O caminho para uma economia mais sustentável tem de ser feito com o imobiliário, pelo enorme impacto de emissões e consumo energético que esta indústria tem. Aliás, “o roteiro da descarbonização não avançará se não incluirmos os edifícios. E, para cumprimos as metas, a maioria dos edifícios precisará de intervenções profundas”.
A informação foi dada por Ângela Monteiro, diretora de Finanças Sustentáveis do Millennium bcp, na sua apresentação durante a Conferência da Promoção Imobiliária em Portugal, que se realizou a 18 de junho. Garante que “a descarbonização está preconizada nos objetivos da Taxonomia UE, e o imobiliário tem um papel crucial para o efeito”.
Cerca de 38% das emissões resulta direta ou indiretamente dos edifícios, que são responsáveis por cerca de 35% da energia consumida, com impacto em todo o ciclo de vida dos edifícios, da sua construção até à utilização.
Por isso, “sem ação ao nível dos edifícios, o ponteiro não mexe”. Quase 75% dos edifícios da União Europeia são energeticamente ineficientes, e precisarão de uma renovação energética em grande escala até 2050. Aliás, a Estratégia de Longo Prazo para a Renovação dos Edifícios estima que os edifícios portugueses precisem de um investimento na sua requalificação energética que ronda os 82 euros por metro quadrado até 2030, podendo chegar aos 258 euros por metro quadrado até 2050. Aqui está o grande potencial de mudança e melhoria.
Taxonomia da União Europeia vai garantir alinhamento com os objetivos de descarbonização
A Taxonomia UE está para ficar, definindo critérios específicos de classificação das atividades económicas, para garantir o seu alinhamento com os objetivos europeus de sustentabilidade climática e ambiental.
“Para estar alinhada com a Taxonomia, qualquer atividade económica – e isso inclui os ativos imobiliários, e, por conseguinte, o seu financiamento – tem de cumprir objetivos em prol da descarbonização”, nomeadamente em termos de mitigação das alterações climáticas, adaptação às mesmas, utilização sustentável dos recursos hídricos e marinhos, transição para uma economia circular, prevenção e controlo da poluição ou proteção e restauro da biodiversidade. Em suma, qualquer atividade que se pretenda classificar como alinhada com esta Taxonomia deve contribuir significativamente para pelo menos um dos seis Objetivos (p.e. a mitigação das alterações climáticas), e não prejudicar significativamente qualquer um dos outros Objetivos. E há novas obrigações de reporte para as empresas, em vigor desde o ano passado. Segundo Ângela Monteiro, “para os bancos, o principal indicador é o Green Asset Ratio, para o qual o crédito com colaterais imobiliários é muito relevante”.
Certo é que “ainda não se conhecem sistemas disponíveis no mercado que certifiquem o alinhamento com a Taxonomia UE”, mas a responsável garante que “estão a caminho”. Por agora, BREAM e LEED validam a elegibilidade como green project de acordo com os principais standards voluntários e estão, no fundo, “a fazer o trabalho de preparação para a certificação do alinhamento com a Taxonomia”.
O sistema financeiro funciona como acelerador da transição climática
Ângela Monteiro defende que “o sistema financeiro funciona como acelerador da transição climática”, nomeadamente através de produtos como Obrigações Verdes, Empréstimos Verdes, Hipotecas Verdes ou Linhas e Garantias Verdes. E há novas ferramentas, já em vigor e também em desenvolvimento, que podem ser úteis, mesmo para self-assessment, como o EU Taxonomy Navigator, o Green Gateway e o ecossistema SIBS ESG, entre outros.
Sustentabilidade “está a mobilizar todos os intervenientes” do setor imobiliário
“A valorização dos temas ambientais está a mobilizar todos os intervenientes e traduz-se em muitas oportunidades. Assistimos ao surgimento de toda uma gama de soluções ‘verdes’, com clara tendência de expansão das empresas que se destaquem neste caminho”.
As palavras são de Adriana Oliveira, diretora de Dinamização de Negócio Imobiliário do Millennium bcp, que recorda que o crescente interesse no mercado imobiliário português “reflete-se no aumento dos preços dos imóveis, especialmente em áreas urbanas e turísticas, oferecendo oportunidades de retorno que continuam a captar atenção de investidores e promotores”. Hoje, “a necessidade de garantir um desenvolvimento equilibrado, com a salvaguarda da acessibilidade da habitação e o esforço de alinhamento com as exigências decorrentes das metas da descarbonização” estão entre os principais desafios que mobilizam a indústria.
Segundo a responsável, “ao adotar uma abordagem responsável e focada nos compromissos da sustentabilidade, o mercado imobiliário português pode continuar a prosperar e contribuir de forma positiva para o crescimento económico do país, o bem-estar das comunidades e para o ambiente”.
Adriana Oliveira remata que “as instituições financeiras têm um papel essencial na evolução que se perspetiva e o Millenniumbcp é assumidamente uma variável positiva enquanto agente impulsionador e parceiro das empresas e famílias”.