Promotores imobiliários aumentam a procura de terrenos apesar de previsões de abrandamento

13/02/2023
Promotores imobiliários aumentam a procura de terrenos apesar de previsões de abrandamento

Os promotores imobiliários antecipam para os próximos meses uma contração nas vendas de habitação e uma diminuição da subida dos preços, mas mantêm-se confiantes na capacidade do mercado residencial, e inclusive aumentam a procura por terrenos.

Esta é uma das principais conclusões do Portuguese Investment Property Survey, inquérito trimestral conduzido pela Confidencial Imobiliário e pela APPII, segundo o qual o número de promotores com novos projetos em pipeline aumentou para 74%. Uma percentagem semelhante à dos inquiridos que diz estar ativamente à procura de terrenos para novos desenvolvimentos. São níveis recorde no que toca às intenções de investimento.

De qualquer forma, fica a perceção de que o mercado irá abrandar no curto prazo. As expetativas relativas à evolução das vendas no 1º trimestre deste ano posicionam-se em -57 pontos, o terceiro trimestre consecutivo em que o indicador está em terreno negativo, mas a primeira que gera simultaneamente expetativas de travagem na subida dos preços, indicador em -2 pontos. Quer isto dizer que a percentagem de promotores imobiliários que espera uma descida dos preços supera em 2% a dos que apontam para uma subida dos mesmos.

Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário, explica que “a falta de oferta é o grande garrote no mercado. Nessa medida, apesar da expectativa de algum arrefecimento no futuro próximo, os promotores antecipam, desde já, o que esperam vir a ser a normalização do mercado, após um período de maior impacto provocado pelo aumento da inflação e dos juros. No entanto, na ausência de medidas de reforma do mercado, essa oferta tende a refugiar-se em mercados de maior valor”.

Reposicionamento para o mercado estrangeiro e nova aposta em Lisboa

Esta edição do inquérito evidencia que os promotores imobiliários estão a reposicionar os projetos que têm em desenvolvimento, direcionando-os para a procura internacional. Os projetos direcionados para os mercados estrangeiros representam agora 27% das novas intenções de promoção imobiliária, mais 20% que no começo de 2022. Outros 27% dos projetos dirigem-se ao mercado nacional, e 46% a um público misto (nacional e internacional).

Há ainda uma aposta renovada na cidade de Lisboa. Depois de quase dois anos a perder peso no novo pipeline de promoção, Lisboa recupera agora, e é citada como primeira localização dos projetos em 46% dos casos, mais 3% que no inquérito do trimestre anterior.

Tempos de licenciamento são o principal entrave à atividade

Os profissionais admitem que a perda de poder de compra por parte das famílias portuguesas vá impactar o mercado, mas a falta de produto não está entre os principais obstáculos à atividade da promoção imobiliária, com um índice de pressão de apenas 26%. O panorama económico ou o acesso ao financiamento bancário também apresentam patamares de pressão relativamente baixos. Pelo contrário, os tempos de licenciamento são o principal problema apontado, com um índice de pressão de 97%, confirmando a principal preocupação dos inquiridos. É seguida de perto pelas questões dos custos de construção, custos dos terrenos e pela carga fiscal.

Hugo Santos Ferreira, presidente da APPII, comenta que “é caso para refletirmos como, num contexto de perda de poder de compra das famílias e de forte aumento dos custos de construção, a grande preocupação dos promotores imobiliários continue a ser o tempo de licenciamento de obras e todo o ciclo burocrático”. Apela à resolução desta questão, assim como a do “forte fardo de impostos que recai sobre a construção e promoção, se queremos criar oferta habitacional acessível, pois estes dois fatores inviabilizam projetos e fazem aumentar o valor dos imóveis.”