Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

Precisamos de boa informação sobre o mercado imobiliário

04/09/2024

Independentemente de ideias, opiniões, necessidades ou tendências, boa informação é acima de tudo informação verdadeira. É essa, e só essa, que deve permitir que na sua sequência possam muito legitimamente formarem-se opiniões, desenharem-se estratégias, encontrarem-se soluções.

A informação imobiliária não é especialmente sofisticada ou erudita, pelo contrário, reveste-se de grande pragmatismo, uma casa com determinadas características construtivas e de conservação, num determinado local versus o valor que em cada momento poderá estar associado à sua transação. São dados objetivos que conduzem a determinada situação de mercado em cada momento.

Ou seja, em Portugal, em setembro de 2024, não existem diversas medianas de valor de mercado residencial, só existe uma.

O facto de hoje existirem múltiplas fontes de informação acerca do mercado imobiliário, que operam de diferentes modos com base em diferentes modelos, conduz a alguma multiplicidade de informação, no entanto temos de entender que o valor médio transacionado em determinada freguesia da cidade do Porto num determinado trimestre do ano é um, e um só… assim como o número de transações realizadas no distrito de Beja em determinado trimestre do ano é um e um só… gostemos ou não.

Todos temos também de entender que o valor médio de mercado obtido, por exemplo num trimestre, num grande concelho de Portugal é um número indicador de uma tendência e pouco mais. Imaginem uma aldeia de Portugal onde no segundo trimestre se transacionaram 6 casas, cinco com valores em torno de 120.000 euros e uma por 650.000. Lá na aldeia, nesse trimestre, o valor médio do mercado foi de 208.000 euros, conclusão… nenhuma. Lá na aldeia, a generalidade das casas foi transacionada em torno de 120.000, havia uma casa muito boa e diferenciada que foi transacionada por 650.000, só isso.

O mercado imobiliário é caracterizado por grande heterogeneidade, dentro de um concelho grande e muito populoso encontramos valores muito dispares, basta pensarmos que Loulé e a Quinta do Lago estão no mesmo concelho. 

Ao mesmo tempo, a proliferação de informações imobiliárias é muitas vezes suportada por modelos e plataformas tecnológicas que têm como único dado o valor que os proprietários desejam obter com a venda dos seus imóveis, frequentemente distante daquele que efetivamente caracteriza transações imobiliárias. 

Em Portugal existem algumas fontes de informação imobiliária muito fiáveis, desde logo o Instituto Nacional de Estatística, o Barómetro Imobiliário da APEMIP, a Confidencial Imobiliário, fontes de informação que agregam os “preciosos” dados de vendas de imóveis.

Segundo o Instituto Nacional de Estatística, no primeiro trimestre de 2024, o valor mediano dos imóveis vendidos em Portugal foi de 1.644 euros por metro quadrado, na área metropolitana do Porto de 1.847 euros, na área metropolitana de Lisboa 2.795 euros, na região do Algarve 2.666 euros e no Alto Alentejo 504 euros.

Já agora, na área metropolitana de Madrid, o valor médio metro quadrado das casas transacionadas em 2024 é de 5.558 euros, o dobro do verificado na área metropolitana de Lisboa.

Em Portugal, as casas estão muito, muito caras, os preços estão a provocar grave exclusão habitacional, é fundamental procurar soluções e nenhuma delas pode passar pela desinformação.