Preços da habitação levam mais portugueses a adiar a mudança de casa

14/02/2024
Preços da habitação levam mais portugueses a adiar a mudança de casa
Jason Briscoe, Unsplash

Os preços das casas continuam a subir, seguindo a tendência de valorização dos últimos anos. Hoje em dia, 55% dos portugueses afirma adiar a mudança de casa e a decisão de compra ou arrendamento por causa dos valores elevados que encontra no mercado.

Esta é uma das conclusões do “Observatório do Imobiliário Century 21”, apresentado na última quinta-feira, que analisa as dinâmicas da oferta e da procura e o que mudou neste mercado nos últimos anos, nomeadamente desde 2018. Um dos objetivos deste estudo passou por conhecer e compreender as necessidades, preferências e motivações para a procura e oferta de habitação, considerando as opções de compra e venda ou de arrendamento.

Ricardo Sousa, CEO da Century 21, referiu durante a apresentação destes resultados que “o que vivemos no mercado imobiliário é um sintoma da sociedade, nomeadamente do rendimento disponível dos portugueses, para a vida e para a habitação. Isso influencia as decisões de venda e de compra”. Identifica “uma emergência social de carência de habitação”, com destaque para muitos jovens que estão fora do mercado.

A maior parte dos portugueses continua a preferir ser dono da sua casa. 92,3% dos inquiridos prefere viver em casa própria, embora só 65,3% esteja efetivamente nessa situação. Mais pessoas desejam ser proprietárias hoje do que em 2018.

No entanto, os preços travam este objetivo. Em 2018, o principal motivo para a desistência da compra ou arrendamento de uma casa era não encontrar o imóvel ideal, mas hoje o grande motivo é o preço. 55% dos que desistiram da compra ou arrendamento fizeram-no por razões financeiras. 23% apontou não ser a melhor altura, e 18% não encontrou o que procurava.

Ricardo Sousa, CEO da Century 21
Ricardo Sousa, CEO da Century 21

Mudar de cidade pode ser uma necessidade. Moradias são mais procuradas

Fica patente neste observatório que há uma maior apetência por parte dos portugueses para mudar de cidade face a 2018, uma percentagem que passou de 19% para 25%, em particular na faixa entre os 30 e os 39 anos.

As moradias isoladas cativam mais procura, que cresceu de 28% para 37%, e as comodidades mais valorizadas são os pátios e jardins exteriores.

Mais pessoas recorrem à venda da casa antiga para comprar uma melhor, fatia que passou de 12% para 25%. Hoje, abdica-se essencialmente do estado de uso da casa, e não tanto da área, como em 2018.

Há 5 anos, a principal motivação para colocar a casa à venda era para mudar de casa e aumentar a família. Hoje, é a realização financeira ou para mudar para uma casa melhor. A faixa acima dos 50 anos é a mais ativa na compra e venda, e há menos jovens no mercado do que em 2018.

21% procuram casa pela sua independência, 14% por casamento ou união, 13% para mudar para uma casa melhor. Já 19% dos vendedores procuram realizar liquidez, outros 19% querem mudar para uma zona melhor. 16% querem fazer um novo investimento com o valor que conseguirem dessa venda.

Procuram-se casas até 200.000 euros. Preços estão 35% mais elevados que em 2018

50% das pessoas procura uma casa que custe entre 100.000 e 200.000 euros, sendo que o preço médio efetivamente praticado ronda os 189.823 euros. No arrendamento, 55% procura uma renda até 500 euros, apesar de a média desembolsada rondar os 589 euros. 70% preferem apartamentos usados sem necessidade de obras.

Na Área metropolitana de Lisboa, o mesmo intervalo de preços é procurado por idêntica percentagem de pessoas, mas o preço médio acaba por ser de 216.466 euros. No arrendamento, a renda média é de 666 euros.

Segundo o relatório, os preços médios das casas a nível nacional estão 35% mais caros que em 2018, e as rendas 20% acima do praticado nesse ano. Mas os rendimentos disponíveis não acompanharam este aumento.

Concessões têm de ser feitas na hora de comprar ou arrendar 

A maior parte das pessoas procuram um T3 (para comprar ou arrendar), mas acaba por ter de optar por um T2. As áreas acabam por ser menores, para cumprir o orçamento disponível.

Por outro lado, é necessário fazer ajustes de prioridades relativamente às comodidades da casa, às valências da envolvente e às condições gerais. 21% admitem prescindir de uma casa que não precise de obras. 26% ponderam ceder na área e 25% nas áreas exteriores.

Até porque, com a subida das taxas de juro, quando os clientes pedem um empréstimo, o valor que podem assumir pela casa baixa, tendo em conta à taxa de esforço limite imposta pelo Banco de Portugal.

Estado tem de intervir. Mobilidade urbana é um dos fatores chave 

Para Ricardo Sousa, o setor imobiliário tem de “estar alerta e de intervir” neste problema. “Temos de encontrar soluções para apoiar quem realmente precisa de ajuda. Mas é também essencial a intervenção do Estado, que tem de estar presente e deixar o mercado funcionar”.

É essencial melhorar a mobilidade urbana, considerada “chave na melhoria do acesso à habitação. Significa tornar a habitação mais próxima”. Também, há que implementar e melhorar o Simplex do licenciamento urbanístico também, garantindo a segurança jurídica, mais agilidade dos processos e a proteção do consumidor. Assim como incentivar a industrialização da construção. “Precisamos de mais sustentabilidade ambiental, agilidade, segurança e inclusão nas condições de trabalho”, conclui.