Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

Inclusão e transformação também deve abranger os bancos

03/07/2024

Isto significa que os bancos vão ter de encontrar mecanismos que lhes permitam financiar e expandir o crédito hipotecário à população idosa.

Refiro-me a reiniciar um processo de crédito hipotecário quando este já terminou ou se encontra perto do seu fim.

Neste ciclo, é previsível que alguém que tem já a sua habitação paga, mas entretanto tem 70 ou 80 anos, seja dono de um imóvel que provavelmente não tem qualquer relação com as suas atuais necessidades habitacionais, quer do ponto de vista da dimensão do seu imóvel, quer do ponto de vista da sua localização, quer do ponto de vista estrutural onde é provável que uma cadeira de rodas não passe em nenhuma das portas da sua casa. E toda uma imensidão de características inadequadas às necessidades da população envelhecida.

Este refinanciamento pode resultar em incrementar com grande relevância a dinâmica imobiliária pelo simples facto de que pode ser o começo de um novo ciclo.

Com que situação nos deparamos atualmente?

O ciclo inicia-se quando os indivíduos estão na casa dos 30 anos e pensam, por vezes, em adquirir uma habitação e posteriormente em manter a propriedade ao longo da sua vida ativa. Por isso, o grupo etário mais presente em ações desta natureza encontra-se na faixa dos 30 a 40 anos de idade. Por vezes, um pouco mais à frente, em grupos etários em torno dos 50 anos assistimos a alguma expressão em processos de troca de casa, habitualmente motivados por questões sociológicas como o sucesso ou insucesso profissional, casamento ou separação, a deslocalização e finalmente um período de alguma estabilidade laboral. No entanto, a partir dos 65 anos, quando se aproxima a idade da reforma, assistimos a uma redução dos rendimentos, coincidindo com a altura em que as casas estão pagas ou perto disso, momento das nossas vidas onde dispor de liquidez é fundamental. As despesas na idade avançada aumentam com significado. As necessidades de cuidados diversos vão aumentar e a nossa sociedade tem de compreender esta evolução de ciclos.

Pensar em tributar uma casa em mais valias exceto se comprar uma casa de igual valor ou mais cara é um princípio que tem de ser repensado, o Estado vai ter de isentar de mais valias mesmo quando o valor reinvestido é menor. O facto de os bancos terem na sua cultura a ideia de que não têm nada a ver com casas mas unicamente com a capacidade de cumprimento dos seus clientes, provavelmente também terá de ser repensado. Os bancos vão ter de se interessar pela capacidade de endividamento dos herdeiros assim como vão ter de se interessar um bocadinho mais pela real garantia que pode constituir um imóvel. A cultura de que a partir de determinada idade terminou o espaço(o tempo) para o recurso ao crédito hipotecário é uma ideia que terá de ser repensada. Serão necessárias mais oportunidades, mais inclusão e muito maior capacidade adaptativa.