Bernardo Sá Vaz
Bernardo Sá Vaz
Diretor da APPII

A neuroarquitetura e o setor imobiliário

04/12/2024

Este evento muito se deveu a uma das primeiras pessoas a observar que os espaços influenciavam emoções, o médico americano, frequentemente ligado à vacina da poliomielite, Jonas Salk.

Foi na década de 50, durante uma viagem a Itália, que este visitou a Basílica de São Francisco de Assis várias vezes, depois de perceber o quão mais criativo e inspirado ficava num ambiente como aquele, bem diferente do usual laboratório a que estava acostumado.

Desde então, com o avanço do conhecimento sobre esta ciência, cumulando-o à difusão das métricas ESG, urge clarificar de que maneira é que a neuroarquitetura pode ser utilizada para melhorar o nosso bem-estar, a nossa produtividade e a nossa qualidade de vida, através de decisões conscientes no momento da conceção e do desenvolvimento de um projeto imobiliário. E foi precisamente este o mote, lançado na passada quinta-feira.

Se, por um lado, as normas ESG já vinham transformando a maneira como os projetos imobiliários vinham sendo concebidos e executados, por outro, o desenvolvimento da neuroarquitetura consegue relacionar-se com os três pilares da sigla em causa, como uma ferramenta fulcral para que se alcancem os seus objetivos ambientais, sociais e de governação, que resultam também da taxonomia europeia. 

Neste âmbito, não poderá menosprezar-se o papel da arquitetura e da promoção imobiliária no período pós-pandemia, que ainda se faz sentir. A obrigação de fazer tudo através de casa incentivou uma busca por ambientes que favoreçam a saúde mental, reduzam os níveis de ansiedade e estresse e possam, também, promover a interação social, que tanto saiu prejudicada nos tempos em que o confinamento foi uma realidade.

Neste sentido, tendo em conta que é o setor da promoção imobiliária aquele que se dedica à edificação das cidades, foi necessário que o mesmo se adaptasse às novas tendências que moldaram a procura por novas habitações, mas também por escritórios, nos tempos subsequentes à pandemia.

Outro fator deve-se também ao atual panorama do mercado imobiliário português, onde o interesse internacional em residir ou investir em Portugal é cada vez maior e as tendências trazidas lá de fora começam a influenciar e a converter-se também em exigências no mercado nacional.

Por fim, o destaque vai para a grande adesão ao I Encontro de Neuroarquitetura em Portugal, por parte dos mais diversos players do setor imobiliário. O que corresponde a um reflexo claro do crescente interesse e valorização conferidos a esta abordagem do setor.

Durante o dia 28, foi possível confirmar que não só profissionais envolvidos na construção e desenvolvimento dos espaços, mas também os utilizadores desses ambientes têm vindo a demonstrar uma crescente exigência em relação ao cumprimento das métricas ESG. Em particular, por aquelas que visam criar ambientes que promovam a saúde, o conforto e a qualidade de vida de todos. Sendo essa evolução uma consequência da consciência de que um espaço bem projetado, que respeite as necessidades humanas e ambientais é essencial, não só para o futuro do setor imobiliário, como para todos os envolvidos.