Imobiliário espera regressar à normalidade daqui a um ano

15/04/2020
Imobiliário espera regressar à normalidade daqui a um ano

No âmbito do Portuguese Housing Market Survey (PHMS) de março, inquérito de sentimento realizado todos os meses pelo RICS e pela Confidencial Imobiliário, os profissionais responderam a duas questões adicionais relativas às expetativas de recuperação das vendas e dos preços do mercado residencial no atual contexto de pandemia.

Registou-se em março uma deterioração abrupta no sentimento dos operadores que atuam no mercado habitacional, com as medidas adotadas para combater a propagação do coronavírus a restringir fortemente as expetativas relativas às vendas.

De acordo com este inquérito, o indicador de procura (consultas por novos compradores) caiu em março (saldo líquido de -59% dos inquiridos a reportar uma queda), após dois meses de subidas consecutivas, registando uma descida em todas as regiões cobertas pelo inquérito (Lisboa, Porto e Algarve).

Já o volume de vendas desceu para 52% dos inquilinos no mês de março. Com a expetativa de manutenção das medidas de distanciamento social nos próximos meses, as expetativas de vendas no curto-prazo estão firmemente em território negativo, com um saldo líquido de -71% dos inquiridos a esperar que os níveis de transações caiam no curto-prazo.

Relativamente aos preços, a quebra em março foi atestada com um saldo líquido de respostas de -18%, e todas as regiões têm expetativas negativas num horizonte de 3 a 12 meses. No próximo ano, a descida generalizada poderá ser de pouco mais de 7%.

Em março desceu também a procura por arrendamento, com um saldo líquido de respostas de -37%, que se afigura como a primeira leitura negativa deste indicador desde 2014. 63% das respostas antecipam uma quebra no valor das rendas no curto-prazo.

Ricardo Guimarães, diretor da Ci, comenta em comunicado que “é natural que as expetativas de curto-prazo estejam em baixa, refletindo a incerteza sobre quando esta crise do Covid-19 irá terminar. Esse é um fator crítico, por razões de saúde e económicas. Ainda assim, as opiniões quanto ao período pós-crise são menos pessimistas e antecipam uma recuperação no espaço de 12 meses depois que o surto esteja controlado”.

De acordo com o responsável, “alguns operadores notam que já anteriormente estava a acontecer uma desaceleração do mercado, motivada pelas alterações legais aos regimes dos Residentes Não-Habituais e dos Vistos Gold. Ainda assim, há uma perceção global de que a retoma irá depender muito da extensão que esta crise terá na economia e do impacto no rendimento das famílias e na disponibilidade das empresas em voltar a investir”.

Para Simon Rubinsohn, Chief Economist do RICS, “a descida sentida nos indicadores da atividade atual bem como nas expetativas futuras claramente refletem as medidas emergência adotadas para limitar a propagação do coronavírus. O feedback também sugere que o legado do Covid-19 poderá ser de tal dimensão, que qualquer retorno ao que pode ser chamado de ‘normalidade’ na economia vai levar tempo e que as famílias vão manter-se cautelosas também por um bom tempo”.

Alterações dos ‘golden visa’ não são “uma prioridade”

Entretanto, a revisão do regime de Autorização de Residência para Atividade de Investimento, ou “golden visa”, prevista no Orçamento do estado para 2020, não deverá avançar este ano.

De acordo com uma fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros, a alteração legislativa prevista “não é uma prioridade neste momento” e não terá efeitos até ao fim do ano, cita o Dinheiro Vivo.

Está em causa uma proposta que acaba com a possibilidade de obtenção de ‘vistos gold’ com a aquisição de imóveis nas cidades de Lisboa e no Porto, além das Comunidades Intermunicipais do Litoral, com o objetivo de canalizar o investimento para os territórios do interior e para as regiões autónomas.

De recordar que em fevereiro o secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, Tiago Antunes, explicou que as novas regras dos vistos só entrariam em vigor no início de 2021, para que a alteração não tivesse impacto nos negócios em curso.

Este mecanismo poderá ser importante para o setor imobiliário em particular e para a economia no geral, num contexto de paralisação da atividade por causa da pandemia de Covid-19. É o que têm defendido vários agentes do mercado, como a APEMIP, a APR ou a APPII, entre outros profissionais.