Sou mulher de obra, nascida em Braga, cidade de referência no desenvolvimento deste setor. Esta ligação é profunda: cresci no meio das máquinas e dos camiões, decisões no terreno às 7h da manhã e conversas sobre prazos.
O imobiliário e a construção estão no meu ADN e, com eles, uma herança de responsabilidade. Quem o vive sabe que não é só betão, mas sobre construir pedaços de cidade. São famílias e escolhas que marcam ruas, bairros e cidades.
Lembro-me, todos os dias, que não se compra apenas uma casa, mas um modo de vida, uma comunidade.
O objetivo não pode ser, apenas, “construir metros quadrados”, mas deixar um legado que nos orgulhe: arquitetura que respeite e dialogue com o território, espaço público funcional, mobilidade integrada e soluções de engenharia pensadas ao detalhe (tantas vezes ocultas nas paredes ou na estrutura), contribuindo para melhorar a nossa qualidade de vida. É isto que fica e o que verdadeiramente conta.
Mas, confesso que a nossa atividade nunca foi tão desafiante pois, simultaneamente, a economia dá sinais contraditórios, a sociedade exige mais (e bem) e as regras alteram-se depressa.
Quanto aos fatores que explicam os valores atuais de transação dos imóveis, sobressaem os terrenos caríssimos, materiais/ equipamentos a preços que teimam em não descer e uma escassez de mão-de-obra que assusta. E depois, há o "custo silencioso" que pesa mais do que se admite: a burocracia. Projetos que demoram anos em análise por parte de entidades públicas, até que, quando a decisão chega, alguns já nem são viáveis.
Assim, a diferença entre parar ou avançar resume-se a duas palavras que temos de conciliar: inovação e resiliência.
Aqui, destaca-se a atenção ao detalhe, assim como a capacidade de assumir erros e de comunicar sem medo, tantas vezes associados à liderança feminina.
A boa notícia é que o setor já demonstrou que sabe adaptar-se e que dispõe de conhecimento e vontade de inovar. Compete-nos transformar essa capacidade em obra executada.
Termino confiante, dado o talento da atual geração: vamos, conscientemente, construir mais, melhor e mais rápido, provando que as mulheres que também lideram este caminho, estão à altura de assegurar um ecossistema estável e sustentável no imobiliário.



