Luis Lima
Luis Lima
Presidente da APEMIP

Ano Novo com reservas

06/01/2021

O ano passado fechou com a divulgação dos dados oficiais das vendas de casas entre janeiro e setembro, tendo-se registado uma quebra de 7,7% face a igual período do ano anterior.

Das 122 066 vendas, 45 136 decorreram no terceiro trimestre, o que poderá ter dado uma falsa noção de melhoria do sector imobiliário pelo registo de um crescimento de 35,1% face ao trimestre anterior. No entanto, aquele período correspondia ao primeiro Estado de Emergência e ao momento de confinamento que, como se sabe, impediu a realização de muitos negócios, que acabaram assim por se transferir para o terceiro trimestre.

Ainda assim, podemos aferir que o imobiliário português conseguiu revelar muita resiliência, apoiada exclusivamente no mercado interno onde a procura se manteve elevada, até pela ausência de verdadeiras alternativas no mercado de arrendamento.

Mas não se pense que foi imune à crise pandémica. Não foi, e isso reflete-se bem na quebra revelada, que vai contra a expetativa existente no início do ano passado de que o mercado manteria a sua rota de crescimento.

É expectável também que os números do quarto trimestre não sejam animadores, pois estarão espelhadas as incertezas decorrentes da segunda vaga pandémica, que terão decerto impacto no número de negócios efetuados e irão espelhar o sentimento que as imobiliárias têm revelado de que o mercado começou a arrefecer a partir de setembro, motivado pelo novo ciclo de incerteza trazido pela segunda vaga, que afetou a confiança dos potenciais compradores e resultou no adiamento da decisão da compra de casa.

Para este ano que agora se inicia, temos algum otimismo, mas também muitas reservas.

É difícil antecipar cenários num panorama de absoluta incerteza como o que ainda vivemos. A sanidade do mercado imobiliário dependerá muito da celeridade da vacinação e dos seus efeitos no controle da pandemia, bem como do impacto que o fim das moratórias de crédito poderá ter no mercado imobiliário. Sabemos também que, mais cedo ou mais tarde, a instabilidade económica e laboral terá reflexos naturais na procura e nas transações, que deverá começar a travar.

Manter-se-á igualmente o repto da resolução dos problemas habitacionais para a classe média e média baixa, que continuam sem conseguir encontrar no mercado oferta à medida das suas necessidades e possibilidades.

Tendo tudo isto em conta, sabemos que o ano que nos espera será decerto desafiante, motivo pelo qual o mercado deve estar muito atento e cauteloso. A esperança que nos traz não nos permite baixar os braços.