Luis Lima
Luis Lima
Presidente da APEMIP

Adeus, Almeida Henriques

07/04/2021

Por vezes, há políticos que se cruzam no nosso caminho que, apesar de estarem naturalmente associados aos partidos e às ideologias que representam, conseguem evidenciar-se e descolar-se destas para olhar a realidade e trabalhar em prol da causa maior que defendem.

Almeida Henriques foi um destes homens. Também ele dedicou parte da sua vida ao Associativismo, o que talvez lhe tenha permitido uma envolvência e um conhecimento da realidade das pessoas, que por vezes passa ao lado de quem faz política exclusivamente a partir do seu Gabinete.

Tive oportunidade de o conhecer enquanto desempenhava o cargo de Secretário de Estado Adjunto da Economia e do Desenvolvimento, num momento em que o País atravessava uma grave crise económica e social, bem no pico daquele dramático período em que todos os dias engrossava o número de imóveis entregue em dação em pagamento pelas famílias portuguesas.

Defendia eu, nesta altura, que era fundamental privilegiar a renegociação dos contratos de crédito à habitação em detrimento da entrega de casas à banca, tema que com ele debati em audiência: concordámos que momentos excecionais exigiam medidas excecionais, e que o Estado tinha por isso a obrigação de proteger as famílias em maiores dificuldades de um certo canibalismo do sector financeiro.

Almeida Henriques era um amigo do imobiliário, no geral. Também ele olhava para este mercado como estratégico para o desenvolvimento económico do País, sendo um defensor daquele que era o verdadeiro desígnio nacional para o sector à data: a Reabilitação Urbana e o Arrendamento Urbano, dos quais foi também uma espécie de embaixador, como aliás tive oportunidade de confirmar num Seminário promovido pela APEMIP em 2013, no âmbito da Semana da Reabilitação Urbana do Porto.

Concordávamos que a Reabilitação Urbana era um projeto que não podia mais ser adiado, pelas dinâmicas que poderia trazer ao sector que, à data, atravessava problemas graves, nomeadamente no que dizia respeito ao desemprego e à capacidade de sobrevivência das empresas. Sabíamos que o Arrendamento Urbano e o Turismo Residencial beneficiariam destas vantagens e que serviriam também como uma força motriz da própria Economia, o que efetivamente veio a acontecer.

Enquanto Governante, foi ainda um dos impulsionadores do lançamento de programas de política públicas como o Revitalizar ou o Valorizar, e da reprogramação da execução do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), cujos benefícios são inegáveis no panorama económico nacional.

Acompanhei depois o seu percurso enquanto autarca no Município de Viseu, e a sua acérrima luta e defesa por esta região.

Nesta despedida que acontece muito mais cedo do que deveria, fica assim esta homenagem e agradecimento a um homem que, no seu percurso, sempre abraçou a causa pública regendo-se pela defesa de um dos nossos maiores bens: a democracia.