Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

Deslocalização: um novo modo de vida?

12/06/2024

A descentralização não ocorre por decreto governamental, apenas ocorre quando as populações têm motivos para se afastar dos grandes centros urbanos. E a verdade é que para muitos daqueles que necessitam de uma casa, a solução passa por considerar a deslocalização. Isto deve-se às consequências da discrepância entre a oferta e a procura de habitação, especialmente nos grandes centros urbanos, onde a procura supera significativamente a oferta, conduzindo ao progressivo aumento de preços.

Esta situação tende a agravar-se devido a uma série de fatores: em primeiro lugar, temos uma agenda de grandes obras públicas que, para se materializarem, exigem a alocação de recursos construtivos.

Estes recursos, sendo limitados, precisam de ser deslocados, o que pode provocar um aumento nos preços. Para além disto, as perspetivas europeias apontam para uma redução nas taxas de juro, o que provavelmente impulsionará ainda mais a procura por habitação. Os incentivos do governo português para apoiar determinados segmentos da procura também contribuirão para esse aumento, resultando inevitavelmente em preços mais altos.

Um ponto crucial a considerar é o potencial, por parte do governo, para criar mecanismos de financiamento a 100% para os jovens. Esta medida implica uma prestação mais elevada e uma taxa de esforço muito maior para cobrir a totalidade do financiamento, a menos que se encontrem soluções de menor valor. No entanto, essas soluções de menor valor estão normalmente afastadas dos grandes centros urbanos, onde é possível encontrar terrenos ou imóveis a preços mais acessíveis devido à menor procura.

Perante esta realidade, talvez esteja a chegar a altura de o governo procurar soluções que permitam às populações usufruir de uma rede de transportes interurbanos muito mais eficiente. A deslocalização, longe de ser um drama, pode resultar no desenvolvimento económico das comunidades escolhidas pelas pessoas para, aí, estabelecerem as suas vidas. Essas áreas, até agora caracterizadas por pequena densidade populacional, têm o potencial de impulsionar um novo desenvolvimento económico local.

Além dos benefícios económicos, a deslocalização pode oferecer uma qualidade de vida diferente da vida urbana. A proximidade com a natureza, a possibilidade de lazer ao ar livre e o silêncio são aspetos que muitos consideram atrativos. Com uma rede de transportes adequada, cada vez mais pessoas podem reorganizar as suas vidas longe dos grandes centros urbanos, sem perder a ligação com as oportunidades que esses locais oferecem.

A deslocalização é uma tendência que se tornará cada vez mais evidente na nossa sociedade. É uma resposta às pressões do mercado imobiliário e uma oportunidade de reequilibrar a distribuição populacional e económica do país. Com as políticas adequadas, este movimento pode trazer benefícios, tanto para os indivíduos quanto para as comunidades rurais, promovendo um desenvolvimento harmonioso e sustentável. Assim seja possível às pessoas reorganizar as suas vidas à distância de um grande centro urbano.