia de água não se deve limitar ao interior dos edifícios. A forma como gerimos o paisagismo também tem impacto. Relvados verdes e exuberantes, comuns em várias áreas urbanas, são grandes consumidores de água, especialmente em zonas propensas à seca. Uma solução mais sustentável é o paisagismo sensível à água, com plantas tolerantes à seca e sistemas de irrigação eficientes. 

Como noutras áreas desta atividade, o documento refere a tecnologia que tem um papel vital na otimização da gestão hídrica. Sistemas inteligentes de gestão de água, que controlam o consumo em tempo real e detetam fugas, podem evitar desperdícios e permitir uma manutenção mais eficiente garantindo a sustentabilidade dos edifícios.

Outro ponto abordado é o de que além da conservação de água, é fundamental projetar edifícios que resistam aos riscos naturais. A resiliência de um edifício consiste na sua capacidade de se adaptar e suportar eventos extremos, como inundações, que se tornaram mais frequentes e intensos devido às alterações climáticas. Existem três estratégias principais para aumentar a resiliência face a inundações: evitar a água, resistir à água e ceder à água. A primeira estratégia envolve construir fora de áreas de risco ou elevar as estruturas para ficar acima do nível de inundação previsto. A segunda consiste em tornar as aberturas do edifício estanques, para impedir a entrada de água. A terceira, usada como último recurso, implica permitir que a água entre no edifício, mas com materiais resistentes e equipamentos sensíveis protegidos em áreas mais elevadas.

A integração destas estratégias, tanto para a conservação de água quanto para a resiliência, permitirá não apenas reduzir custos futuros, como também prolongar a vida útil dos edifícios assegurando desta forma a contribuição do setor para a sustentabilidade.