Foram investidos em imobiliário comercial em Portugal cerca de 2,78 mil milhões de euros até 31 de dezembro, calculando que o ano feche com um valor definitivo a rondar os 2,8 mil milhões de euros, avançou a Cushman & Wakefield no seu balanço do ano de 2020. A confirmar-se, tratar-se-á do terceiro maior volume já registado no país, e apenas 14% abaixo do volume registado em 2019.
Paulo Sarmento, diretor de Capital Markets da C&W, destacou que os três maiores negócios do ano representaram 55% do volume investido, com destaque para a compra de 50% do Sierra Prime, equivalente a 800 milhões de euros; à compra da Hotéis Real por 300 milhões de euros, ou à compra do Lagoas Park por 421 milhões.
Em 2020, o capital estrangeiro continuou a representar a maioria do volume de investimento, num total de 75%, mas o investimento português continua a crescer, num total de 720 milhões de euros, mais 40% que no ano anterior. Por segmentos, o retalho representou 40% do volume total, os escritórios 35% e a hotelaria 18%.
No que toca à promoção imobiliária e reabilitação urbana, a Cushman & Wakefield estima que tenham sido investidos cerca de 450 milhões de euros, menos 60% que em 2019. Entre as principais operações, estão o The Keys, na Quinta do Lago, por 95 milhões de euros, ou a Herdade dos Pinheirinhos, em Melides, por 80 milhões.
Primeiras transações de residencial para arrendamento podem acontecer este ano
Paulo Sarmento e Eric van Leuven, diretor-geral da Cushman & Wakefield em Portugal, assumem-se "moderadamente otimistas" para 2021, sendo que a velocidade de controlo da pandemia é a grande dúvida, que pode fazer toda a diferença no mercado. "A vacinação é uma excelente notícia, e se correr bem, a segunda metade do ano pode ser muito mais dinâmica", refere Paulo Sarmento.
A "estrela dos próximos anos" pode ser o residencial para arrendamento. Eric van Leuven está convencido de que "o segmento de residencial para arrendamento (ou PRS - private rented sector) irá dinamizar o mercado, não só do ponto de vista do utilizador final, mas também enquanto produto de investimento, sendo já muitos os promotores e investidores que se estão a posicionar para concretizar projetos nesta área". Paulo Sarmento completa que "os promotores já estão a desenvolver produto nesta área para arrendamento de longo prazo, e há investidores à procura. Este ano assistiremos aos primeiros negócios de compra antecipada de produto ainda em desenvolvimento".
É de salientar também que o setor do retalho continua a enfrentar várias medidas restritivas que estão em vigor, e que podem afetar as vendas. Nos escritórios, o mercado está a reavaliar a forma de ocupação dos espaços, devido ao trabalho remoto prolongado, e a logística poderá continuar a registar um aumento da procura como nos últimos tempos.
Certo é que a C&W tem conhecimento de negócios "a decorrer ou próximos do fecho que esperamos concluir em 2021 na casa dos 1.800 milhões de euros, além dos negócios “off-market”". A este volume, somam-se negócios suspensos com conclusão prevista até 2022 no valor de 1.800 milhões de euros.
Quadro legal estável "para permitir o investimento"
Paulo Sarmento não deixou de lembrar que a estabilidade legislativa é fundamental para manter o investimento no país, e que duas das principais preocupações dos investidores são as novas alterações ao regime dos “golden visa” e os tempos de licenciamento camarário, nomeadamente em Lisboa: "assistimos a um enorme conservadorismo dos compradores em Lisboa no que diz respeito às suas expetativas quanto aos tempos de licenciamento, que evoluíram muito negativamente ao longo do ano. E isso reflete-se nos preços".
Eric van Leuven conclui: "faço votos para que o imobiliário, um setor fulcral à economia nacional e na criação de emprego, recupere uma merecida estabilidade legal e fiscal. Se é certo que estes têm sido tempos sem precedentes, e em que o apoio rápido às empresas teve um papel determinante na sua manutenção, a aprovação em Assembleia da República de diversas medidas extraordinárias, algumas das quais inequitativas, veio criar desequilíbrios que impera agora que comecem a ser colmatados".
Resultados em linha com 2019
Relativamente à atividade da consultora em 2020, Eric van Leuven comenta que "obtivemos um resultado muito positivo, tendo em conta os imensos desafios que enfrentámos – apenas ligeiramente inferior aos de 2018 e 2019, que foram os melhores de sempre. Todos os departamentos registaram bons níveis de faturação e fomos, uma vez mais, distinguidos como a melhor consultora imobiliária em Portugal, atribuído pela prestigiada publicação internacional Euromoney, em conjunto com a atribuição dos prémios de melhor consultora nacional a nível de transações, avaliações imobiliárias e research".
A Cushman & Wakefield foi responsável por algumas das mais importantes transações do mercado, destacando-se na área de escritórios a venda do edifício sede da Cuatrecasas no Marquês de Pombal e a aquisição do Edifício Expo Tower no Parque das Nações. Na área de retalho, destaque para a venda das lojas do emblemático projeto Liberdade 203 e em hotelaria a venda do Stay Hotel Lisboa Airport. A equipa de promoção e reabilitação urbana da Cushman & Wakefield foi responsável por uma das maiores operações no seu segmento e a já referida venda do projeto The Keys.