Os mediadores imobiliários consideram que a informação dos imóveis que publicam não é propriedade dos portais. Mas como se consegue assegurar isto do ponto de vista legal? “Quando os portais nascem, são catálogos digitais, onde determinados domínios de atividade podem concentrar os seus anúncios e divulgar a sua informação”, explicou ao Público Imobiliário Paulo Caiado, presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP). Fazendo o paralelismo com o que se passava há 20 anos – quando uma imobiliária pagava a um meio de imprensa para que uma seleção de imóveis fosse publicada naquele espaço –, os portais vieram estabelecer exatamente o mesmo princípio, mas no mundo digital. “Ou seja, um local onde as empresas exportam a sua informação, consultável pelos utilizadores e assim satisfazendo a pretensão de divulgação”.
No entanto, em questão está a agregação desta informação em base de dados e o seu uso de uma forma não autorizada pela mediação imobiliária. “Não está correto que essa informação seja utilizada para fins comerciais quando esta é recolhida sem qualquer tipo de autorização dos que a produzem”, referiu Paulo Caiado. “Os dados podem ser consultados, mas quando são alvo de recolha, de tratamento analítico e mais tarde vendidos, tenho algumas reservas se existe legitimidade do ponto de vista jurídico”. E se do ponto de vista jurídico o presidente diz ter “algumas reservas”, já do ponto de vista ético parece-lhe claro: “Alguém recolher informação de uma empresa de mediação imobiliária, que teve de envolver os seus consultores, que envolveu análise para perceber que valor deve associar a um imóvel... e esses dados serem revendidos...”.
O tema ganha contornos ainda mais complicados quando os dados são utilizados para servir investidores institucionais. “A mediação imobiliária só pode ser praticada por entidades que estão devidamente legitimadas para o fazer, senão é ilícita”.
A vertente humana
Para Paulo Caiado, um dos desafios que a mediação tem pela frente é ser capaz de incorporar as melhores soluções tecnológicas, de vanguarda, como geolocalização, a utilização de drones ou o tratamento analítico de dados, mas perceber até que ponto isso deve ser conciliado com o relacionamento humano. “Essa relevância não se pode esbater”. Aliás, neste mandato, o digital e os interesses dos mediadores vão estar, segundo Paulo Caiado, no topo das prioridades, entendendo que os associados são dotados de uma enorme “heterogeneidade e diversidade, com diferentes modelos de negócio. Temos a fantástica tarefa de perceber quais os denominadores comuns, o que nos une apesar de sermos concorrentes. E as empresas prepararem-se tecnologicamente é fundamental para enfrentar o futuro”. Senão, diz o presidente, “estamos sujeitos a termos empresas alavancadas unicamente em tecnologia que, sem regras, procuram ocupar o espaço da mediação imobiliária) recolhem informação”.
Acordo com UCI
Entretanto, a APEMIP e a UCI (União de Créditos Imobiliários) assinaram recentemente a renovação do acordo de patrocínio entre as duas entidades, por um período de mais dois anos (2021-2023). Este acordo de renovação proporciona, segundo a associação, vantagens recíprocas para estas duas entidades de referência do setor da mediação imobiliária. Desta parceria resulta uma estreita parceria quer na área dos eventos quer na formação e um investimento no portal CasaYes que, como explicou Paulo Caiado, esteve inativo durante os últimos anos. “Queremos que seja entendido como o portal das empresas de mediação. Esta parceria vai-nos permitir iniciar a reformulação integral do portal, quer do ponto de vista tecnológico, de imagem para além de que gostaríamos de trazer alguns princípios éticos de subscrição obrigatória para as empresas que vão exportar para este portal”.