Investimento em janelas eficientes “deve ser prioridade na melhoria de qualquer habitação”

04/10/2023
Investimento em janelas eficientes “deve ser prioridade na melhoria de qualquer habitação”
João Ferreira Gomes, presidente da ANFAJE

Na hora de melhorar o conforto de uma casa, as intervenções devem começar pela substituição de janelas antigas por janelas eficientes. Este investimento “deve ser prioridade na melhoria de qualquer habitação”

É o que defende João Ferreira Gomes, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Janelas Eficientes – ANFAJE. Em entrevista ao Público Imobiliário, explica que, por serem um dos pontos mais frágeis das fachadas, as janelas são também o elemento cuja melhoria mais efeitos tem na melhoria do conforto geral da casa”. 

De acordo com a associação, há mais conhecimento entre o público em geral sobre as vantagens de substituir janelas antigas por novas janelas. “Muitas pessoas já conhecem outras pessoas ou casas com este tipo de janelas instaladas, e reconhece as melhorias no conforto”. E “nunca como hoje houve tantos apoios para melhorar as habitações, nomeadamente fundos europeus e novas linhas de financiamento”, dos quais há que tirar partido.

Reduzir a fatura energética 

Instalar janelas eficientes em casa tem várias vantagens, e é “um investimento na melhoria do conforto e da segurança da habitação”, defende. Por um lado, permite “melhorar o conforto térmico, melhorando a envolvente passiva da casa e reduzindo os consumos energéticos nos picos de frio ou de calor”. João Ferreira Gomes afirma que “o que investimos em janelas eficientes tem automaticamente um retorno muito evidente na poupança energética, pois ter janelas melhores permite deixar de usar tanto os equipamentos de aquecimento ou refrigeração”. Só depois de instalar uma janela eficiente se devem proceder a outro tipo de melhorias, já que “não adianta gastar energia, que pode sair pelas janelas, sem melhorar primeiro a envolvente passiva”.

Maior segurança em casa

As janelas eficientes contribuem também para ter uma casa mais segura, já que “têm uma série de mecanismos incorporados, como sistemas de ferragens específicos ou vidros laminados, que dificultam que a entrada na habitação possa ser feita pela janela. 

Menos stress e mais saúde

Ao mesmo tempo, contribuem para o conforto acústico, que se mede “em saúde”, já que ter ruído dentro de casa “sujeita-nos a níveis de stress elevados”. A melhoria a este nível “não tem um retorno palpável de forma tão imediata, mas tem também muito impacto na qualidade de vida”. 

Um trabalho fácil de executar, que aumenta o valor do imóvel

Além disso, “é um trabalho relativamente rápido e fácil de executar, que não necessita de grandes obras de construção civil e tem um menor tempo de execução. As empresas estão disponíveis para executar estes serviços de forma adequada”, garante. 

Instalar janelas eficientes contribui para valorizar o património imobiliário. “Com este investimento, melhoro também o valor do próprio imóvel. Se quiser arrendar ou vender esta casa, aumento o valor potencial que posso pedir ao mercado, um aumento de valor que pode vir também atestado com o próprio certificado energético”, lembra o responsável. 

Programa de Apoio a Edifícios Mais Sustentáveis precisa de melhorias

Foi lançado este verão um novo aviso (o primeiro deste ano) do Programa de Apoio a Edifícios Mais Sustentáveis, uma iniciativa do Fundo Ambiental que, com fundos europeus, nomeadamente do RepowerEU, através do Plano de Recuperação e Resiliência, apoia a fundo perdido intervenções de melhoria da eficiência energética e descarbonização das habitações, incluindo a instalação de janelas eficientes, numa dotação inicial disponibilizada de 30 milhões de euros neste aviso (de um total de 100 milhões de euros). 

Sendo ainda cedo para fazer o balanço deste programa, que tem candidaturas abertas até 31 de outubro, a ANFAJE faz uma avaliação positiva do programa, “na medida em que há mais verbas para os portugueses melhorarem as suas habitações e mudarem as suas janelas antigas por janelas eficientes”. Por outro lado, contribui para o dinamismo e atividade das empresas deste setor. 

No entanto, a associação considera que “o programa está ainda muito aquém do desejado”, nomeadamente ao nível da divulgação, que “neste momento é apenas uma nota de rodapé no dia em que sai o aviso, e depois disso não há mais informação. O cidadão que poderia eventualmente beneficiar deste programa e usar estes fundos para melhorar a sua habitação às vezes nem sabe que existe”. 

No caso deste aviso, e por ter sido lançado a 16 de agosto, em pleno período de férias, a ANFAJE teme que o processo não tenha ficado facilitado, já que “a maioria das empresas estava fechada e não pode dar a resposta mais adequada aos seus clientes”, incluindo o esclarecimento de dúvidas sobre documentação ou outros procedimentos. “Sabemos que basta faltar um papel para que possa não haver candidatura”, destaca João Ferreira Gomes. 

Além do mais, critica o sistema de avisos pontuais: “o programa vai saindo aos solavancos, aos poucos, e isso não oferece muita confiança ao mercado ou aos consumidores. E temos vindo a apontar estas questões ao Ministério do Ambiente e ao Fundo Ambiental. Seria preferível o lançamento de um aviso anual, que começasse a 1 de janeiro e com boa divulgação, que terminava quando se esgotasse a verba de apoio. Facilitava a vida a todos, inclusive ao Fundo Ambiental, e gerava mais confiança no mercado, criando mais previsibilidade”. 

Mas João Ferreira Gomes aponta ainda que “esperávamos que os apoios do RepowerEU fossem canalizados para a melhoria da envolvente passiva dos edifícios, para reduzir os consumos energéticos dos edifícios na Europa, mas no PAE+S estes financiamentos estão também a ser canalizados para financiar equipamentos que consomem energia. É uma contradição muito grande que não sei como se explica. Em todos os planos está escrito que se tem de começar a melhorar pela envolvente passiva, e só depois progredimos por etapas” nas melhorias dos edifícios. 

“Temos de ser mais criativos e mais ambiciosos”

“Continuamos muito apostados em divulgar e promover as vantagens das janelas eficientes na criação de edifícios mais sustentáveis e mais confortáveis, que correspondam às necessidades de quem usa as habitações”. Por isso, a associação mantém-se “em contacto permanente com os promotores imobiliários portugueses, para que compreendam que o elemento construtivo mais débil mas de escolha mais importante são as janelas, parte da fachada e da envolvente do edifício”. 

A ANFAJE trabalha também para “fazer chegar às entidades oficiais de que ainda há muito para fazer, são 3,5 milhões de fogos com janelas com vidro simples. Temos de usar os recursos que temos, mas temos de ser mais criativos e mais ambiciosos, e é isso que pedimos ao Governo português”, remata João Ferreira Gomes, nomeadamente “no desenho e comunicação dos programas, que precisam de mais promoção”.