Os preços das casas continuam a subir, seguindo a tendência de valorização dos últimos anos. Hoje em dia, 55% dos portugueses afirma adiar a mudança de casa e a decisão de compra ou arrendamento por causa dos valores elevados que encontra no mercado.
Esta é uma das conclusões do “Observatório do Imobiliário Century 21”, apresentado na última quinta-feira, que analisa as dinâmicas da oferta e da procura e o que mudou neste mercado nos últimos anos, nomeadamente desde 2018. Um dos objetivos deste estudo passou por conhecer e compreender as necessidades, preferências e motivações para a procura e oferta de habitação, considerando as opções de compra e venda ou de arrendamento.
Ricardo Sousa, CEO da Century 21, referiu durante a apresentação destes resultados que “o que vivemos no mercado imobiliário é um sintoma da sociedade, nomeadamente do rendimento disponível dos portugueses, para a vida e para a habitação. Isso influencia as decisões de venda e de compra”. Identifica “uma emergência social de carência de habitação”, com destaque para muitos jovens que estão fora do mercado.
A maior parte dos portugueses continua a preferir ser dono da sua casa. 92,3% dos inquiridos prefere viver em casa própria, embora só 65,3% esteja efetivamente nessa situação. Mais pessoas desejam ser proprietárias hoje do que em 2018.
No entanto, os preços travam este objetivo. Em 2018, o principal motivo para a desistência da compra ou arrendamento de uma casa era não encontrar o imóvel ideal, mas hoje o grande motivo é o preço. 55% dos que desistiram da compra ou arrendamento fizeram-no por razões financeiras. 23% apontou não ser a melhor altura, e 18% não encontrou o que procurava.
![Ricardo Sousa, CEO da Century 21](/media/images/Ricardo_Sousa_WhatsApp_Image_2024-02-08_at_17..width-720.jpg)
Mudar de cidade pode ser uma necessidade. Moradias são mais procuradas
Fica patente neste observatório que há uma maior apetência por parte dos portugueses para mudar de cidade face a 2018, uma percentagem que passou de 19% para 25%, em particular na faixa entre os 30 e os 39 anos.
As moradias isoladas cativam mais procura, que cresceu de 28% para 37%, e as comodidades mais valorizadas são os pátios e jardins exteriores.
Mais pessoas recorrem à venda da casa antiga para comprar uma melhor, fatia que passou de 12% para 25%. Hoje, abdica-se essencialmente do estado de uso da casa, e não tanto da área, como em 2018.
Há 5 anos, a principal motivação para colocar a casa à venda era para mudar de casa e aumentar a família. Hoje, é a realização financeira ou para mudar para uma casa melhor. A faixa acima dos 50 anos é a mais ativa na compra e venda, e há menos jovens no mercado do que em 2018.
21% procuram casa pela sua independência, 14% por casamento ou união, 13% para mudar para uma casa melhor. Já 19% dos vendedores procuram realizar liquidez, outros 19% querem mudar para uma zona melhor. 16% querem fazer um novo investimento com o valor que conseguirem dessa venda.
Procuram-se casas até 200.000 euros. Preços estão 35% mais elevados que em 2018
50% das pessoas procura uma casa que custe entre 100.000 e 200.000 euros, sendo que o preço médio efetivamente praticado ronda os 189.823 euros. No arrendamento, 55% procura uma renda até 500 euros, apesar de a média desembolsada rondar os 589 euros. 70% preferem apartamentos usados sem necessidade de obras.
Na Área metropolitana de Lisboa, o mesmo intervalo de preços é procurado por idêntica percentagem de pessoas, mas o preço médio acaba por ser de 216.466 euros. No arrendamento, a renda média é de 666 euros.
Segundo o relatório, os preços médios das casas a nível nacional estão 35% mais caros que em 2018, e as rendas 20% acima do praticado nesse ano. Mas os rendimentos disponíveis não acompanharam este aumento.
Concessões têm de ser feitas na hora de comprar ou arrendar
A maior parte das pessoas procuram um T3 (para comprar ou arrendar), mas acaba por ter de optar por um T2. As áreas acabam por ser menores, para cumprir o orçamento disponível.
Por outro lado, é necessário fazer ajustes de prioridades relativamente às comodidades da casa, às valências da envolvente e às condições gerais. 21% admitem prescindir de uma casa que não precise de obras. 26% ponderam ceder na área e 25% nas áreas exteriores.
Até porque, com a subida das taxas de juro, quando os clientes pedem um empréstimo, o valor que podem assumir pela casa baixa, tendo em conta à taxa de esforço limite imposta pelo Banco de Portugal.
Estado tem de intervir. Mobilidade urbana é um dos fatores chave
Para Ricardo Sousa, o setor imobiliário tem de “estar alerta e de intervir” neste problema. “Temos de encontrar soluções para apoiar quem realmente precisa de ajuda. Mas é também essencial a intervenção do Estado, que tem de estar presente e deixar o mercado funcionar”.
É essencial melhorar a mobilidade urbana, considerada “chave na melhoria do acesso à habitação. Significa tornar a habitação mais próxima”. Também, há que implementar e melhorar o Simplex do licenciamento urbanístico também, garantindo a segurança jurídica, mais agilidade dos processos e a proteção do consumidor. Assim como incentivar a industrialização da construção. “Precisamos de mais sustentabilidade ambiental, agilidade, segurança e inclusão nas condições de trabalho”, conclui.