A escolha de janelas eficientes melhora o conforto térmico e acústico de qualquer edifício, mas contribui também para uma vertente às vezes descurada: a segurança dos utilizadores. Renovar um edifício ou simplesmente trocar janelas deve ser também uma oportunidade para melhorar as condições de segurança de quem usufrui do espaço.
João Ferreira Gomes, presidente da ANFAJE – Associação Nacional dos Fabricantes de Janelas Eficientes, defende que “uma janela eficiente pode também ser um fator acrescido de segurança para os ocupantes dos edifícios”, seja contra intrusões ou contra acidentes. “As janelas eficientes podem ser dotadas de várias tipologias de abertura, como oscilo batente, e têm dispositivos de segurança nas próprias ferragens, que as tornam mais robustas ao nível da segurança antirroubo e também contra a abertura ou queda acidental de crianças”.
Desde logo, uma janela eficiente vai tornar as tentativas de intrusão mais difíceis e demoradas, o que pode fazer com que sejam escolhidos alvos mais fáceis em alternativa. Vidros laminados são difíceis de quebrar e ferragens adequadas vão requerer ferramentas específicas e mais tempo para arrombar.
No que diz respeito aos acidentes, o responsável da associação identifica que a legislação que diz respeito à segurança das janelas é mais apertada noutros países do que em Portugal. “No nosso país não há regras específicas. A ANFAJE faz recomendações para que, de facto, quem vai substituir janelas tenha em consideração também esta questão, que pode ser resolvida com ferragens ou vidros específicos. Por exemplo, quem tem uma janela de correr, pode substituir por batentes que são contraintuitivos para as crianças pequenas, ou por janelas com fechaduras nos manípulos, isto já aumenta a segurança em casa”.
A tecnologia atual também já torna o próprio vidro seguro, como o vidro laminado ou temperado que, tal como nos veículos, minimiza os ferimentos em caso de impacto e quebra. “Em caso de choque, por exemplo, o vidro não vai cortar, ao contrário do vidro simples que ainda é usado em vários edifícios públicos em Portugal, como escolas, onde já ocorreram alguns acidentes graves nos últimos anos”.
Por tudo isto, “se vamos substituir janelas ou fazer obras de reabilitação de edifícios, é fundamental termos em consideração estas temáticas, e não só se for um projeto de construção nova, que já tem essas preocupações. Temos de ter isso em conta nas nossas casas, até porque sistemas de segurança não vão encarecer o custo da intervenção de forma significativa e podem evitar situações muito desagradáveis”. A ANFAJE garante que as empresas fabricantes e instaladoras de janelas eficientes estão capacitadas para dar o aconselhamento certo.
A associação apela também aos promotores imobiliários que deem mais atenção a este tema da segurança. “Ainda não vemos esta temática no centro da preocupação, mesmo no caso de empreendimentos de luxo”, onde o custo não é tão impeditivo. “Chegam às empresas muitos projetos com janelas mais minimalistas que não têm sistemas antirroubo, e o vidro é desadequado. Penso que é necessária mais sensibilização junto dos promotores imobiliários para este tema, para que depois possam fazer essas solicitações junto dos arquitetos. Porque uma janela segura é um fator muito diferenciador num projeto imobiliário”, refere João Ferreira Gomes.
Mais segurança deveria baixar prémios dos seguros
A ANFAJE assume que vai continuar a promover a literacia sobre estes temas, e uma das medidas que defende é a redução dos prémios dos seguros em função dos sistemas de segurança instalados. No fundo, “um reconhecimento positivo desse tipo de soluções”, o que já acontece no Reino Unido. “Nesse caso, existem alguns selos de garantia específicos, que são também reconhecidos pelas autoridades metropolitanas de polícia”.
“Às vezes, os pais podem até ter um seguro de acidentes pessoais para os seus filhos, mas não há a preocupação de saber o que têm em casa em termos de envidraçados. Como é que a casa está construída? Que tipo de caixilharias têm? Está facilitada a abertura das janelas por parte das crianças? Tem algum dispositivo de segurança?”. João Ferreira Gomes alerta também que “quando fazemos seguros antirroubo da habitação não há uma preocupação grande em tentar entender as condições instaladas, além de saber se a porta de entrada é blindada”, e espera “que as seguradoras olhem para isto com atenção. A ANFAJE vai continuar a fazer contactos mais próximos com as seguradoras portuguesas para ver de que forma podemos colaborar, porque isto também diminui o próprio nível de risco das empresas. Vamos também partilhar alguns estudos que temos a nível europeu sobre o tema”.
“Precisamos de programas de apoio à substituição de janelas para a generalidade das famílias”
Este verão, o Governo publicou os avisos dos programas E-Lar e Bairros + Sustentáveis, que apoiam a substituição de equipamentos domésticos e obras de melhoria da eficiência energética dos edifícios. O primeiro, destinado a famílias vulneráveis, o segundo a municípios, IPSS ou associações e outras entidades públicas.
Mas as empresas associadas da ANFAJE não têm, regra geral, registado contactos neste sentido. “As autarquias têm as autárquicas à porta, certamente não estão a dar prioridade a este tema, e estão também a dar sequência às candidaturas que já fizeram ao PRR”.
“Claro que estes programas são úteis para Portugal aproveitar os fundos europeus para descarbonizar a economia, melhorar o conforto e a eficiência energética, mas estes programas vão beneficiar apenas as famílias mais vulneráveis, e a generalidade da população não tem qualquer apoio, nem sequer um incentivo fiscal para a substituição de janelas, que continua a ter IVA a 23%”, aponta João Ferreira Gomes.
A ANFAJE pede mais ambição ao Governo e defende a criação de “um programa que possa abranger todos os cidadãos”, e recorda o sucesso do Programa de Apoio a Edifícios + Sustentáveis, que financiava obras de melhoria da eficiência energética, incluindo a substituição de janelas. Com este tipo de apoio, “o Estado não perderia nada, bem pelo contrário, estaria a criar economia e a contribuir para a melhoria do parque edificado”.