O estudo o “Multifamily – A market on the rise”, da JLL, revela que já estão projetados vários projetos residenciais de grande escala que a consultora estima que podem acrescentar cerca de três mil novos fogos para arrendamento ao mercado nacional. Estes projetos deverão surgir essencialmente nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto.
Na capital, segundo a consultora, os eixos da Alta de Lisboa e Ajuda são as zonas com maior potencial para acolher este tipo de projetos, sendo áreas limítrofes como Miraflores, Carnaxide e Algés também localizações de grande interesse. Almada, Barreiro ou Loures estão também na mira dos investidores.
Esta nova oferta e interesse surge depois do forte crescimento da procura para arrendamento nos últimos anos, em especial por parte da classe média e média-baixa, que tem dificuldade em aceder ao mercado da habitação, "num contexto de forte subida de preços e de restrições no financiamento". Também os jovens representam parte importante da procura, nomeadamente de primeira habitação sem o ónus da compra.
Patrícia Barão, Head of Residential da JLL, identifica que "há uma procura real e latente para o arrendamento nas principais zonas urbanas de Lisboa e Porto, que abrange uma boa diversidade de perfis". E destaca que "há um segmento especialmente interessante, com um enorme potencial de crescimento nos próximos anos. São os mais jovens, que hoje não têm resposta para as suas necessidades habitacionais e que procuram soluções mais flexíveis e acessíveis, mas não apenas por questões financeiras. É, acima de tudo, algo geracional e cultural. Os Millennials não querem necessariamente possuir uma casa, querem usar uma casa. Esse é o seu chip para quase tudo e, por isso, valorizam flexibilidade e mobilidade. Vão ser um importante motor do mercado de arrendamento institucional".
Inexistência de oferta pode atrair o investimento institucional
A oferta para arrendamento em Portugal não responde a toda esta procura, e esse é um dos maiores argumentos do país para atrair o investimento institucional para este segmento.
Nas grandes cidades, a oferta é hoje reduzida e pulverizada, e também de baixa qualidade, quando uma boa parte das construções tem mais de 40 anos e é desadequada à procura, tanto em termos de áreas, como de compartimentação das casas, como também de valor de rendas.
Portugal está numa fase inicial de desenvolvimento deste mercado, e por isso é um alvo preferencial, aponta este estudo. Existem muitas oportunidades para o lançamento de projetos de grande escala nesta área.
Uma solução de investimento em contexto de grande liquidez
A par disso, aumenta a liquidez existente na Europa, e a tendência de maior foco dos investidores nestes ativos.
Esta classe de ativos apresenta uma elevada resiliência, especialmente em tempos de crise e recessão económica, dada a sua versatilidade na adaptação a outros usos e na capacidade de gerar retornos sustentados a longo-prazo.
Além disso, o ano de 2019 foi já de forte dinamismo no investimento deste segmento na Europa, com 52,96 mil milhões de euros transacionados, destacando-se países como a Alemanha, com 19,43 milhões de euros de investimento ou a Dinamarca, com 6,96 milhões de euros. Já nos primeiros seis meses de 2020, o Multifamily movimentou outros 31 mil milhões de euros na Europa.
Fernando Ferreira, Head of Capital Markets da JLL, destaca que "o Multifamily é uma classe de ativos de alta resiliência em contextos de contração económica, algo que sai evidenciado neste momento de pandemia. Tem retornos muito interessantes e sustentáveis numa perspetiva de longo-prazo, que é algo em que os investidores estão neste momento muito interessados. Com a vantagem de ser um segmento com um forte potencial de crescimento, especialmente em Portugal, onde a procura é muito forte e a base de oferta é nula".
E acrescenta que "além disso, num contexto em que existem já mercados bastante maduros na Europa, em que a yield média se situa entre 2,5 e 3,5%, Portugal tem capacidade de oferecer um retorno de 4,5%. Isto rivaliza, no contexto nacional, com o retorno dos escritórios e do comércio de rua".
A JLL destaca ainda como vantagens – pondo frente-a-frente Portugal com outros congéneres Europeus – os preços de aquisição competitivos, a estabilidade económica, social e política, a maior estabilidade dos retornos dos investimentos durante períodos de crise e a credibilidade do destino Portugal especialmente no tema da segurança. "Todos estes fatores estão a indicar uma clara oportunidade para o desenvolvimento de um produto construído de raiz para o arrendamento com escala e qualidade em Portugal, especialmente em torno das cidades mais populosas de Lisboa e Porto".
"Com a comprovada resiliência do mercado residencial durante a pandemia e o fluxo de liquidez que existe na Europa, há um crescente interesse dos investidores em desenvolver produtos Multifamily em Portugal. Alguns projetos já em estão em desenvolvimento e nos próximos anos vamos ter muitas novidades neste setor. Diria que nos próximos cinco anos podemos ver o investimento em Multifamily no nosso país disparar para um peso de 25% do total investido no nosso mercado", conclui Fernando Ferreira.