Turismo deve “continuar o caminho da qualificação da experiência”

18/09/2024
Turismo deve “continuar o caminho da qualificação da experiência”
Pedro Machado, secretário de Estado do Turismo

O principal desafio atual do setor do turismo em Portugal passa por “continuar o caminho da qualificação da experiência turística”, trabalhando no crescimento, na competitividade, na sustentabilidade, na mitigação dos impactos negativos ou nos ajustes entre oferta e procura. É o que defende o secretário de Estado do Turismo, Pedro Machado. 

O governante foi convidado do mais recente almoço-conferência organizado pela revista Vida Imobiliária e pela APPII – Associação Portuguesa dos Promotores e Investidores Imobiliários, sob o mote “Desafios e prioridades para o turismo português”, que se realizou a 12 de setembro no Hotel Pestana Palace, em Lisboa. 

Partilhando a sua visão e reconhecendo as “alterações profundas dos últimos anos”, Pedro Machado afirmou que “o turismo tem criado alguns dissabores pelo seu sucesso, seja com outros setores, ou por se considerar que, não tem o chamado ‘valor incorporado’. Mas a agenda do turismo é transversal a todos os setores, é dos mais impactantes, e é uma verdadeira ‘constelação’. Todos os vasos comunicantes têm de responder aos desafios”. E, “hoje, temos desafios prementes”, destacando a resposta da sustentabilidade, ou “a satisfação de quem recebe para turismo”.

ALMOÇO-CONFERÊNCIA-SET-24-2 (1).jpg

Segurança é um dos principais pontos fortes da marca “Portugal”

Portugal é um destino turístico bem posicionado globalmente, e um dos principais pontos atrativos, num mundo cada vez mais instável, é a segurança, que se espera que se mantenha nos próximos anos. Também a “boa perceção do setor da saúde” joga a favor da confiança para o investimento, somando-se “a importância da estabilidade do próximo Orçamento do Estado, essencial para manter a confiança dos empresários que já operam em Portugal e atrair novos investidores”, destacou Pedro Machado. 

O Governo quer alargar o setor a novos mercados, reforçar rotas e ligações aéreas, e acelerar a execução do Plano de Recuperação e Resiliência, cujos fundos destinados a este setor têm uma execução de cerca de 20%. Sem esquecer a necessidade de reduzir a pegada ambiental do turismo, que “começa em cada um”. “Há uma grande pressão sobre os recursos, principalmente sobre a água, e temos de trabalhar também nas dessalinizadoras, olhando com razoabilidade para o tema, e desmistificando os mitos”. 

A própria expansão do turismo e alargamento a novos territórios pode ser uma importante oportunidade para combater o despovoamento e o envelhecimento do interior. “Somos particularmente atrativos para residentes estrangeiros, podemos despressurizar destinos mais maduros”. 

Mas deixou ainda o alerta: “o alojamento local não deve ser diabolizado. Em muitas regiões, é a única forma de termos capacidade instalada, e foi estruturante na requalificação do património, aumentando também a segurança em áreas anteriormente devolutas”.

Pedro Machado concluiu a sua intervenção garantindo que “olhamos com muita atenção para o crescimento do nosso turismo. Queremos reforçar a notoriedade da marca ‘Portugal’”. 

Captar novos turistas, agilizar licenciamento e evitar “anticorpos” são alguns dos desafios 

Participando também neste encontro, Eduardo Abreu, sócio da Neoturis, deu algum contexto do mercado turístico português. “Nos últimos 73 anos, o turismo cresceu continuamente. É uma indústria que tem mantido uma trajetória ascendente ao longo de sete décadas”. 

Em particular desde 2019, houve um crescimento significativo da procura, que vem ultrapassando a oferta de forma consistente. “estamos a observar uma tendência onde a procura cresce mais rapidamente do que a oferta, o que se reflete em melhores taxas de ocupação e a possibilidade de praticar preços médios mais elevados”. Mas questiona: “é possível continuar com esta tendência, em que os proveitos crescem cinco vezes mais do que a oferta? Temos de questionar até que ponto é que esta tendência é sustentável”. 

O alargamento da oferta turística a zonas menos conhecidas do país é um efeito “mancha de óleo” positivo, e regiões como o Norte, Açores e Alentejo cresceram a taxas superiores a 10% em termos de oferta entre 2019 e 2023. A descentralização da procura também foi importante: “há 25 anos, o Algarve, Lisboa e a Madeira concentravam 81% das dormidas no país. Hoje, esse valor desceu para 59%, enquanto o Norte, Centro e Alentejo quase duplicaram a sua quota de mercado. Isto mostra que o crescimento tem sido bem distribuído pelo território”. 

Os mercados emissores têm-se diversificado, com mais visitas de turistas dos Estados Unidos ou do Brasil, uma captação que deve continuar a ser prioritária, até porque “temos muitos países importantes fora do mercado”, como a Índia ou a China. Nos próximos anos, “é crucial manter Portugal na rota dos investidores e explorar novas áreas de negócio para os hotéis portugueses, além de alavancar os fundos do Portugal 2030”. 

O especialista também alertou para a necessidade de agilizar os processos de licenciamento urbanístico, para manter o investimento atrativo, ou de “ter cuidado com os ‘anticorpos’ do turismo”, para que a experiência turística se mantenha boa para quem visita, mas também para quem recebe. 

Eduardo Abreu, sócio da Neoturis
Eduardo Abreu, sócio da Neoturis