Terminou no sábado a 28ª edição do SIL – Salão Imobiliário de Portugal, promovido pela Fundação AIP. Realizado em simultâneo com a Tektónica, o passaram pelo salão cerca de 33.500 visitantes ao longo dos três dias dos eventos.
De acordo com a organização, este ano o SIL aumentou o número de visitantes e também de expositores, num total superior a 250, o que confirma o dinamismo do imobiliário. As duas feiras ocuparam a totalidade dos 45.000 m² da FIL, em Lisboa.
Sérgio Runa, gestor do SIL, refere que “o balanço desta 28.ª edição do SIL não podia ser mais positivo. Superámos as expetativas em número de visitantes e expositores, mas, acima de tudo, destacamos o nível excecional de satisfação por parte dos participantes. A qualidade das oportunidades geradas, o dinamismo dos negócios e o ambiente de partilha consolidam o SIL como o evento de referência do setor imobiliário em Portugal”.
“O primeiro passo da inclusão é a habitação”
No ciclo de conferências SIL Investment Pro a atualidade e o futuro do setor estiveram em destaque, com especial destaque para a habitação. Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, abriu uma das sessões, e afirmou que “o primeiro passo da inclusão social é a habitação”. Para si, entregar chaves a quem precisa é um gesto fundamental, e defende que “a habitação é um desafio para todos nós, não deveria ser [um tema] ideológico”. É um problema que “não uma solução única. Não há o público contra o privado, há o público e o privado”, acrescentando que tanto a construção como a reabilitação, a venda e o arrendamento são essenciais. Também destacou que "sem aumentar a oferta não temos possibilidade de resolver o problema, de reduzir as assimetrias ou resolver as partes que estavam abandonadas na cidade".

Colocar o património ao serviço da cidade e da ação social é uma das missões da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, também representada no SIL pelo provedor, Paulo Sousa. Esta carteira imobiliária tem como principal objetivo “gerar receitas alternativas para apoiar a nossa atividade social”. A SCML utiliza os rendimentos gerados para sustentar as suas ações sociais, com uma clara prioridade em “garantir que o património se mantenha atualizado e dentro dos valores de mercado”. A manutenção e reabilitação constantes dos imóveis são fundamentais para garantir que “não fiquem fora de mercado ou desatualizados”.
Nesta sessão, Filipa Roseta, vereadora da Habitação da Câmara Municipal de Lisboa, e Pedro Baganha, vereador do Urbanismo da Câmara Municipal do Porto, partilharam as suas experiências nas respetivas autarquias. Filipa Roseta reconheceu o problema de acesso à habitação em Portugal e na cidade, referindo que “a minha maior preocupação é que esse problema pode resultar num risco de exclusão social. Estamos a deixar os jovens completamente fora do mercado”, exemplificou. “O problema de acesso é grave, e temos de ter respostas rápidas. Podemos começar com respostas rápidas, como o apoio à renda, por exemplo”, lamentando ainda que o executivo municipal não tenha conseguido aprovar as parcerias público-privadas para construção de habitação acessível.
Pedro Baganha recordou que também a CMP lançou concursos para PPP, e não encontrou interesse por parte dos privados. “Neste momento, uma parceria nos termos de uma PPP não é fácil, dada a efervescência do mercado imobiliário. Mas continuo a acreditar que, se não conseguirmos alinhar os interesses público e privado como sociedade, não vamos ter sucesso". Ainda assim, a autarquia já assinou um contrato de Build to Rent, um modelo diferente, e prepara-se para assinar outros dois.
Neste ciclo de conferências participaram também autarcas de Leiria, Santarém e Aveiro, e ficou claro que as autarquias são um motor essencial na resolução do problema da habitação, pela sua proximidade e conhecimento do território e das populações. Pedem ao Estado central mais celeridade e simplicidade dos processos para criar mais habitação.

Uma crise: não de mercado, mas de acesso
Nesta sessão, participou também António Ramalho, presidente da Comissão Executiva da Lisboa FCE, que deu uma perspetiva macroeconómica da habitação, salientando que “existe uma crise, estruturalmente, por se falar nela. De geral, esta crise não tem nada. Existe, sim, em determinadas circunstâncias e casos concretos. Os índices evidenciam um mercado maduro onde as transações reagem à descida das taxas de juro, e os preços demonstram um constante desequilíbrio entre oferta e procura. Mostra que o mercado está vivo e de saúde". No entanto, "nada disto quer dizer que não temos problemas de habitação para resolver, todos os que não estão ainda no mercado têm muita dificuldade em aceder".
Numa outra sessão, Paulo Caiado, presidente da APEMIP, alertou que “o Governo tem de conciliar duas realidades opostas”, nomeadamente porque mais de 70% das famílias é proprietária da sua casa, e “para elas, o problema da habitação não existe, pelo contrário, a alocação das suas poupanças tem uma excelente valorização”. Mas perto de 25% não é proprietária ou tem dificuldades no acesso ao mercado. "É um desafio conciliar estas duas realidades”.
Imobiliário pede consensos e vontade política para dinamizar a habitação
Durante o SIL, a APPII, a APEMIP, a Ordem dos Arquitectos e a Ordem dos Engenheiros apelaram aos consensos políticos para uma maior previsibilidade e dinamização do mercado imobiliário. Os profissionais pedem coragem e vontade política para implementar as medidas de que o setor da habitação necessita.
Hugo Santos Ferreira, presidente da APPII, afirmou que, até agora, “faltou, verdadeiramente, vontade política. O centro do arco da governação pode fazer mesmo a diferença, sem um pacto de regime ao centro para criar soluções, que até podem ser transitórias, não vamos a lado nenhum. Precisamos de soluções rápidas e duras, de um consenso entre PS e PSD para as implementar de forma concertada porque, até agora, temos tido apenas medidas avulsas e cuidados paliativos. Ambos já estiveram no Governo nos últimos anos e, a verdade, é que os problemas não são resolvidos”,
Engenheiros e arquitetos chamaram também à atenção para o problema da falta de mão-de-obra no país. Paulo Caiado defende que a solução para criar mais habitação pode estar na habitação a custos controlados, em que “o Estado pode participar com terreno público, benefícios fiscais e licenciamento ágil, um benefício que pode perdurar no tempo”.
Nas conferências do SIL Investment Pro estiveram também em destaque outros temas, como os novos modelos de habitação que estão a captar mais investimento internacional, como o flex living e outros formatos alternativos, mas também o futuro da mediação imobiliária e da intermediação de crédito, entre outros.