Francisco Campilho
Francisco Campilho
Presidente da Comissão Executiva da VICTORIA Seguros

E agora 2022?

30/03/2022

Estas tendências vinham juntar-se a outras também abordadas, como o valor dos imóveis e a sua localização. No entanto, depois da invasão da Ucrânia a 24 de fevereiro, todos estes fatores que influenciam os mercados da promoção e do investimento imobiliário passaram a ser impactados pelo eclodir de uma guerra que se trava à distância de algumas autoestradas.

Esta nova realidade, nunca antecipada, veio agravar tendências que já estavam presentes numa economia mundial ainda a tentar recuperar a normalidade após dois anos de pandemia e confinamentos variados. O aumento dos preços da energia, a escassez de recursos e as quebras das cadeias logísticas vieram agravar os indicadores de inflação. Deste aumento resultou uma antecipação do fim de um ciclo de taxas de juro baixas. Por outro lado, a incerteza gerada pelo conflito veio impactar os mercados bolsistas, assim como muitas decisões de investimento. Como referi anteriormente, não são questões novas, mas verificou-se uma forte aceleração de todos estes fatores e das suas consequências, neste último mês.

A incerteza quanto à duração e agravamento do conflito vão continuar a trazer instabilidade aos mercados. No entanto, podemos, desde já, identificar também algumas certezas. Se a pandemia veio revelar a dependência industrial dos países do ocidente, este conflito conseguiu abalar as estratégias de aprovisionamento de energia. Enquanto se discute quais as novas geometrias de fornecimento de gás e petróleo da União Europeia (EU), a sustentabilidade torna-se mais relevante do que nunca. Esta é uma das respostas possíveis à situação em que nos encontramos.

Em resposta aos regulamentos da EU sobre investimentos que têm critérios ESG (ambiente, social e governação) os vários países têm vindo a (re)desenhar estratégias no sentido de promover uma economia mais sustentável e responsável. É o caso de França, com a Regulamentação Ambiental 2020, também conhecida por RA 2020, que entrou em vigor a 1 de janeiro deste ano para as novas construções. Esta regulamentação vem inicialmente dirigir-se aos novos edifícios do segmento residencial (moradias ou edifícios de apartamentos) cujo pedido de licenciamento seja apresentado após esta data. Este novo regulamento tem três objetivos principais: a sobriedade energética dos edifícios, a redução da pegada de carbono e o conforto de verão durante as ondas de calor. O RA 2020 é encarado pelo setor da construção francesa como um grande desafio para os próximos anos. Os objetivos são claros (apesar de haver ainda alguma discussão no setor sobre a sua implementação) e respondem a muitas das questões de futuro, não só do setor, mas também da economia em geral. E constituem um bom exemplo que poderá ser analisado, detalhado e seguido.

A situação que vivemos, há mais de um mês, veio, entre outras, reclamar uma resposta energética adequada e sóbria a que os setores da promoção e do investimento imobiliário não deixarão, por decerto, de corresponder.