Investimento no mercado imobiliário atingiu os 2,8 mil milhões em 2020

06/01/2021
Investimento no mercado imobiliário atingiu os 2,8 mil milhões em 2020

Foram investidos em imobiliário comercial em Portugal cerca de 2,78 mil milhões de euros até 31 de dezembro, calculando que o ano feche com um valor definitivo a rondar os 2,8 mil milhões de euros, avançou a Cushman & Wakefield no seu balanço do ano de 2020. A confirmar-se, tratar-se-á do terceiro maior volume já registado no país, e apenas 14% abaixo do volume registado em 2019.

Paulo Sarmento, diretor de Capital Markets da C&W, destacou que os três maiores negócios do ano representaram 55% do volume investido, com destaque para a compra de 50% do Sierra Prime, equivalente a 800 milhões de euros; à compra da Hotéis Real por 300 milhões de euros, ou à compra do Lagoas Park por 421 milhões.

Em 2020, o capital estrangeiro continuou a representar a maioria do volume de investimento, num total de 75%, mas o investimento português continua a crescer, num total de 720 milhões de euros, mais 40% que no ano anterior. Por segmentos, o retalho representou 40% do volume total, os escritórios 35% e a hotelaria 18%.

No que toca à promoção imobiliária e reabilitação urbana, a Cushman & Wakefield estima que tenham sido investidos cerca de 450 milhões de euros, menos 60% que em 2019. Entre as principais operações, estão o The Keys, na Quinta do Lago, por 95 milhões de euros, ou a Herdade dos Pinheirinhos, em Melides, por 80 milhões.

Primeiras transações de residencial para arrendamento podem acontecer este ano

Paulo Sarmento e Eric van Leuven, diretor-geral da Cushman & Wakefield em Portugal, assumem-se "moderadamente otimistas" para 2021, sendo que a velocidade de controlo da pandemia é a grande dúvida, que pode fazer toda a diferença no mercado. "A vacinação é uma excelente notícia, e se correr bem, a segunda metade do ano pode ser muito mais dinâmica", refere Paulo Sarmento.

A "estrela dos próximos anos" pode ser o residencial para arrendamento. Eric van Leuven está convencido de que "o segmento de residencial para arrendamento (ou PRS - private rented sector) irá dinamizar o mercado, não só do ponto de vista do utilizador final, mas também enquanto produto de investimento, sendo já muitos os promotores e investidores que se estão a posicionar para concretizar projetos nesta área". Paulo Sarmento completa que "os promotores já estão a desenvolver produto nesta área para arrendamento de longo prazo, e há investidores à procura. Este ano assistiremos aos primeiros negócios de compra antecipada de produto ainda em desenvolvimento".

É de salientar também que o setor do retalho continua a enfrentar várias medidas restritivas que estão em vigor, e que podem afetar as vendas. Nos escritórios, o mercado está a reavaliar a forma de ocupação dos espaços, devido ao trabalho remoto prolongado, e a logística poderá continuar a registar um aumento da procura como nos últimos tempos.

Certo é que a C&W tem conhecimento de negócios "a decorrer ou próximos do fecho que esperamos concluir em 2021 na casa dos 1.800 milhões de euros, além dos negócios “off-market”". A este volume, somam-se negócios suspensos com conclusão prevista até 2022 no valor de 1.800 milhões de euros.

Quadro legal estável "para permitir o investimento"

Paulo Sarmento não deixou de lembrar que a estabilidade legislativa é fundamental para manter o investimento no país, e que duas das principais preocupações dos investidores são as novas alterações ao regime dos “golden visa” e os tempos de licenciamento camarário, nomeadamente em Lisboa: "assistimos a um enorme conservadorismo dos compradores em Lisboa no que diz respeito às suas expetativas quanto aos tempos de licenciamento, que evoluíram muito negativamente ao longo do ano. E isso reflete-se nos preços".

Eric van Leuven conclui: "faço votos para que o imobiliário, um setor fulcral à economia nacional e na criação de emprego, recupere uma merecida estabilidade legal e fiscal. Se é certo que estes têm sido tempos sem precedentes, e em que o apoio rápido às empresas teve um papel determinante na sua manutenção, a aprovação em Assembleia da República de diversas medidas extraordinárias, algumas das quais inequitativas, veio criar desequilíbrios que impera agora que comecem a ser colmatados".

Resultados em linha com 2019

Relativamente à atividade da consultora em 2020, Eric van Leuven comenta que "obtivemos um resultado muito positivo, tendo em conta os imensos desafios que enfrentámos – apenas ligeiramente inferior aos de 2018 e 2019, que foram os melhores de sempre. Todos os departamentos registaram bons níveis de faturação e fomos, uma vez mais, distinguidos como a melhor consultora imobiliária em Portugal, atribuído pela prestigiada publicação internacional Euromoney, em conjunto com a atribuição dos prémios de melhor consultora nacional a nível de transações, avaliações imobiliárias e research".

A Cushman & Wakefield foi responsável por algumas das mais importantes transações do mercado, destacando-se na área de escritórios a venda do edifício sede da Cuatrecasas no Marquês de Pombal e a aquisição do Edifício Expo Tower no Parque das Nações. Na área de retalho, destaque para a venda das lojas do emblemático projeto Liberdade 203 e em hotelaria a venda do Stay Hotel Lisboa Airport. A equipa de promoção e reabilitação urbana da Cushman & Wakefield foi responsável por uma das maiores operações no seu segmento e a já referida venda do projeto The Keys.