Janelas eficientes permitem “enorme diferença em termos de conforto”

08/03/2023
Janelas eficientes permitem “enorme diferença em termos de conforto”
João Gomes, Presidente da ANFAJE

Numa altura em que aumentam as preocupações com a sustentabilidade ou as necessidades de poupança de energia, as janelas eficientes assumem-se como uma das mais importantes mudanças a fazer numa casa. A substituição de janelas cria, por si só, “uma enorme diferença em termos de conforto”.

É o que defende João Ferreira Gomes, presidente da ANFAJE – Associação Nacional dos Fabricantes de Janelas Eficientes. Em entrevista ao Público Imobiliário, nota que, quando se fala de conforto e eficiência energética, “o isolamento térmico é fundamental numa das componentes mais débeis da envolvente dos edifícios, que são as janelas”, por onde se perde 40% da energia dos edifícios. “Se tiverem melhores características de isolamento, isto permite que a envolvente do edifício tenha toda ela melhor isolamento, e isso vai garantir que a energia despendida com aquecimento seja menor, por termos poucas ou nenhumas perdas térmicas”. Esta é a razão pela qual a substituição de janelas é uma das obras mais apoiadas em quase todos os países da União Europeia no que toca à melhoria do parque edificado.

Segundo João Ferreira Gomes, vários programas de apoio à melhoria do isolamento térmico das habitações têm estado em vigor na União Europeia, “agora principalmente focados na poupança energética”. O financiamento canalisado tem sido “volumoso”, e a adesão tem sido “fantástica”, assim como em Portugal, nomeadamente com o programa Edifícios + Sustentáveis, dedicado a particulares e a habitação própria e permanente.

Até porque os clientes portugueses que compram casa nova ou melhoram aquela onde já residem já estão hoje “extremamente informados”, nomeadamente ao nível da necessidade de começar os melhoramentos pela substituição de janelas. Segundo João Ferreira Gomes, “ainda há muito desconhecimento sobre qual a melhor escolha de que tipo de janela, e aí há um grande trabalho a fazer por parte das empresas do setor, nomeadamente ao nível da etiquetagem energética, para uma maior literacia sobre o que é uma janela eficiente e qual a solução mais adequada a cada caso. As empresas e o setor devem facilitar estas informações cada vez mais para que possam fazer escolhas acertadas e informadas”.

Programas de apoio à eficiência energética devem ser reforçados

Depois de vários reforços de dotação, o PE+S apoiou a melhoria da sustentabilidade dos edifícios num total de 122,6 milhões de euros entre junho de 2021 e maio de 2022. A categoria de Janelas Eficientes foi a mais usada, representando 24% das candidaturas. As várias dotações e o facto de a verba ter sido esgotada em cerca de um ano em vez de quatro, como inicialmente previsto, “mostra as grandes necessidades da população”, segundo João Ferreira Gomes. Apela agora ao relançamento do programa, e alerta que estes últimos meses sem novidades por parte do Fundo Ambiental “criam desconfiança no mercado, e não dão perspetivas às empresas para continuar a investir em recursos humanos”.

O programa Vale Eficiência foi também uma iniciativa lançada pelo Fundo Ambiental com o objetivo de melhorar a eficiência energética das habitações, mas o sucesso não foi o mesmo. Tem ainda uma taxa de execução baixa, várias “fragilidades”, e “há um grande caminho a percorrer”, segundo o responsável. Podem usar o Vale Eficiência os beneficiários da tarifa social de energia, mas “muitas delas podem não ter conhecimento de que o programa existe, e também por isso teve pouca adesão. É preciso reforçar a comunicação com a população-alvo deste programa, que não está a usar o seu potencial”.

Por outro lado, o programa tem “uma carga burocrática de backoffice muito grande para as empresas”, que têm de apresentar a candidatura pelo cliente e aguardar o reembolso do Fundo Ambiental, um trabalho que, dada a relativamente baixa quantia das intervenções, não compensa aos empresários: “as micro-empresas, que representam a maior parte dos setor, não têm disponibilidade de recursos humanos ou tempo para tratar destas candidaturas em nome dos clientes”. Seja como for, “os dois programas precisam de melhorias para aligeirar” os procedimentos. “Temos de ser ágeis e fazer com que o processo seja o mais fácil possível”. E lembra, por outro lado, que “com estas pequenas obras ajudamos também no combate à evasão fiscal, que é ainda bastante elevada em Portugal”.

Nova diretiva a caminho, ainda mais exigente

No seio da Eurowindoor, a ANFAJE está a acompanhar a elaboração da nova diretiva europeia que vai regular a eficiência energética dos edifícios. O presidente acredita que “vai dar um grande avanço no que diz respeito às exigências dos nossos produtos”. Exemplifica que “a partir do momento em que seja transposta, as nossas janelas terão de ser muito mais exigentes ao nível do isolamento térmico, e teremos de ter construções de consumo zero, o que vai implicar que a envolvente passiva do edifício seja mais eficiente. Paredes e janelas terão de ter soluções com grande isolamento, para que o consumo energético seja reduzido ao mínimo. E em Portugal, apesar de sermos um clima temperado, temos zonas climáticas com diferenças de temperatura muito grandes, e é necessário avançar na qualidade da construção”, alerta.

Certo é que “temos muito a fazer, de vencer um gap muito grande que existe entre a má qualidade da construção e a nova construção que tem de seguir um novo paradigma, que não tem de ter impacto nos custos de construção, mas sim mais informação técnica sobre as soluções mais acertadas por parte dos projetistas, arquitetos ou promotores imobiliários”. João Ferreira Gomes acredita que “temos de construir melhor”.

Combater a pobreza energética exige “mais ambição”

Para o responsável da ANFAJE, estamos num momento único de oportunidade de melhoramento do parque edificado português. “As necessidades são grandes, há fundos europeus, e não sabemos como é que o Governo não os utiliza com mais ambição para melhorar as condições miseráveis em que algumas pessoas vivem. Existe dinheiro disponível, e nós portugueses temos de ter a capacidade e inteligência para canalizar as verbas e garantir que chegam a quem precisa”.

João Ferreira Gomes defende que “temos de estar à altura do desafio de reabilitação do parque habitacional europeu, temos de colocar programas que vão ao encontro dessas metas ambiciosas da Estratégia de Longo Prazo para a Renovação de Edifícios, por exemplo. Programas e medidas públicas têm de ser criados e de estar de acordo com estas metas, e a informação não pode estar num site obscuro, tem de ser clara. “Falta-nos agora correr a maratona”.