Hugo Santos Ferreira
Hugo Santos Ferreira
Presidente da APPII

Sustentabilidade hídrica nos edifícios: Um desafio necessário

27/03/2024

Ora neste sentido, e no âmbito do Dia Mundial da Água, que se comemorou na passada sexta-feira, a Agência para a Energia (ADENE), que desempenha um papel fundamental na promoção destas práticas, fornecendo diretrizes essenciais e orientadoras para o setor, lançou o AQUA+ Escritórios - uma metodologia de avaliação de eficiência hídrica dos edifícios de escritórios.

Este é o tipo de ações práticas que parabenizo, porque reconheço serem o que o setor carece para que, conjuntamente com outros setores, possamos dar um contributo válido no combate à escassez deste que é um dos recursos mais importantes para a existência humana.

Durante o evento, onde foram entregues os primeiros selos AQUA+ Escritórios, para os edifícios de escritórios com bom desempenho nesta matéria, destaco o Edifício LUMNIA- EXEO, promovido pela AVENUE; e o Edifício Monumental, ocupado pelo BPI e promovido pela Merlin Properties.

De volta aos números, é importante compreender o que representa a otimização da eficiência hídrica dos edifícios em Portugal. Segundo a ADENE, estima-se que os edifícios “tenham um potencial de eficiência hídrica de 30% a 50%, pelo que a introdução de soluções de eficiência hídrica pode gerar uma economia combinada, em água e energia nos edifícios, na ordem dos 800 milhões de euros por ano só no setor doméstico, equivalente a uma poupança superior a 51% da fatura da água das famílias”. A agência resume ainda que “A eficiência hídrica gera novas oportunidades, como novos serviços de valor acrescentado, empresas, empregos e profissionais qualificados, sendo fundamental para o país”. Reitero que deveria ser este o nosso foco: mais eficiência, para mais desenvolvimento económico, porque ser mais eficiente não significa per si abrandamento do setor, mas antes o contrário, podendo ser uma ferramenta potenciadora de novas oportunidades de inovação e negócios. 

Para além da poupança da água na construção e nos edifícios, sabe-se também que a sua reutilização é outra área crucial para a sustentabilidade hídrica nos edifícios. Pelo que é vital, por exemplo, a implementação de sistemas de tratamento de águas cinzentas e águas pluviais que podem ser implementados para reduzir a dependência de água potável para fins não potáveis, como irrigação de jardins, descarga em equipamentos sanitários e limpeza de espaços exteriores. 

No entanto, apesar dos avanços alcançados, existem ainda muitos desafios a enfrentar. A falta de incentivos financeiros e regulamentações específicas podem dificultar a adoção generalizada de práticas sustentáveis. É essencial que o governo e as partes interessadas do setor trabalhem em conjunto para desenvolver políticas e programas que incentivem e facilitem o investimento em soluções hídricas sustentáveis. Além disso, a literacia e o envolvimento da comunidade são fundamentais para promover uma cultura de conservação da água. 

Em suma, a sustentabilidade hídrica no imobiliário e na construção em Portugal é um desafio complexo, mas essencial e necessário. Através do trabalho colaborativo entre instituições governamentais, organizações do setor e a comunidade em geral, é possível alcançar um futuro onde a gestão responsável da água seja uma prioridade em todos os aspetos da vida quotidiana e da construção em particular, garantindo assim um ambiente sustentável para as gerações futuras.