Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

Mais casas não vão reservar espaço à ignorância

10/07/2024

Temos a enorme esperança de perceber que não se trata de uma equação sem solução, mas antes de uma equação que requer, por parte das forças políticas, conhecimento, coragem e determinação. 

Mesmo não tendo ainda descortinado o modo como algumas das fórmulas terão de se enquadrar, há várias que estão claramente identificadas: industrializar a construção permitirá edificar em menos tempo, assim como enfrentar a escassez de mão-de-obra e permitirá a execução de obras com muito menor impacto ambiental. Para além disso, trata-se de um processo muito mais célere e o fator tempo é também crucial, por um lado, para solucionarmos a escassez, por outro, para encurtar tempo e resultar em ganho financeiro. Se pensarmos em ter um eletricista, um canalizador, um pedreiro e um carpinteiro durante vários dias no local para construir uma casa de banho, comparativamente com a possibilidade de realizar todo o processo em fábrica, com um modelo industrial, falamos de uma diferença significativa, de vários dias para poucas horas de produção, acrescidas de mais umas quantas para a montagem.

Tendo percecionado que o edificado é responsável por aproximadamente 40% das emissões de C02 do planeta (cerca de 28% resultantes do uso de energia e os restantes cerca de 12% do processo de construção - utilização de betão, alumínio e aço), segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, será necessário trazer novos materiais para a construção, nomeadamente a madeira. 

Converter a madeira numa alternativa ao betão, isto é, numa matéria-prima crítica à sociedade independentemente do contributo direto na redução de emissões e simultaneamente no sequestro de C02, irá forçosamente gerar novos modelos de gestão. Algo que mudará profundamente o modo como olhamos para as nossas florestas, bastando para isso que amanhã reconheçamos a relevância da madeira. Vivermos em casas muito mais eficientes em termos energéticos resultará numa gigante poupança de energia, bem como em modelos habitacionais mais confortáveis, com menos recursos de mão de obra e incomparáveis ganhos de tempo. Para além disto, com este modelo de construção, mais inovador, existe uma redução substancial em termos de resíduos. Neste momento, segundo dados da Agência Europeia do Ambiente, o maior fluxo de resíduos na União Europeia provém das atividades de construção e demolição - 32% ou 800 milhões de toneladas por ano.

É claro que chegou a altura de dar espaço ao conhecimento científico necessário para que tenhamos em mente o verdadeiro conceito de casas de madeira. Isto porque não nos referimos às ideias de casas pré-fabricadas que um dia vimos numa feira internacional ou à beira de uma estrada. 

Será ainda necessário conhecimento que nos permita enfrentar um incontornável modelo disruptivo, seja com a madeira ou com materiais alternativos, mas que cumpram funções idênticas sem nos inundarmos de receios.