Este foi um episódio excecional, mas os seus efeitos foram reveladores, revelando a nossa total dependência da energia e, mais grave, a fragilidade dos edifícios onde vivemos e trabalhamos. Elevadores parados, climatização desligada, portas automáticas bloqueadas, equipamentos críticos sem resposta. Hospitais, escolas, prédios, serviços: tudo vulnerável após poucas horas sem energia.
O setor da construção e do imobiliário está hoje no centro da equação climática, energética e social. Os edifícios representam cerca de 30% do consumo energético nacional. São o lugar onde a transição energética acontece ou falha. O que o apagão expôs, na verdade, foi o reflexo de décadas de desinvestimento na eficiência e na resiliência dos nossos edifícios.
Confirma-se o que muitos há muito defendem. Não basta construir mais. É preciso construir melhor. E, sobretudo, tornar mais eficiente o nosso parque edificado. A eficiência energética tem de ser mais do que tecnologia. Tem de ser estratégia.
O que determina se um edifício aguenta um pico de calor extremo sem comprometer o conforto dos seus ocupantes. Se consegue funcionar em modo de baixo consumo durante uma falha de rede. Se garante qualidade de vida sem desperdício de recursos. E tudo isto exige um novo olhar, mais exigente, mais planeado e mais informado.
É aqui que entra a literacia energética, que tem sido muitas vezes subestimada, mas é decisiva. De que serve um certificado energético se não for compreendido por quem compra ou arrenda? Para que serve uma instalação fotovoltaica se ninguém sabe como otimizar o seu uso?
Num momento tão crítico das nossas vidas, a ADENE reforça o seu papel de agente agregador entre o setor imobiliário e os cidadãos. Com o SCE (Sistema de Certificação Energética dos Edifícios), o Portal casA+ ou a Rede Espaço Energia, promovemos a capacitação de técnicos, a reabilitação eficiente e o reforço da literacia e decisão consciente por parte dos consumidores. Mas também com ferramentas como o AQUA+ e o eCIRCULAR, que alargam o conceito de eficiência para além da energia, para áreas como a água e os recursos.
Hoje, com os desafios de escassez hídrica, dos eventos climáticos extremos e a volatilidade energética, é urgente preparar o parque edificado com resiliência e inteligência. E isso não se faz sem o setor. Nem sem quem o habita. O futuro do imobiliário não se mede apenas em metros quadrados. Mede-se em eficiência, habitabilidade, independência energética e bem-estar.
Depois do apagão, a pergunta não é se pode voltar a acontecer. É se estamos preparados.