Vilamoura prepara um novo rumo

15/09/2021
Vilamoura prepara um novo rumo

Um grupo de investidores nacionais, liderado por João Brion Sanches, anunciou em junho ter chegado a acordo com a norte-americana Lone Star para a aquisição da Vilamoura (Lusotur). O negócio representa um coinvestimento entre este grupo de investidores nacionais e o fundo de investimento da Arrow Global, que detém em Portugal a Norfin e a Whitestar Asset Solutions. A operação, junto dos investidores, foi apoiada pela Norfin, que assume também funções de consultoria na gestão futura de Vilamoura.

Francisco Sottomayor, CEO da Norfin, em entrevista ao Público Imobiliário, admite que este negócio foi a materialização de um antigo “namoro”, com “vários episódios”, que agora viu reunidas as condições para a sua concretização, nomeadamente a disponibilidade de capital para fazer a operação num mercado que a empresa vê com muito potencial. “É um tema que estava no horizonte da Norfin, que sempre olhou para este ativo com muito interesse”.

Segundo este responsável, o setor turístico é o único setor do imobiliário onde a Norfin não tem uma experiência passada relevante. No entanto, salienta que Vilamoura tem uma componente na qual a esta sociedade tem particular conhecimento de mercado, ao ser um projeto de promoção imobiliária.

A gestão portuguesa da Vilamoura (Lusotur), que gere a marina, o centro equestre, o parque ambiental e o núcleo museológico do Cerro da Vila, vai desenvolver o projeto de expansão já aprovado pelas autoridades nacionais. “Este é um projeto muito importante para nós que representa um investimento essencial para o Algarve, numa altura em que o país e a economia ainda tentam recuperar dos fortes impactos provocados pela pandemia”, acrescenta Francisco Sottomayor.

Central Vilamoura
Central Vilamoura


O objetivo é desenvolver o projeto

O negócio, cujos valores envolvidos nunca foram oficialmente divulgados, inclui a aquisição da marina de Vilamoura, a maior e mais premiada marina de Portugal e uma das maiores da Europa, com 825 postos de amarração, um estaleiro totalmente equipado e um centro de treino profissional de vela.

A transação integra também o centro equestre, um dos maiores e melhores da Europa, com quatro arenas, das quais três em areia e uma em relva, capacidade para receber em permanência 870 cavalos em boxes individuais, sendo anualmente palco do Vilamoura Atlantic Tour e do Vilamoura Champions Tour, provas emblemáticas que selecionam equipas para os Jogos Olímpicos e mundiais de obstáculos.

Os novos proprietários ficam, também, na posse do parque ambiental com 200 hectares de área protegida e que será totalmente reabilitado, bem como do núcleo museológico do Cerro da Vila, que integra 5.000 anos de história, com especial incidência para a ocupação romana da Península Ibérica.

Na conversa com o Público Imobiliário, João Brion Sanches, que será o novo CEO da Vilamoura (Lusotur), salientou que o objetivo dos investidores é desenvolver o produto imobiliário, e não vender lotes. “Isso está claríssimo e resulta do facto de vermos este projeto a médio-longo prazo. Um projeto de investidores portugueses que estão para ficar o tempo que for preciso. Estamos aqui para colocar Vilamoura no que achamos ser o patamar que merece, pela sua localização e qualidade de ativos. Desde a famosa marina – que é uma concessão nossa, assim como a praia e parque de estacionamento –, passando pelos lotes que, não sendo nossos, têm um papel relevante em Vilamoura. Da mesma forma, podemos falar do centro equestre, ao qual gostaríamos de conferir um perfil mais alto e, por fim, o imobiliário que vai resultar disto tudo e que pretendemos seja de um nível superior ao que tem acontecido no passado”.

Central Vilamoura
Central Vilamoura


Ecologia e sustentabilidade

O objetivo final, nas palavras de João Brion Sanches, é transformar de novo Vilamoura numa empresa com capacidade interna de loteamento, licenciamento, desenho e definição de produto, construção, venda e pós-venda. “E até, em alguns casos, chegar ao arrendamento e gestão de serviços. Temos uma perspetiva estratégica de que o projeto, para ter a qualidade de imobiliário que queremos, tem de ser muito bem desenhado, indo ao encontro das necessidades do mercado ou, até, estar um pouco à frente. Mas, depois, também construir e até entrar na perspetiva de gestão imobiliária de arrendamento e preocupações com jardins, piscinas, etc.”. João Brion Sanches reitera a intenção de este ser um projeto de qualidade e sustentabilidade, “não indo contra a natureza, mas aproveitando-a, com um paisagismo que respeita a realidade do espaço e com uma construção ambientalmente equilibrada”, nomeadamente projetado com materiais sem ligações à geração de carbono e soluções energéticas mais verdes. “Basicamente, indo ao encontro do que o mercado quer e o mercado alto tem essas preocupações”.

João Brion Sanches
João Brion Sanches


Traçar um novo rumo

Francisco Sottomayor corrobora a opinião de João Brion Sanches e acrescenta que nos últimos 10 anos não houve propriamente um rumo traçado ou alguém a pensar o destino de Vilamoura de uma forma integrada. “A nossa visão é devolver a este destino aquilo que achamos que ele merece: ser o melhor destino de investimento, lazer e habitação do Algarve. As infraestruturas estão cá, agora acreditamos ser necessário aportar produto com alguma diferenciação e qualidade, o que não tem existido”.

Miguel Palmeiro, membro da comissão executiva e responsável pela área comercial, admite que o objetivo para Vilamoura é ter um misto de a procura nacional e internacional. “Até porque Vilamoura será cada vez mais o destino de eleição para ‘workaction’ ou seja, uma mistura de ‘work’ com ‘vacacion’, quer nacional quer internacional”.

Francisco Sottomayor salientou ainda ao Público o equilíbrio que este projeto terá entre produto residencial e turístico, havendo por isso um conjunto de lotes para hotéis e alojamento turístico em vários regimes. “Já durante o próximo ano vamos avançar com alguns projetos, até porque estamos motivados pelo facto de esse produto turístico ainda poder ser integrado para o golden visa, enquanto o produto residencial deixa de o ser”. Segundo o CEO da Norfin há, por isso, espaço para novos hotéis.