Luís Lima
Luís Lima
Presidente da APEMIP

As moratórias também são ventiladores

29/04/2020

Alertei para a necessidade de haver por parte do Estado, uma ação efetiva junto do sector financeiro, para que a Banca assumisse um papel de ajuda e não de aproveitamento face a eventuais situações de incumprimento, motivadas pelas dificuldades as empresas e famílias em assumir os seus compromissos no pagamento de prestações de crédito.

Atendendo a estas solicitações o Governo emitiu uma regulamentação para a atribuição das moratórias, que acabou por se revelar insuficiente, quer pelos tipos de crédito previstos, quer pelos requisitos de acesso.

No entanto, a generalidade do sector financeiro foi mais além, disponibilizando medidas acessórias às regulamentadas, por forma a facilitar os pagamentos de empréstimos por empresas e particulares.

Esta flexibilidade por parte das instituições bancárias é essencial e deve ser saudada por todos nós, pois finalmente, vimos por parte destes uma ação que vai no sentido de permitir algum alívio no orçamento das famílias e empresas, evitando um incumprimento que seria mau para todas as partes, inclusive para a própria banca, pela eventual necessidade do aumento de provisões.

Metaforicamente falando, estas moratórias são como os ventiladores que hoje tão necessários se tornam perante a situação pandémica que vivemos. Se estivermos infetados, poderão ser a nossa salvação. Ainda que não salvem toda a gente ajudarão decerto alguns a conseguir sobreviver.

Muitos se questionaram o porquê da insistência do Presidente da APEMIP sobre esta questão das moratórias. Para além da óbvia necessidade que as famílias e as empresas portuguesas revelaram neste período, e que é facilmente confirmada pelos milhares pedidos que os bancos tiveram para aceder às mesmas, evitaram-se desta forma situações de incumprimento no pagamento de créditos à habitação e consequentemente tentativas de desvalorização do património imobiliário, que alguns fundos que apelido de “abutres”, estão à espera de ver acontecer para atacar a qualquer momento.

Mas não há nenhuma justificação para tal nem para voltarmos a ter aberturas de telejornal com os números dramáticos das entregas de imóveis em dação em pagamento.

Hoje a nossa realidade é diferente. A par de alguns naturais reajustes a alguns preços que estavam especulados, em particular nos centros das principais cidades, não há motivo para assistir às descidas acentuadas de preços que vimos no passado.

Atualmente não há excesso de stock, nem os níveis de endividamento a que assistimos no período da Troika. Os abutres podem e devem ir sobrevoar outras áreas, porque por aqui não há nenhum motivo para esperar a decomposição do nosso imobiliário.