Novas metas europeias são oportunidade para melhorar o parque edificado português

29/05/2024
Novas metas europeias são oportunidade para melhorar o parque edificado português
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O cumprimento das metas europeias de descarbonização, nomeadamente do imobiliário, é uma oportunidade para renovar e melhorar o parque edificado português, baixando as emissões e melhorando as condições de vida dos portugueses. 

O Parlamento Europeu já aprovou a nova versão da Diretiva de Eficiência Energética em Edifícios (EPBD na sigla em inglês), definindo que, a partir de 2030, o objetivo de zero emissões é imposto a todos os edifícios novos. O mesmo desafio será exigido a todo o parque imobiliário em 2050. Isto porque os edifícios são responsáveis por cerca de 40% do consumo energético e 36% das emissões de gases com efeito de estufa. 

Em Portugal, o início do ano também trouxe novidades neste tampo, nomeadamente com a apresentação da Estratégia de Longo Prazo para o Combate à Pobreza Energética 2023-2050 (ELPPE), que tem como principais objetivos o acesso universal a serviços energéticos, a ação territorial integrada e o fomento do conhecimento na área. É uma adição à Estratégia de Longo Prazo para a Renovação dos Edifícios (ELPRE), já em vigor. 

Em paralelo, também criado o Observatório Nacional da Pobreza Energética (ONPE), que vai acompanhar e combater a pobreza energética em Portugal, que pretende “robustecer a base de informação territorial sobre pobreza energética, contribuir para o desenho e avaliação de políticas públicas, assegurar ações descentralizadas e promover a literacia energética”. Um instrumento no qual a ADENE assume a presidência do Conselho Consultivo e vice-presidência do Conselho Diretivo. 

Uma oportunidade para valorizar o património 

Falando sobre os desafios da sustentabilidade no imobiliário, durante um workshop dedicado ao tema, Hugo Santos Ferreira, presidente da APEMIP, destacou que Portugal tem “um parque habitacional obsoleto”, com uma das piores performances de desempenho energético a nível europeu. Por isso, “temos tudo para fazer na área da sustentabilidade”, nomeadamente, o cumprimento das exigências europeias Nzeb e Zeb e o alinhamento com a nova diretiva: “o desafio de cumprir estas normas será cada vez mais apertado”. 

O responsável da associação destacou também a crescente importância do mercado de Green Bonds a nível europeu, e a crescente relevância da taxonomia europeia no setor, que “vai exigir mudanças no nosso mercado”. Mas há oportunidades, não só para melhorar as condições dos edifícios, mas também de otimização: “ter custos operacionais mais reduzidos é uma grande oportunidade”. E, ainda, de valorização do imobiliário, pois o cumprimento com as normas de ESG (Environment, Sustainability, Governance) permitem, por exemplo, majorações de 18% a 25% nas rendas. “É uma oportunidade de valorização do nosso património imobiliário, um conjunto de desafios que devem ser encarados como oportunidades”. 

“A transição é mesmo desafiante, será feita em estreita articulação com o setor"

Participando também neste workshop, Nelson Lage, presidente da ADENE, defendeu que a sustentabilidade no imobiliário “é essencial, devido ao seu impacto no ambiente e na sociedade: consome recursos, gera muitas emissões, e é muito importante que adotemos práticas sustentáveis para reduzir este impacto”. E realçou que “a transição é mesmo desafiante, e será feita em estreita articulação com o setor. É assim que as mudanças devem ser feitas”, recordando o “sucesso” da implementação do Plano de Poupança de Energia. 

Sobre a entrada em vigor da nova diretiva para a eficiência energética dos edifícios, destacou a necessidade de as empresas apresentarem relatórios de sustentabilidade colaborativa, dados precisos sobre práticas sustentáveis e integração da sustentabilidade nos processos de negócios. São vantagens a maior transparência, acesso ao financiamento verde ou a inovação. “Temos de começar a trabalhar rapidamente nesta transposição”, apelou. “Não queremos que aconteça o mesmo que com a última transição, em que quando foi transposta, já estava a ser negociada a nova diretiva”. 

Setor das janelas eficientes quer fazer parte da solução

O setor das janelas eficientes em Portugal mostra-se alinhado com estes objetivos, até porque as janelas e fachadas podem ter um papel fundamental na melhoria da eficiência energética dos edifícios. O objetivo de melhorar o conforto e a eficiência energética dos edifícios no nosso país deu mote aos debates dinamizados pela ANFAJE – Associação Nacional dos Fabricantes de Janelas Eficientes durante a Tektónica, ocasião durante a qual foi também apresentado o seu Guia Exclusivo dos Fabricantes de Janelas Eficientes 2023/2024. 

Para o presidente da ANFAJE, João Ferreira Gomes, “esta publicação demonstra a pujança desta fileira e mostra o que as nossas empresas fazem todos os dias. É o melhor do setor em Portugal, e temos empresas capazes de dar resposta às grandes exigências europeias”. O responsável enfatizou também que “temos trabalhado em conjunto para encontrar soluções. Queremos abrir perspetivas novas para o setor e para os clientes finais”. 

É também “uma oportunidade para apresentar as empresas que lideram a mudança”, numa altura em que a realidade da sustentabilidade mudou de forma dramática. Deixou de ser uma retórica para fazer parte da decisão. Muitas vezes, uma decisão que não é fácil, e implica investimento. Mas a contabilidade é mais do que financeira”, afirmou António Gil Machado, diretor da revista Vida Imobiliária, parceira desta publicação, deixando ainda a nota de que é preciso reabilitar o envelhecido parque imobiliário português. “O que se está a fazer são ainda pequenos pingos de chuva. E sabemos que é na envolvente passiva que está o maior contributo para a melhoria da eficiência energética”. 

Na mesma ocasião, Bruno Veloso, vice-presidente da ADENE, salientou que as parcerias “ajudam a levar as melhores soluções aos clientes, rumo ao grande desígnio da descarbonização, recordando o caminho que já foi feito nos últimos anos, nomeadamente em termos de sensibilização, ou os apoios do Fundo Ambiental, a etiquetagem Classe +, garantindo que “queremos fazer muito mais do que ao nível elétrico, queremos incluir cada vez mais os elementos passivos» no esforço de descarbonização”.