Autarquias trazem confiança ao arrendamento

23/03/2022
Autarquias trazem confiança ao arrendamento

O Porto marcou, uma vez mais, presença no MIPIM, aquele que é considerado o maior evento mundial de investimento imobiliário. Qual o objetivo desta presença e até que ponto esse objetivo está a ser cumprido?

Esta é, seguramente, a feira mais importante na qual participamos, a par da Expo Real. Temos estado presentes aos longo dos anos, sendo que nos últimos dois não se realizou de forma presencial. O ano passado, a feira ainda aconteceu de forma virtual, mas não nos interessou. Esta edição estamos novamente presentes com um stand melhorado, em parceria com muitos agentes da área do imobiliário que, naturalmente, também usufruem e participam naquele que é o investimento municipal neste tipo de presenças. É uma presença institucional, mas também no sentido de chamar a atenção para vários projetos, como os de Renda Acessível ou Residências de Estudantes.

Este é o sítio ideal não só para mostrar a capacidade daquilo que está a ser feito na cidade, mas também de encontrar parceiros que estejam interessados em fazer esses investimentos connosco na cidade do Porto. Temos tido contactos muito importantes. Ainda agora tive um contacto muito interessante com uma companhia de seguros que está interessada em projetos, em concessões, como aquelas que estamos a pensar.

Temos um conjunto grande de projetos, alguns que serão naturalmente desenvolvidos em modelo público-público, nomeadamente o investimento em Lordelo do Ouro. Mas há outros, como o Monte da Bela, no qual continuamos interessados em parcerias. E este é o sítio ideal para apresentar esses modelos e discutir com os parceiros que aqui aparecem. A nível europeu, esta feira é imbatível.

Habitação acessível e buil-to-rent em solo municipal são os principais projetos que aqui traz?

São. Uma câmara como a do Porto não tem capacidade de desenvolver por si própria todos estes projetos e de os financiar. Não temos nenhum problema em fazer isto com parceiros privados. Ou seja, os modelos de concessão ou de PPP são considerados muito úteis porque nos permitem alavancar rapidamente estes projetos, sobretudo mais rapidamente do que se os fizermos apenas com recurso aos fundos públicos disponíveis. Hoje, há uma enorme carência de habitação a preço acessível. É verdade que temos sido capazes de desenvolver projetos para aquilo que é a renda social, mas na renda acessível precisamos de ir mais além. Isto é uma forma de introduzir um acelerador.

Qual é o horizonte e prazo para ter esses concursos lançados? Ainda para mandato?

Lançámos o Monte da Bela há uns meses, mas não correu bem, a situação era de incerteza no mercado devido à pandemia, não era o momento adequado. Estamos a refazer o modelo, provavelmente com a Câmara Municipal do Porto a fazer as infraestruturas, o que dá maior garantia aos investidores. Acreditamos que rapidamente podemos lançar esse concurso, tal como o Monte Pedral, que está pronto. Fizemos, somo sabem, uma discussão sobre o que lá deveríamos construir. Hoje, temos o programa estabilizado, com uma residência de estudantes que vamos desenvolver com a Universidade do Porto. Vamos ter escritórios, num modelo privado, mas há toda uma grande área, são cerca de 330 habitações. Vamos lançar proximamente um concurso no sentido de perceber até que ponto isto interessa ao mercado, queremos entender se 330 habitações naquela zona da cidade é muito relevante.

Qual é o balanço possível do Porto com Sentido?

Começou lentamente. É curioso como é que ainda hoje os investidores olham para o mercado do arrendamento com suspeita, mesmo quando o inquilino é uma Câmara Municipal. Felizmente, as coisas têm vindo a acelerar e ainda hoje tive um contacto com um investidor que se mostrou muito interessado nisso. Ou seja, muitos dos investidores têm dúvida em colocar os seus imóveis no mercado de arrendamento, principalmente se não são lotes grandes – se são quatro ou cinco habitações. O receio é que haja incumprimento por parte do arrendatário e que isso leve a uma degradação das suas condições.

Ao aparecer a Câmara, no fundo, como intermediário, isso dá maior confiança ao investidor para baixar preço, que é o objetivo. Pensamos que esse modelo, semelhante ao de Lisboa, começa a ter pernas para andar.

A atração de empresas tem sido outro desafio do município. Até que ponto esse objetivo é também aqui cumprido? Como está a correr a missão de convencer a transformação de mais solo para escritórios?

Temos verificado que há muita procura, principalmente de grandes espaços. Mais uma vez, a pandemia levantou algumas questões e algumas hesitações por parte dos investidores e o facto de as pessoas estarem a trabalhar a partir de casa não ajuda muito essa equação. Mas o que me parece hoje claro é que precisamos no Porto de grandes espaços, de espaços de coworking. Essa é uma área na qual os investidores podem, naturalmente, substituir-se ao Município. Não faz parte da nossa estratégia sermos proprietários de escritórios para alugar. O que podemos fazer, e temos feito, é no âmbito do novo Plano Diretor Municipal, que de alguma maneira racionaliza aquilo que é a oferta de espaços de escritórios na cidade, principalmente usando um outro vetor: as obras de linhas de metro que estamos a desenvolver, um tema muito importante para estes investidores. Acreditamos que conseguiremos uma nova fileira de investidores interessados em construir esses espaços que depois nos permitem atrair empresas. As empresas não vêm se não houver espaços de escritórios disponíveis.

A aposta na Reabilitação Urbana e no casco histórico é uma história de grande sucesso no Porto dos últimos 10/15 anos. A missão foi cumprida ou ainda há muito trabalho a fazer nesta frente?

Relativamente ao centro histórico, acho que as coisas correram tão bem que as pessoas já se esqueceram de como aquela zona era há 10 anos. O trabalho começou antes de mim, com a Sociedade de Reabilitação Urbana. As pessoas já se esqueceram como era a rua da das Flores ou Mouzinho da Silveira. Agora, temos de resolver os problemas de mobilidade. A nova linha do metro vai resolver uma parte dessa equação, mas também as obras na nova ponte que vai permitir, provavelmente, pedonalizar o tabuleiro inferior da Ponte Luís I, os parques de estacionamento, a criação de bolsas para moradores... Hoje, estamos na fase seguinte: criar condições de atratibilidade e condições de fixação para a população. A recuperação do Centro Histórico acho que nos surpreendeu a todos, foi muito mais rápida do que pensávamos. Esta equação de que estamos a falar não se colocava há pouco anos, por isso estamos a correr atrás de resolver um problema de hoje existe. Também compreendo que o período que vai demorar as obras da nova linha de metro – pelo menos dois anos e meio –, cria grandes constrangimentos. Mas os sistemas de transportes são assim. As coisas, como tenho dito, ficarão piores antes de melhores. Na verdade, pior do que estão neste momento, já não ficam. Foi curioso perceber que as pessoas criaram novos hábitos e rotinas. Sei que causa algum incómodo e ansiedade a algumas pessoas, mas não se podem fazer obras... sem as fazer. Tenho que apelar um pouco à paciência.