Investimento imobiliário deverá manter patamar dos €3.000M

07/02/2023
Investimento imobiliário deverá manter patamar dos €3.000M

O investimento em imobiliário de rendimento em Portugal deverá manter-se acima dos 3.000 milhões de euros este ano, apesar do “otimismo cauteloso” com que o setor imobiliário arranca o ano. São muitos os fatores de incerteza, mas já se vislumbra algum abrandamento da inflação, e os fortes fundamentais do mercado e as “muitas oportunidades de investimento em curso” levam a CBRE a antecipar este volume de investimento “robusto”.

O valor é calculado pela CBRE, que na sua apresentação de tendências de mercado da última quinta-feira reportou que “só entre a segunda metade de dezembro e o início de janeiro fechamos operações de 400 milhões de euros, 40% já em janeiro, por isso estamos muito convictos deste número”.

Francisco Horta e Costa, diretor geral da CBRE em Portugal, identifica que “o mercado está a transitar para um novo equilíbrio mais saudável no que diz respeito à oferta, preços, taxas de juro e retorno”. Uma das novidades é que “teremos de pensar nas consequências da inflação e da subida das taxas de juro pelo menos uma vez por mês”, e considera que “não chegamos ainda ao final da fase de descoberta do preço, as yields deverão continuar a corrigir (em alta) durante este ano”. Por outro lado, “teremos de ser mais criativos na forma como usamos e estruturamos os financiamentos”.

A escassez de produto promete continuar a ser “constante” em vários setores este ano, nomeadamente na habitação, mas também na logística, por exemplo. Além disso, o mercado tem grandes carências de residências de estudantes, e de 50.000 camas de residências sénior. Também os novos escritórios têm sido rapidamente ocupados antes da sua conclusão, evidenciando também esta escassez.

Preços da habitação ainda não descem este ano

No ano passado, venderam-se cerca de 170.000 casas, um número de operações que se deverá manter relativamente estável ou descer em 2023, devido às maiores dificuldades de acesso ao crédito e ao aumento das taxas de esforço das famílias, decorrente da subida das taxas de juro. A falta de oferta vai sustentar a continuação da subida dos preços. Cristina Arouca, Head of Research da CBRE Portugal, ressalva que “a base que partimos é excecional: nunca se vendaram tantas casas na última década como em 2022”.

Nuno Nunes, Head of Capital Markets, destaca também o crescimento do mercado de arrendamento, “não só o número de novos contratos, mas também o valor das rendas”, uma tendência que “vai continuar”, até porque esta é a alternativa para quem precisa de casa.

Mostra ainda boas expetativas para os programas de renda acessível ou para a utilização dos fundos do PRR, pois “pode ser este o ano em que a equação da construção para arrendamento começa a funcionar”.

Sustentabilidade para manter valor do imobiliário

O líder da CBRE salienta também a crescente importância que a sustentabilidade tem no imobiliário, nomeadamente enquanto “necessária para manter o valor” do património, e não só para acrescentar. A impulsionar a mudança, o aumento dos custos de construção e da energia, que “despertaram as empresas” para a importância de adotar medidas sustentáveis.

“Ao nível dos edifícios, portfólios, organizações, precisamos de uma estratégia integrada de ESG (Environment, Social, Governance)”. Isso passa por mais certificações ambientais: “ao nível europeu, em média, 20% dos edifícios são certificados, o que compara com os 5% em Portugal, apesar de as certificações terem crescido muito nos últimos anos”. Horta e Costa conclui que “o nosso nome do meio terá de passar a ser ‘net-zero’”.

Um “salto qualitativo”

Francisco Horta e Costa identifica que o mercado está a passar por uma transição “para um patamar superior do produto imobiliário, que se aplica a investidores, ocupantes e utilizadores”. Explica que até há pouco tempo “esta qualidade não existia em Portugal. A localização será sempre muito importante, mas importa perceber quais os aspetos diferenciadores dos produtos”, nomeadamente ao nível da tecnologia, da sustentabilidade, ou dos serviços incluídos. Está convicto de que os imóveis terão de se atualizar para responder a estes novos standards e exigências.

“Agribusiness” em crescimento

A CBRE considera que a área de “agribusiness”, ou terrenos agrícolas, é um dos segmentos de mercado que está a passar por uma verdadeira revolução em Portugal, com a implementação de novos modelos de cultura mais produtivos e com forte componente tecnológica.

Segundo a consultora, este segmento está a atrair a atenção dos investidores internacionais e pode mesmo vir a representar mais de 10% do investimento em imobiliário de rendimento este ano.