70% da oferta de habitação só está acessível a 4% dos jovens

12/02/2025
70% da oferta de habitação só está acessível a 4% dos jovens
Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal e Espanha

70% da oferta de casas para venda na Área Metropolitana do Porto e 69% na Área Metropolitana de Lisboa (com valores superiores a 250.000 euros) estão acessíveis a apenas 4% e 3% dos jovens da região, respetivamente. Esta é uma das conclusões da última edição do estudo “Habitação para jovens em Portugal: desafios e tendências atuais”, da Century 21, apresentado a 7 de fevereiro. 

A dificuldade na emancipação é uma das tónicas do estudo. 56,4% dos jovens portugueses entre os 25 e os 35 anos ainda vivem em casa dos pais. Na faixa entre os 36 e os 40 anos, 11,4% ainda estão nesta situação nas regiões das áreas metropolitanas. 43% ainda não é independente devido aos preços elevados da habitação e 30% pelos rendimentos insuficientes. 89% dos jovens mostra-se disposto a fazer concessões para se poder tornar independente, mas não abdicam de constituir família ou casar, e procuram viver próximos do seu núcleo familiar e de amizades. Só 24% consideram os apoios do Estado suficientes. 

Patrícia Gonçalves Costa, secretária de Estado da Habitação
Patrícia Gonçalves Costa, secretária de Estado da Habitação

Patrícia Gonçalves Costa, secretária de Estado da Habitação, esteve presente na abertura deste evento de apresentação, e reiterou a necessidade de “aumentar a produção nos dois setores, público e privado”. E considera que “temos de criar alternativas para uma diversidade de soluções de casas”, que permitam “construir bem, depressa e barato” sem comprometer a qualidade da habitação, que passam por repensar o formato habitacional, reduzir o tempo dos processos, ou fazer parcerias com privados. “Temos de refletir sobre de que forma podemos transformar este paradigma da casa numa solução de massa”. Concluiu que “a concretização deste objetivo é global e depende de um diálogo muito claro com todos os agentes”, garantindo que “o Governo está empenhado em eliminar todos os bloqueios para que os projetos tenham uma concretização clara, sem entraves”. 

“Temos um problema de acesso à habitação, nomeadamente à primeira casa”, afirmou Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal e Espanha, apresentando estes resultados. Defende que “o desafio real não é apenas garantir habitação acessível (‘affordable housing’), mas sim condições para um custo de vida sustentável (‘affordable living’). Os apoios à habitação são percecionados como insuficientes e a solução não pode assentar apenas em apoios do Estado. É essencial criar condições que tornem o dia a dia mais acessível. Precisamos de uma nova perspetiva e pensar de uma forma mais metropolitana. As nossas cidades precisam de soluções reais e estruturais”. 

Banca está disponível para apoiar aumento da oferta 

Este evento contou com um painel dedicado ao papel da banca no mercado. Assumindo o tema da habitação como “muito sério”, Miguel Maya, CEO do Millennium bcp, defende o aumento da oferta, e destacou que “o número de edifícios concluídos tem vindo a reduzir, e também isso coloca pressão nos preços. O equilíbrio entre a oferta e a procura determina tudo”. Paulo Macedo, Presidente do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos, concorda que “precisamos de mais casas no mercado, e de intervir no preço dos terrenos, para que o custo da habitação seja menor, e de apoios para a compra da primeira casa”.  A banca rejeita que existam constrangimentos na concessão de crédito, nomeadamente nas taxas de esforço. Miguel Maya reitera que “nunca tivemos, e não temos hoje, um problema de crédito vencido na habitação. O nível de incumprimento sempre foi muito baixo”. E acredita que “a aquisição de casa própria é dos melhores investimentos que um particular pode fazer”. João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI, garante que “os bancos têm capital e capacidade suficiente para responder às necessidades de crédito. Temos regras, sim, mas temos capacidade. O problema é de fundo, e começa por uma política central”. E alerta que precisamos de partir para a ação, e temos de estar todos juntos neste tema”. 

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