Joselito Pereira
Joselito Pereira
Responsável Departamento Tecnico da Tecofix

Desafios da reabilitação sísmica

08/04/2024

É imprescindível classificar o património do edificado existente, dotando-o de um registo pormenorizado das intervenções efetuadas ao longo do tempo. Um bilhete de identidade que se tornará indispensável em futuras intervenções de reabilitação.

Adicionalmente, a reabilitação sísmica tornou-se um tema relevante devido ao atual contexto geográfico, normativo e histórico. A intervenção em edifícios antigos tem incidido maioritariamente na manutenção de fachadas, com a reconstrução total do seu interior. A utilização de técnicas de reforço estrutural ou aligeiramento de estruturas, requer uma análise contínua, desde o projeto, com a adequada seleção de materiais, às ligações entre elementos existentes e novos, que não devem ser descuradas. As selagens e ancoragens químicas entre alvenarias de pedra e betão, o aumento de secções em elementos estruturais, com ligações entre betões de diferentes idades, etc., todas estas intervenções requerem algum conhecimento técnico adequado, sendo fundamental o diálogo entre arquitetos e engenheiros.

Esta análise deve ser realizada com o foco de que irá integrar um património vindouro. A inserção de estruturas mais aligeiradas, com a inclusão de madeiras e estruturas metálicas, requer uma ligação que deve seguir os parâmetros pré-definidos, tendo em conta a reabilitação sísmica. A ligação entre paredes e pavimentos é a intervenção mais importante no reforço sísmico de prédios existentes.

Os pavimentos de madeira são uma das partes mais vulneráveis destes edifícios, por terem sido construídos sem critérios sísmicos. As vigas que formam o pavimento, estão frequentemente apoiadas apenas nas paredes de suporte, mantidas no lugar por uma simples força de fricção. Num evento sísmico, a fricção entre a parede e a viga perde a sua eficiência devido às forças horizontais, e as vigas distanciam-se das paredes. Um movimento transversal leva a parede a rodar relativamente ao plano vertical, e se as paredes não estão ligadas umas às outras, a sua resistência sísmica é apenas garantida pelas paredes individuais. Contudo, se estas partes estiverem devidamente ligadas entre si, haverá um aumento de resistência, originado pelo efeito de ação da caixa. As paredes permanecem ligadas verticalmente e desenvolvem resistência à força sísmica.

Neste tipo de pavimentos de madeira, a utilização de betão numa estrutura mista unificada através de ligadores, faz com que os dois materiais colaborem um com o outro, resultando numa estrutura eficiente, na qual o betão está em compressão e a madeira em tensão. A estrutura composta de madeira-betão será mais resistente e mais rígida do que uma estrutura simples de madeira, com a melhoria do seu comportamento dinâmico, com menos vibrações, otimização do seu nível acústico e inércia térmica.

Desta forma, adicionar uma laje de betão é uma excelente solução técnica para edifícios de alvenaria localizados em zonas sísmicas, por permitir que paredes com suporte de carga, sejam ligadas umas às outras através de um pavimento rígido, que mais facilmente distribui as forças sísmicas horizontais. O peso do pavimento, composto de madeira e betão, também é muito menor do que em outras soluções construtivas. Ligadores tipo conectores TECNARIA têm sido amplamente testados, e desenhados especificamente para unir estruturas de madeira a lajes de betão.