Mais reabilitação energética é urgente no processo de eletrificação dos edifícios

26/03/2025
Mais reabilitação energética é urgente no processo de eletrificação dos edifícios

A eletrificação dos edifícios esteve em destaque na Semana da Reabilitação Urbana de Lisboa. Os especialistas acreditam que acelerar a reabilitação energética é o caminho para atingir os objetivos de eletrificação e neutralidade carbónica do parque edificado.

Na conferência “Eletrificar o parque edificado – O grande desafio da reabilitação urbana. Logo na abertura da sessão, José Manuel Sousa, vice-presidente da Ordem dos Engenheiros Técnicos (OET), destacou a atualidade e importância do tema, sublinhando que “a eletrificação da construção é uma consequência direta da eletrificação das nossas vidas”.

Na mesa-redonda que moderou sobre este tema, os especialistas abordaram a importância da renovação dos edifícios, a transição para energias mais limpas e a implementação de soluções para mitigar a pobreza energética. Vítor Amaral, presidente da APEGAC, alertou para a necessidade urgente de reabilitar o parque edificado. “Mais de 1 milhão de edifícios necessita de reabilitação: 70% deles são energeticamente ineficientes, com grandes carências em termos de eficiência energética”, afirmou, destacando também que o consumo de energia representa 10% do rendimento das famílias. Por isso mesmo, “há uma necessidade imperiosa de reabilitar os edifícios de forma a melhorar a qualidade de vida das pessoas”. A diretiva europeia, na opinião de Vítor Amaral, “é excelente, ajudando a ganhar qualidade de vida de forma complementar”. No entanto, alertou para a necessidade de “sensibilizar as pessoas para esta temática, pois há uma grande iliteracia energética. É fundamental sensibilizar os administradores de condomínio”, referiu, acrescentando que os incentivos também são essenciais: “seria importante reduzir a taxa de IVA nas obras de reabilitação e, especialmente, nas obras com grande impacto energético. Por que não até 0%?”, questionou. Até porque muitas famílias não têm capacidade para fazer o investimento necessário. Precisam de ser apoiadas, “não só financeiramente, mas também criando canais de apoio específico e técnico, e financiando os condomínios, como já se consegue em Espanha”.

António Bessa, Diretor Técnico da Schneider Electric, defendeu na ocasião os incentivos ao investimento e que é preciso acelerar o processo de descarbonização, pois “90% dos edifícios existentes irão tornar-se um risco financeiro se não conseguirem descarbonizar. Para cumprirmos os objetivos traçados, é fundamental mudar os padrões”. E acrescentou que “as renovações geram valor e diminuem os riscos financeiros”.

Por seu turno, Marcus Torres, Country Manager da ChargeGuru Portugal, abordou ainda a questão da mobilidade elétrica, defendendo que a instalação de carregadores em edifícios deve ser encarada como um bem comum: “as soluções de mobilidade elétrica existem”. O responsável confessou que o carregamento em edifícios é “um desafio”, mas “o grande desafio é a vontade, é preciso que as pessoas queiram fazer a transição, e que conheçam esta informação para tomar decisões informadas”.

Ávila e Sousa, Diretor Técnico e Marketing do Grupo Preceram, concorda que “temos de reabilitar os edifícios. Qual o material a incorporar? Esse é o grande desafio, e o grande passo que nós tentamos dar continuamente no Grupo Preceram. Procuramos sempre produzir materiais de alta qualidade, com o mínimo de emissão de CO2 possível”. Além disso, sublinhou que “a eletrificação dos processos produtivos na indústria está a dar passos significativos”.

Por outra perspetiva, Fernando Silva Gusmão, da Ordem dos Engenheiros Técnicos, destacou que “é necessário criar uma cultura de base em todos nós, e isso tem de começar nas escolas”. De acordo com o responsável, a legislação ainda necessita de evolução, especialmente no que diz respeito à mudança de mentalidade dos legisladores, uma vez que “a mentalidade de quem legisla precisa de mudar. É um grande obstáculo para atingirmos os nossos objetivos”.

A Semana da Reabilitação Urbana de Lisboa decorreu de 25 a 27 de fevereiro no Beato Innovation District.