O Convento do Grilo, localizado na freguesia do Beato, em Lisboa, possui uma longa e rica história, marcada por diferentes utilizações ao longo dos séculos. A Santa Casa deu-lhe agora uma nova vida ao serviço de Lisboa.
Em 1683, um incêndio devastador atingiu o Convento do Grilo, destruindo grande parte das suas instalações, incluindo a igreja. Apesar dos danos, a reconstrução foi feita de imediato, permitindo que o convento voltasse a desempenhar suas funções religiosas e sociais. No entanto, recorda a Santa Casa, o terramoto de 1755 voltou a afetar a estrutura do edifício. Desta vez o espaço não foi afetado por nenhum incêndio, o que facilitou a sua recuperação, quando comparado com outros locais de culto da cidade.
Com a extinção das ordens religiosas, em 1834, o convento foi convertido no Recolhimento de Nossa Senhora do Amparo ou do Grilo, que antes estivera na Mouraria, e que tinha como principal objetivo prestar apoio a mulheres em situação de precaridade. Durante esta fase, o edifício manteve sua função de acolhimento e apoio social, embora em moldes diferentes dos inicialmente previstos pelos Irmãos Descalços de Santo Agostinho.
Com o avanço da industrialização, o Convento do Grilo conheceu uma nova transformação. A partir de 1897, toda a zona conventual foi adaptada para a instalação de uma indústria alimentar. Durante o século XX, o convento permaneceu numa situação de incerteza quanto à sua utilização, sendo alvo de diferentes propostas de requalificação e recuperação patrimonial.
Já no século XXI, o Convento do Grilo passa para a gestão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, marcando o início de uma nova fase na sua longa história. A Instituição, também ela com uma vasta tradição no apoio aos mais necessitados em Lisboa, viu no convento uma oportunidade de reforçar a sua missão.
No final do ano passado, a 10 de dezembro, a Santa Casa, depois de uma reabilitação do convento, inaugura naquele espaço o Centro de Alojamento Temporário do Grilo, dedicado ao acolhimento de pessoas em situação de sem-teto. A cerimónia contou com a presença do Provedor da Santa Casa, Paulo Sousa, da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Maria do Rosário Palma Ramalho, e do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas.
Na ocasião da inauguração do Centro de Alojamento Temporário do Grilo, o Provedor Paulo Sousa fez questão de salientar que esta “não é apenas uma resposta às necessidades imediatas da cidade e das pessoas, mas é uma demonstração do compromisso da Santa Casa com o futuro”. Paulo Sousa fez ainda questão de salientar que a Santa Casa continuará a “trabalhar lado a lado com a cidade, com a Câmara Municipal de Lisboa e com a Segurança Social, para construir uma cidade mais justa, inclusiva e solidária, onde cada pessoa tenha as oportunidades que merece”.
Também Carlos Moedas frisou que só com uma “conjugação de esforços é possível alcançarmos respostas efetivas para as pessoas”. O responsável referiu que “a área das pessoas em situação de sem-abrigo é uma prioridade para a autarquia”, acrescentando ser necessário “o apoio de todos”.
Uma mensagem partilhada por Maria do Rosário Palma Ramalho, lembrando que a realidade desta população vulnerável se tem modificado ao longo dos tempos. “Hoje, temos pessoas em situação de sem-abrigo que trabalham, que conseguem ter rendimentos, mas que por diversas razões estão nesta situação. Em conjunto, estamos a pensar em estratégias para que possamos dar a melhor resposta e com a dignidade que estas pessoas merecem.”

Trabalho nem sempre retira as pessoas da situação de pobreza
Este projeto inovador surge no âmbito de uma estratégia da Santa Casa para a cidade de Lisboa, com vista à redução da exclusão social e reintegração de pessoas em situação de vulnerabilidade. O centro destina-se a adultos, entre os 18 e os 65 anos, que se encontrem em situação de sem-teto há menos de um ano e que possuam rendimentos provenientes de trabalho ou formação profissional, embora não consigam aceder a habitação própria, atendendo ao elevado preço provocado pela escassez de casas no mercado.
Uma realidade corroborada por vários estudos, demonstrado que o acesso ao mercado de trabalho nem sempre retira as pessoas da situação de pobreza, sendo que hoje, na cidade de Lisboa, se tem registado um aumento significativo de cidadãos a viver na rua, em que uma das razões para se encontrarem nesta situação assenta precisamente na precariedade laboral e no aumento exponencial dos preços da habitação.
Perante esta problemática, a Santa Casa decidiu providenciar uma resposta concreta para a cidade de Lisboa, tendo efetuado obras de reabilitação no interior do Convento do Grilo, para dotar os seus espaços de conforto e habitabilidade adequados ao objetivo pretendido.


Resposta social de emergência para até 90 pessoas
O Centro de Alojamento Temporário do Grilo tem uma capacidade inicial para 48 pessoas, podendo expandir-se até 90 vagas, em momentos de maior necessidade. Esta resposta social faz parte de um conjunto de medidas complementares promovidas pela Santa Casa para Lisboa, em conjunto com a CML e outras entidades, para combater a exclusão social e construir uma cidade mais solidária e inclusiva.
Este novo equipamento vem, assim: reforçar a capacidade instalada de alojamento temporário da SCML e da cidade de Lisboa; complementar e diversificar a resposta existente, por tipo de públicos; facilitar o trabalho das equipas do NPISA – Núcleo de Planeamento e Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo e do atendimento da Unidade de Emergência da SCML, pois estas equipas passam agora a poder contar com mais uma resposta para poder encaminhar pessoas em situação de sem teto.
A resposta dada no Centro de Alojamento Temporário do Grilo contará com uma equipa técnica multidisciplinar, que contribuirá para o desenvolvimento de um modelo de intervenção e acompanhamento integrado, centrado na pessoa, ou seja, no indivíduo, na família e na comunidade. A intervenção com vista a assegurar a estabilidade psicossocial pressupõe o aumento da perceção de segurança e estabilidade, e subsequente diminuição do stress, aumentando consequentemente a progressão em direção aos objetivos, ou seja, a perceção de uma perspetiva de futuro de cidadania integral, e assenta numa abordagem em pontos fortes e não nas dificuldades dos indivíduos.
O edifício, que outrora acolheu monges, frades e mulheres em situação de risco, mantém assim a sua vocação secular, agora reabilitado e adaptado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa às necessidades do século XXI.
